domingo, 26 de junho de 2022

Guto Rodrigues: O chorão do Paulo Diniz e a política cultural do Alzheimer

Eu tinha 14 pra fazer 15 anos no século passado no ano de 1966, a copa do mundo foi um nocaute, fomos a lona, nossa seleção caiu pra Eusébio de Portugal, e a garotada da Ferreira Pena chorou pelo fracasso de Pelé e Garrincha. Só em dezembro, na decisão do carioca, pautamos o futebol, na decisão de Flamengo x Bangu. Nosso professor Alfredo sintonizou o rádio com muito chiados, ouvimos a Rádio Globo narrar os 3 a 0 do Bangu, com gols de Ocimar, Aladim e Paulo Borges. O jogo teve um desfecho de muita porrada, iniciada pelo ALMIR do Flamengo.  O narrador cantava ah, ah, ah como chora esse rapaz. Música "o chorão " de Paulo Diniz (cantor e compositor pernambucano). Era um insulto aos flamenguistas, nossa pelada pós jogo também acabou em briga, quando o nosso time entoou o chorão do Paulo Diniz." É demais, é demais como chora esse rapaz".

O Bangu se tornava o primeiro time fora do G4 carioca a ser campeão e conhecemos Paulo Diniz, um negro cantando e fazendo sucesso no ye, ye, ye que tinha em seu elenco, só garotos brancos. Dançamos nos bailes do Olímpico, Bancrevea, CHEIK CLUBE as canções um Chopp pra distrair e Pingos de Amor que embalaram o nosso romantismo. Sua composição "eu quero voltar pra Bahia" e "debaixo dos Caracóis dos seus cabelos "de Roberto e Erasmo Carlos faziam alusão ao exílio do ídolo tropicalista Caetano Veloso. Sensibilizava-me, pois eu era adepto com Paulo Graça, do grupo baiano. Após a edição do AI 5, em 1968, houve perseguição a artista, políticos e intelectuais. A ditadura forçou o exílio de Caetano e Gil, em Londres. Em Manaus, após a queda de líderes sindicais e estudantes, segui, no início nos anos 1973 a 1975, numa clandestinidade, depois de ser interrogado no exército, para Rio de Janeiro. Cantei nos bares entre muitas canções, morando no Estácio com meu amigo, também clandestino o ator e poeta Luiz Carlos Gomes Bahia: Vou-me embora e quero voltar pra Bahia, na verdade soava como um mantra de saudade. Quero voltar pra Manaus.

Recebi a notícia da partida de Paulo Diniz, através do amigo poeta livreiro o Lé, do sebo Alienista, e impactado, pois recentemente Enne Rodrigues (cantora), minha mulher, ouviu o como? do Paulo Diniz e me perguntou se ele ainda era vivo, pois gostava das melodias dele, falei que não tinha certeza. Sabia que sofrera um AVC há alguns anos e era cadeirante.

Hoje temos uma política cultural do Alzheimer, Um governo insano que insiste em apagar a boa arte, a boa música a literatura, o teatro, o cinema e despreza a tradição a cultura e incita assassinatos e crimes hediondos a ambientalistas (Bruno e Phillips). Paulo Diniz, como tantos outros artistas, foram lançados ao ostracismo e são vítimas dessa política que despreza os nosso valores mais edificantes. 

Quando musicou o José de Drummond, achei desnecessário pois o poema expressa uma melodia e cadencia próprias, hoje vejo que foi importante tornou o poema mais conhecido. E na sua partida vem na minha mente, a sua voz rouca: Você marcha José. José para onde?

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

A melhor gravação de Paulo Diniz é justamente o ''José'' de Drummond.

Anônimo disse...

Viva Guto Rodrigues 👏👏👏