sexta-feira, 17 de junho de 2022

Claudia Safatle: Recessão no mundo é problema para 2023

Valor Econômico

Inflação e taxas de juro elevadas são dificuldades a serem enfrentadas neste ano

Inflação e taxa de juros altas são problemas para este ano. Forte desaceleração da economia, com possível recessão, é problema para 2023, seja para as economias centrais, seja para o Brasil. Nesta semana o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic para 13,25% ao ano, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) elevou os juros em 0,75 pontos-base e o Banco Central Europeu (BCE), em uma atitude rara, convocou uma reunião de emergência para discutir a situação de países com dívidas muito elevadas, cujos juros dos títulos dispararam.

Com o aperto monetário vindo sem anestesia, aumenta a discussão sobre uma provável recessão mundial. Trata-se, agora, de saber se o piloto conseguirá, na velocidade em que se encontra, frear sem capotar. Há riscos, mas ainda é cedo para garantir que este é um cenário inevitável. Haverá, isto sim, uma forte desaceleração nas taxas de crescimento das economias americana e europeia e o mundo puxará o crescimento do Brasil para baixo.

Tudo que os bancos centrais gostariam é de ver uma desaceleração em 2023, suficiente para quebrar a trajetória crescente da inflação, voltando para o crescimento econômico em 2024. Se for assim, fica ociosa a conversa sobre uma estagflação, que pressupõe inflação alta e recessão por um período mais prolongado.

É mais difícil conter a inflação em um mundo onde houve, em meio à pandemia da covid-19, uma ruptura das cadeias globais de produção seguida de uma guerra em que aumentou a desconfiança global de se fazer negócios com países que não têm tradição de amizade. Há, nesse aspecto, duas questões. A primeira, conjuntural, refere-se ao fato de que houve um aumento da demanda por bens e a oferta parou de crescer. Isso tende a se normalizar, desde que prevaleça a percepção de que a pandemia está terminando como uma doença mais comum. Se isso se confirmar, as consequências econômicas vão diminuir, assim como os danos decorrentes da ruptura das cadeias globais de produção.

Mas tem uma parte dessa ruptura que é geopolítica, decorre da briga entre os Estados Unidos e a Rússia, em meio à guerra com a Ucrânia, o receio com a China. A desconfiança global aumentou e dissemina-se a ideia de que é mais seguro fazer negócios apenas com os países amigos. Esse é um fenômeno mais longo, com uma fragmentação maior do mundo mais à frente. Não se sabe, porém, se isso vai virar uma tendência, com os Estados Unidos, por exemplo, negociando mais com o México e menos com a China.

O Brasil vai crescer este ano mas, no próximo exercício a economia mundial vai puxar a economia brasileira para baixo justamente quando a política monetária conduzida pelo Banco Central deverá se manter no terreno contracionista.

Há, também, outras questões relevantes que estão na dependência do BC, tal como a decisão sobre se o Comitê de Política Monetária (Copom) vai operar, ao longo do próximo ano, sob o regime de meta “ajustada”.

Isso já aconteceu outras vezes sob o regime de metas para a inflação. É quando a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) fica irrealista, dadas as condições objetivas, e então ajusta-se o processo de desinflação para que ele ocorra com base em novo cronograma.

A discussão começou entre economistas do setor privado. Isso porque com a inflação acumulada em 12 meses na casa dos 11,7%, fica bem mais difícil o Banco Central perseguir, em 2023, a meta de inflação de 3,25%, com uma banda de flutuação de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Conforme definido pelo CMN, o teto para a inflação do ano que vem é, portanto, de 4,75%.

Para um ex-presidente do BC, não há uma solução boa nesse caso, pois se a meta de 3,25% é considerada ambiciosa demais, perde-se a referência; mas ao optar-se por uma meta ajustada perde-se um pouco da “âncora”. Se, mesmo ambiciosa ela for considerada uma meta factível, sendo possível, por exemplo, chegar-se a uma inflação próxima da meta, é melhor mantê-la mesmo que o presidente do BC tenha que escrever carta aberta ao ministro da Fazenda explicando porque ocorreu tal desvio.

A última pesquisa Focus, atualizada para a reunião do Copom, indica que a expectativa do mercado é de que a inflação encerra este ano em 8,5%, cai para 4,7% em 2023 e encontra-se com a meta de 3,25% no ano seguinte.

Se, ao contrário, as projeções de inflação estivessem bem distantes da meta para o próximo ano, segundo essa experiente fonte que prefere o anonimato, o melhor seria partir para uma meta ajustada.

Tal situação se assemelha à discussão sobre quando Ilan Goldfajn assumiu a presidência do BC, no governo de Michel Temer. Naquela ocasião também surgiu o debate sobre se valeria a pena trabalhar-se com uma meta ajustada, mas Ilan optou por manter a meta pois a economia já estava em recessão e a inflação estava com grandes chances de cair até porque tinha mudado o governo e as expectativas eram de queda.

É nesse cenário, de o mundo e o Brasil em provável recessão no ano que vem, que assume o novo governo que será eleito em outubro próximo.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Se Lula for eleito vai pegar um País destruído em todas as áreas.