Blog do Noblat / Metrópoles
Dirigentes e opositores promovem tragédia
histórica
Há livros dedicados a analisar a estupidez
política de líderes do passado. Não conheço livro que analise a insensatez
múltipla de dirigentes e opositores, promovendo tragédia histórica. O Brasil de
2022 será um tema de análise da tripla insensatez na política.
De um lado, o Presidente com a estupidez de anunciar com meses de antecedência que não respeitará o resultado das urnas. Insensato aos fatos, porque para ter sucesso, o golpe exige surpresa; e porque, se tiver êxito, é muito provavelmente que seja descartado, uma vez que não liderará as Forças Armadas, depois que rasgar 56 milhões de votos e a Constituição que lhe dá legitimidade para compensar sua total falta de liderança. Além disto, basta ler história para saber que nenhuma ruptura do pacto constitucional provoca coesão e rumo duradouro para o país.
Ao lado, a insanidade dos comandantes
militares, que certamente conhecem mais história do que o capitão que
expulsaram e os eleitores fizeram presidente. Sabem o risco que o país sofrerá
se a Constituição for rasgada, se um presidente despreparado for imposto, ou se
este for destituído, e no lugar for imposto um comandante militar sem votos.
Mesmo se o golpe for vitorioso e ficar 21 anos, graças à tortura e ditadura,
não será benéfico para o país nem para as Forças Armadas.
Os generais comandantes parecem não ter
aprendido a importância da surpresa na execução de uma estratégia. Já
manifestam que não respeitarão o resultado das eleições se as urnas não
estiverem de acordo com o que eles querem. Desmoralizam a democracia ao tentar
tutelar o processo eleitoral, e com isto desmoralizam as Forças Armadas por se
transformarem em milícias politiqueiras. Aceitaram estas urnas em dez eleições
anteriores, agora, insensatamente, avisam que usarão este argumento para
recusar o resultado das eleições se não for o que eles desejam. É uma
estupidez, mas estão praticando sem respeito aos juramentos, à história nem aos
julgamentos que receberão no futuro.
Demonstram estupidez ao deixarem, óbvio a
qualquer inteligência, como será o golpe, com roteiro que consiste em:
compactuar com um fundo secreto para comprar votos com dinheiro público, se
isto não der o resultado que esperam, usam o estado de emergência já aprovado
pelos parlamentares, denunciam que o resultado não é confiável, desconectam a
energia durante a noite da apuração, milícias impedem a circulação de transporte,
especialmente no Nordeste e outras áreas reconhecidamente a favor de outro
candidato, usam as denúncias feitas contra o candidato Lula por personalidades
progressistas, convocam o Congresso, dificultam a presença de parlamentares
opositores, deslegitimam as votações e convocam novas para daqui a dois anos,
prorrogam os mandatos de todos os atuais dirigentes, muitos dos quais perderam
a eleição; se não for suficiente a compra dos parlamentares por dentro, cercam
o Congresso e o STF, e as casas onde moram os líderes da oposição “para
protege-los”: medida aceita sobretudo se antes ocorrerem atos de violência,
como o assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu.
Sabendo disto, as oposições se comportam de
forma igualmente insensata: sabem o que pode acontecer, mas não sabem o que
fazer para barrar o golpe. Não se unem, não fazem um manifesto conjunto em
defesa da democracia, se acusam mutuamente, detonam pontes que seriam
necessárias no segundo turno, não elaboram um programa comum tal como: fim da
reeleição, combate à inflação, medidas para gerar emprego, defesa da Amazônia,
recuperação do prestígio internacional, enfrentar as sequelas do covid, fim do
sigilo de processos por corrupção, regras que vacinem o governo contra
corruptos.
A história mostra insensatez de muitos
governantes. O Brasil mostra insensatez tripla: das Forças Armadas, do
governante e dos líderes da oposição.
*Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador
Um comentário:
Forças Armadas = "milícias politiqueiras"!
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