domingo, 17 de julho de 2022

Míriam Leitão - Economia tenta salvar Bolsonaro

O Globo

Jair Bolsonaro viverá agora um bom momento de sua campanha eleitoral. Haverá deflação em julho, e talvez agosto, a projeção do PIB está sendo revista para cima, está em curso uma farta distribuição de dinheiro público às vésperas das eleições. Tudo foi feito passando por cima do estatuto da Petrobras, da autonomia tributária dos estados, das leis eleitorais, das normas fiscais. O Congresso se comportou como um puxadinho do Planalto e armou o palanque no qual ele, na sexta-feira, acenou aos que resistem mais aos seus apelos: mulheres, pobres e nordestinos. Num erro histórico, a oposição votou a favor de que Bolsonaro quebre leis eleitorais em proveito próprio às vésperas das eleições.

A inflação sempre tira voto do governante quando sobe. E quando acontece o contrário e ela cai? A mudança de humor do eleitorado não é automática, depende de muitos fatores, e tem a ver com a sensação de conforto econômico que nem sempre se consegue ter num momento de queda da renda como agora. Mesmo assim, ele pode subir alguns pontos, e isso ser suficiente para levar a disputa ao segundo turno.

O cientista político Felipe Nunes, da Quaest, conta que a economia é a principal preocupação do eleitorado, com 44%. E dentro da economia, mostra a pesquisa Genial/Quaest, a inflação é a principal preocupação. Aliás, saiu de 2%, em julho do ano passado, para 23%, em junho de 2022, os que diziam espontaneamente que a inflação é o principal problema. Em julho, caiu para 19%. Exatamente nesse período houve uma escalada que levou o índice a ficar em dois dígitos desde setembro. Agora haverá deflação mensal e desinflação anual. Tudo foi feito com medidas artificiais. Mas já houve uma ligeira oscilação positiva.

— De novembro a maio, quando chegou o Auxílio Brasil, nada aconteceu. O governo tinha expectativa de haver o mesmo que houve em 2020, quando veio o auxílio emergencial e a rejeição ao governo caiu. Nesse período, tanto os que recebem o auxílio quanto os que não recebem não mudaram o voto. É uma linha reta. Mas de junho para julho caiu ligeiramente a diferença.

Em um mês, Bolsonaro subiu de 21% para 25% nesse grupo dos que recebem auxílio, e caiu de 60% para 58% a intenção de voto em Lula. A vantagem de Lula ainda é acachapante, mas foi nesse grupo dos mais pobres que Bolsonaro mirou ao elevar o Auxílio Brasil apenas no período eleitoral.

— O governo gerou expectativa de que algo melhor pode vir. Mas essa expectativa vira frustração ou euforia? Só o tempo dirá — disse Nunes.
Além disso, caiu o número dos que acham que é Bolsonaro o culpado pela alta dos combustíveis e subiu os que culpam a Petrobras. A mentira repetida pelo presidente, as acusações à Petrobras, têm dado certo.

É preciso olhar também para a inflação de alimentos. A série do último ano e meio mostra que no começo de 2021 estava em 15%, oscilou no alto, e em agosto do ano passado estava em 14%. Ela então caiu a 8% no começo deste ano e depois voltou a subir. Hoje está em torno de 14% novamente. O leite subiu 25,4%, quase o mesmo que a gasolina, que foi 26%. O que afeta os mais pobres é a inflação de alimentos, o que está caindo é gasolina na bomba e conta de luz, que atingem os que têm mais renda.

Esse é um momento crucial da campanha. A rejeição a Bolsonaro é monumental, lembra Nunes, de 59%, 20 pontos percentuais acima da rejeição de Fernando Henrique, Lula e Dilma nas disputas de reeleição. Várias pesquisas mostram a possibilidade real de Lula vencer no primeiro turno. Bolsonaro jogou toda a força da máquina, eliminou impostos, tomou recursos dos estados, distribuirá dinheiro para caminhoneiro — em agosto o benefício será dobrado — taxistas e os mais pobres.

Felipe Nunes explica que nas eleições o candidato avança quando consegue tomar o discurso do outro. Bolsonaro tenta convencer os pobres de que sabe fazer política social. No palanque instalado na mesa do Congresso, na promulgação da PEC que permitiu despesas eleitoreiras, ele disse que o auxílio emergencial gastou 15 vezes mais que o Bolsa Família. O ministro da Economia, Paulo Guedes, havia dito naquela reunião ministerial de 2020 o seguinte: “Vamos fazer o discurso da desigualdade, vamos gastar mais, vamos eleger o presidente”. E é exatamente o que o governo está tentado fazendo agora. Economia e política andam sempre juntas.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

E eu estou na torcida para que não se reeleja.