terça-feira, 5 de julho de 2022

Andrea Jubé: Embate no Sul evoca chimangos e maragatos

Valor Econômico

Há um mês, o MDB resiste a apoiar Eduardo Leite no Rio Grande do Sul

Na política, o que se diz, não se escreve. Faz exatamente um mês que o presidente do PSDB, Bruno Araújo, alertou que se as pendências com o MDB não fossem resolvidas, a aliança nacional entre ambos subiria no telhado.

“Se não acontecer na quarta-feira [o apoio do MDB], na quinta, o partido decidirá em candidatura própria”, advertiu, no dia 5 de junho, em entrevista à “GloboNews”.

Na ocasião, Araújo ponderou que esperava “reciprocidade” do MDB nos Estados após a retirada da postulação presidencial do ex-governador João Doria e frisou um palanque: “De modo especial, o Rio Grande do Sul.” Os tucanos pleiteavam a retirada da candidatura do MDB ao governo para apoiar Eduardo Leite e garantir vitrine ao presidenciável do PSDB para 2026.

Pois cinco dias depois da entrevista, a Executiva ampliada do PSDB, contabilizando votos de deputados e senadores, aprovaria a aliança nacional da legenda com o MDB, em apoio à pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à Presidência.

O desdobramento dos fatos mostraria que o voto de abstenção de um cético Nelson Marchezan Júnior (vice-presidente do PSDB e ex-prefeito de Porto Alegre) seria quase visionário.

Um mês depois, a aliança entre MDB e PSDB em Estados onde, segundo Araújo, o mesmo enlace nacional seria “importante acontecer”, caminha para não se concretizar em nenhum deles.

No Mato Grosso do Sul, o pré-candidato do PSDB ao governo Eduardo Riedel, aliado da ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP), dará palanque ao presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, em sua base eleitoral, Tebet não terá apoio dos tucanos. Mas o MDB tem um concorrente de fôlego, bem colocado nas pesquisas: o ex-governador André Puccinelli.

Já em Pernambuco, reduto político de Bruno Araújo, MDB e PSDB também não caminharão juntos. O PSDB lançou a candidatura ao governo da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, que dará palanque a Tebet no Estado. Mas o MDB marchará com o PSB, que está com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No Rio Grande do Sul, o MDB gaúcho garante o palanque a Simone Tebet e apoiará a emedebista na convenção nacional. Contudo, um mês depois da ameaça do dirigente tucano, não retirou a pré-candidatura do ex-presidente da Assembleia Legislativa Gabriel Souza ao Palácio Piratini. O projeto do PSDB era transformar Souza em vice de Leite.

Nos bastidores, aliados de Souza afirmam que ele não vai retirar a candidatura e enumeram motivos para essa resiliência. O primeiro argumento é de que a postulação ao governo do MDB no Estado é uma tradição: das nove eleições realizadas até agora, após a redemocratização do país, o MDB esteve em todas elas e elegeu quatro governadores: Pedro Simon, Antônio Britto, Germano Rigotto e José Ivo Sartori.

Outra alegação é de que embora Souza não esteja na frente nas pesquisas, ele tem potencial para crescer com a máquina emedebista no Estado. Quem aparece na dianteira é Leite, em empate técnico com o ex-ministro do Trabalho Onyx Lorenzoni (PL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Lideranças emedebistas gaúchas ponderam que o Rio Grande do Sul é o Estado onde o MDB tem, proporcionalmente, o maior número de prefeitos e de vereadores. É com base nessa máquina que o diretório gaúcho tem o maior número de votos na convenção nacional que vai sacramentar a postulação de Tebet ao Planalto: são 45 votos do MDB gaúcho, seguidos de 36 votos do MDB mineiro e 35 votos do diretório paulista.

Outra observação é de que Leite teria largado na frente nas pesquisas amparado na boa avaliação com que deixou o governo, mas esse favoritismo seria circunstancial.

Isso porque Leite ainda não foi confrontado com o descumprimento da promessa de que não seria candidato à reeleição. Essa declaração deu-se no contexto de um Estado que tem a tradição de não reeleger governadores e de punir com rigor o político que não honra a palavra.

Leite, entretanto, além de liderar as pesquisas, selou uma aliança valiosa: o apoio do União Brasil, que tem o maior fundo eleitoral entre os partidos, e ainda espera o MDB.

Em contrapartida, os gestos de ambos os lados sugerem muito mais o caminho da independência. PSDB e MDB disputam o apoio do PSD, que tem duas lideranças de expressão nacional no Estado: a ex-senadora Ana Amélia e o deputado federal Danrlei.

Ontem a direção do MDB gaúcho se reuniu com a cúpula do PSD para reiterar o convite para que Ana Amélia concorra ao Senado na chama emedebista. Ela recebeu o mesmo convite da direção tucana. Em paralelo, o MDB flerta com o PDT. Uma possibilidade é que o ex-deputado Vieira da Cunha seja o candidato a vice na chapa emedebista.

Uma ressalva, no caso do MDB, é que o diretório gaúcho está dividido: uma ala ainda defende o apoio ao PSDB de Leite, encabeçada pelo ex-governador Germano Rigotto - um dos coordenadores da campanha de Simone Tebet e responsável pelo programa de governo.

O presidente do MDB do Rio Grande do Sul e prefeito de Rio Grande, Fábio Branco, disse à coluna que o diretório gaúcho, no domingo, vai tomar a decisão “que for melhor para o Estado e melhor para o partido”. Se a opção for pela candidatura própria, Branco não acredita que o presidente do MDB, Baleia Rossi, faria uma intervenção no diretório gaúcho. “Nossa relação é respeitosa, não temos litígio”.

A história recomenda voltar os olhos para o Rio Grande do Sul. Com licença poética, o embate PSDB-MDB evoca a luta pelo poder no Estado entre chimangos, de lenços brancos, e maragatos, de lenços vermelhos. A batalha completará 100 anos em 2023.

O embate colocaria fim ao governo de Borges de Medeiros. Quem o sucedeu foi Getúlio Vargas. E por ironia, dois anos depois, ele assumiria a Presidência da República pela Revolução de 1930.

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