{...} em vez de sonhar com falsas “responsabilidades” políticas, deviam refletir fundo sobre a parte de culpa que lhe cabe da guerra e de outras misérias humanas, quer por sua atuação, por sua omissão ou por seus maus costumes. Este seria provavelmente o único meio de se evitar uma próxima guerra (Herman Hesse).
Não se pode comprar nada desses sujeitos que transitam de maneira antipedagógica pela campanha eleitoral, promovidos religiosa e artificiosamente a salvadores da Pátria, e que se equilibram entre os interesses pessoais inconfessáveis e os chamados direitos coletivos inalienáveis.
Menosprezado ideologicamente, Hermann Hesse advertia que qualquer tentativa de substituir a consciência pessoal pela consciência coletiva é uma violência sobre o cidadão, e o primeiro passo para o totalitarismo. E de maneira semelhante, o filósofo chinês Confúcio observava que quando as palavras perdem o significado real, as pessoas estão abrindo mão de suas liberdades. E Nietsche ponderava: Nada é tão nosso, quanto os nossos sonhos.
Desatentos a premissa como essas, presentes e vulgarizadas no cotidiano, lemos indiferentes Putin afirmando que os ucranianos são russos, assim como os georgianos, a Ossétia, a Abcássia, a Chechênia, a Lituânia. Leviandades etnográficas contra populações, usadas para acobertar frustrações e ambições pessoais. O mesmo sentido está contido na fala de Xi Jinping, em Hong Kong, repetida, que só quer patriotas (chineses). E, alguém escreve entusiasticamente que uma "nova safra" de esquerda aponta para a retomada da integração Sul Americana, deduzindo-se, por antecipação, que a "safra de direita" é a alma desintegração.
Assim, falsos profetas vão incorporando diversos sentidos a uma única palavra (sinestesia)e, com elas, semantizações políticas e ideológicas introduzidas em uma única direção. Algumas são instrumentalizadas com estatísticas, como a do retorno de Lula; ou mesmo declarações insanas do atual Presidente do Brasil.
É um bombardeio discursivo carregado de sentidos pessoais, ideológicos, cheios de más intenções, conduzido, no dia a dia, num processo de fanatização da audiência, por milhares de televisões, jornais, de revistas, de conferências, reuniões públicas ou secretas pisando na mesma tecla. São inspirados no vácuo da incompetência, da má fé ou da anomia dos cidadãos, propondo-se a unificar o pensamento, a cultura e as identidades no mundo. A China, por exemplo, está assentada sobre 50 etnias e línguas. Todos os líderes querem mais, seja no sentido territorial, no econômico, cultural seja de uma perspectiva performática narcisista. Não importa os métodos, nem as vidas civis que serão ceifadas: a morte de muitos é uma estatística.
Em um cenário
como esse "[...] é difícil fazer reformas econômicas no Brasil", observa o
pesquisador do INSPER (Instituto de Ensino e Pesquisa), Marcos
Mendes. "[...} Só se tornarão desenvolvidas as
sociedades que conseguirem forjar a coesão social, induzirem uma mentalidade
orientada para o futuro, privilegiarem a educação e a inclusão de todos".
Por aqui, os discursos eleitorais correntes juntam tudo num mesmo
saco. Não buscam o futuro - é uma briga pessoal do aqui e agora -, o dinheiro
da educação é redistribuído entre políticos, e a inclusão é apenas uma fachada
eleitoral.
Os chamados líderes mundiais trabalham para reduzir toda a multiculturalidade a dois modelos, pré-fixados como "esquerda" e "direita", num mundo com 7 bilhões de cidadãos, alguns milhares isolados ainda. A ideia é defendida por meia dúzia de sujeitos, malucos, irresponsáveis ou desavergonhados, auto carismatizadas. São lideranças que se colocam acima do homem comum, daquele que cultiva a autonomia e a liberdade. Esses líderes todos não são de esquerda, nem direita, são doentes e, se queremos classifica-los ideologicamente, podemos dizer são totalitaristas por vocação e, como tal, fascistas.
Nas mãos deles, o mundo pode entrar em guerra imediatamente. Eles sabem as consequências, mas desdenham dela, protegidos pelos aparelhos de Estado. Quem vai ver sua cidade destruída, sua casa invadida, fugir das bombas e morrer mesmo, é a população civil. Em um cenário como esse a palavra perde o sentido, assim como o cidadão, os direitos enraizados na cultura e a própria terra de origem.
Esses admiráveis líderes dão consequência às suas alucinações assustando, expulsando, prendendo e matando pessoas. É o que vem acontecendo no norte da África, na Ucrânia. Mas não é só lá. Na América Latina, também na Venezuela e na Nicarágua. O mundo está sendo governado por loucos, que se apossaram, de uma maneira ou de outra, do poder de coerção e da riqueza do Estado, e fazem justiçamentos quase que com as próprias mãos.
Nesse círculo, segundo o analista de política externa, Flavio Almeida Sales, não há constrangimento por parte dessas pessoas nem em pensar na ideia do extermínio em massa pela via da guerra química, biológica, nuclear e outras. São falsos seus compromissos de respeitar limites territoriais, fronteiras, o próprio planeta. São capazes de, sem remorso, trazer a destruição e a desolação para um continente inteiro. O Ocidente tem razão de ter medo, de um quadro de líderes intempestivos como esse que está por aí. A OTAN, com a promessa de preservar a paz por aqui, leva este medo para o lado de lá.
Todos podem estar sentados sobre gatilhos prontos a detonar. Essas lideranças, portadoras de transtornos dissociativos, vem se preparando há tempos para a guerra, e não para acabar com a miséria e a desigualdade. É um jogo. O Brasil, um dos maiores produtores e alimentos no mundo, guiado por lideranças disfuncionais, vai se enrascando nesse tabuleiro. Aliado dos Estados Unidos nos tratados militares, de um lado; é parceiro da Rússia e da China no BRICS. Sem convicções sobre as alianças feitas, seus líderes escondem-se em uma semântica barata, populista e imprudente. Não parece existir mais a luz na lei - o Judiciário não deixa - e os bons costumes estão corrompidos. Que cenário, hein !!! Esses assuntos só ganham a atenção devida, à noite, nas mesas dos bares.
*Jornalista e professor
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