Há
um mês, o MDB resiste a apoiar Eduardo Leite no Rio Grande do Sul
Na
política, o que se diz, não se escreve. Faz exatamente um mês que o presidente
do PSDB, Bruno Araújo, alertou que se as pendências com o MDB não fossem
resolvidas, a aliança nacional entre ambos subiria no telhado.
“Se
não acontecer na quarta-feira [o apoio do MDB], na quinta, o partido decidirá
em candidatura própria”, advertiu, no dia 5 de junho, em entrevista à
“GloboNews”.
Na
ocasião, Araújo ponderou que esperava “reciprocidade” do MDB nos Estados após a
retirada da postulação presidencial do ex-governador João Doria e frisou um
palanque: “De modo especial, o Rio Grande do Sul.” Os tucanos pleiteavam a
retirada da candidatura do MDB ao governo para apoiar Eduardo Leite e garantir
vitrine ao presidenciável do PSDB para 2026.
Pois
cinco dias depois da entrevista, a Executiva ampliada do PSDB, contabilizando
votos de deputados e senadores, aprovaria a aliança nacional da legenda com o
MDB, em apoio à pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à Presidência.
O
desdobramento dos fatos mostraria que o voto de abstenção de um cético Nelson
Marchezan Júnior (vice-presidente do PSDB e ex-prefeito de Porto Alegre) seria
quase visionário.
Um mês depois, a aliança entre MDB e PSDB em Estados onde, segundo Araújo, o mesmo enlace nacional seria “importante acontecer”, caminha para não se concretizar em nenhum deles.
No
Mato Grosso do Sul, o pré-candidato do PSDB ao governo Eduardo Riedel, aliado
da ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP), dará palanque ao presidente
Jair Bolsonaro. Ou seja, em sua base eleitoral, Tebet não terá apoio dos
tucanos. Mas o MDB tem um concorrente de fôlego, bem colocado nas pesquisas: o
ex-governador André Puccinelli.
Já
em Pernambuco, reduto político de Bruno Araújo, MDB e PSDB também não
caminharão juntos. O PSDB lançou a candidatura ao governo da prefeita de
Caruaru, Raquel Lyra, que dará palanque a Tebet no Estado. Mas o MDB marchará
com o PSB, que está com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No
Rio Grande do Sul, o MDB gaúcho garante o palanque a Simone Tebet e apoiará a
emedebista na convenção nacional. Contudo, um mês depois da ameaça do dirigente
tucano, não retirou a pré-candidatura do ex-presidente da Assembleia
Legislativa Gabriel Souza ao Palácio Piratini. O projeto do PSDB era
transformar Souza em vice de Leite.
Nos
bastidores, aliados de Souza afirmam que ele não vai retirar a candidatura e
enumeram motivos para essa resiliência. O primeiro argumento é de que a
postulação ao governo do MDB no Estado é uma tradição: das nove eleições
realizadas até agora, após a redemocratização do país, o MDB esteve em todas
elas e elegeu quatro governadores: Pedro Simon, Antônio Britto, Germano Rigotto
e José Ivo Sartori.
Outra
alegação é de que embora Souza não esteja na frente nas pesquisas, ele tem
potencial para crescer com a máquina emedebista no Estado. Quem aparece na
dianteira é Leite, em empate técnico com o ex-ministro do Trabalho Onyx
Lorenzoni (PL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Lideranças
emedebistas gaúchas ponderam que o Rio Grande do Sul é o Estado onde o MDB tem,
proporcionalmente, o maior número de prefeitos e de vereadores. É com base
nessa máquina que o diretório gaúcho tem o maior número de votos na convenção
nacional que vai sacramentar a postulação de Tebet ao Planalto: são 45 votos do
MDB gaúcho, seguidos de 36 votos do MDB mineiro e 35 votos do diretório
paulista.
Outra
observação é de que Leite teria largado na frente nas pesquisas amparado na boa
avaliação com que deixou o governo, mas esse favoritismo seria circunstancial.
Isso
porque Leite ainda não foi confrontado com o descumprimento da promessa de que
não seria candidato à reeleição. Essa declaração deu-se no contexto de um
Estado que tem a tradição de não reeleger governadores e de punir com rigor o
político que não honra a palavra.
Leite,
entretanto, além de liderar as pesquisas, selou uma aliança valiosa: o apoio do
União Brasil, que tem o maior fundo eleitoral entre os partidos, e ainda espera
o MDB.
Em
contrapartida, os gestos de ambos os lados sugerem muito mais o caminho da
independência. PSDB e MDB disputam o apoio do PSD, que tem duas lideranças de
expressão nacional no Estado: a ex-senadora Ana Amélia e o deputado federal
Danrlei.
Ontem
a direção do MDB gaúcho se reuniu com a cúpula do PSD para reiterar o convite
para que Ana Amélia concorra ao Senado na chama emedebista. Ela recebeu o mesmo
convite da direção tucana. Em paralelo, o MDB flerta com o PDT. Uma
possibilidade é que o ex-deputado Vieira da Cunha seja o candidato a vice na
chapa emedebista.
Uma
ressalva, no caso do MDB, é que o diretório gaúcho está dividido: uma ala ainda
defende o apoio ao PSDB de Leite, encabeçada pelo ex-governador Germano Rigotto
- um dos coordenadores da campanha de Simone Tebet e responsável pelo programa
de governo.
O
presidente do MDB do Rio Grande do Sul e prefeito de Rio Grande, Fábio Branco,
disse à coluna que o diretório gaúcho, no domingo, vai tomar a decisão “que for
melhor para o Estado e melhor para o partido”. Se a opção for pela candidatura
própria, Branco não acredita que o presidente do MDB, Baleia Rossi, faria uma
intervenção no diretório gaúcho. “Nossa relação é respeitosa, não temos
litígio”.
A
história recomenda voltar os olhos para o Rio Grande do Sul. Com licença
poética, o embate PSDB-MDB evoca a luta pelo poder no Estado entre chimangos,
de lenços brancos, e maragatos, de lenços vermelhos. A batalha completará 100
anos em 2023.
O embate colocaria fim ao governo de Borges de Medeiros. Quem o sucedeu foi Getúlio Vargas. E por ironia, dois anos depois, ele assumiria a Presidência da República pela Revolução de 1930.
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