O Estado de S. Paulo
O trabalho nos EUA segue robusto; uma
criação menor de emprego vai gerar tensão
Depois que os índices de inflação ao redor
do mundo dominaram o humor dos investidores no primeiro semestre deste ano,
levando, por exemplo, as Bolsas de Valores nos EUA a registrar o pior
desempenho para a primeira metade do ano desde 1970, os indicadores de
atividade econômica devem passar a ser agora o principal motor dos preços dos
ativos neste segundo semestre.
O temor é de que, diante da disparada da
inflação que levou a um aperto monetário mais agressivo pelos principais bancos
centrais, a economia mundial entre em recessão nos próximos 12 meses. Esse medo
é cada vez maior nos EUA, onde o Federal Reserve (Fed) projeta que a taxa
básica de juros, que começou o ano ao redor de zero, deve encerrar a 3,4% no
fim de 2022.
O presidente do Fed, Jerome Powell, já
admitiu que a recessão nos EUA é uma possibilidade, mas diz que o maior risco é
de a inflação americana ficar persistentemente elevada. Ou seja, enquanto a
inflação estiver distante da meta do Fed, de 2%, a prioridade será combater a
escalada nos preços, mesmo que, para tanto, o BC americano cause uma contração
na economia do país.
Na semana que vem, será divulgado o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) dos EUA para junho. Os investidores esperam que esse índice mostre que a inflação americana já atingiu o pico. Mas essa era a expectativa para maio, quando o CPI surpreendeu a todos e registrou uma alta anual de 8,6%, a maior desde dezembro de 1981.
Já a medida de inflação preferida do Fed, o
índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), divulgado na
semana passada, registrou alta anual de 6,3% em maio, mesmo patamar de abril.
Ou seja, se a inflação der sinais de que o
pico ficou para trás, mesmo que a sua desaceleração seja mais lenta do que o
Fed gostaria, o mercado passará a se concentrar nos indicadores de atividade.
Aliás, muitos ativos, como as Bolsas de Valores, já estão refletindo o
nervosismo crescente com o risco de recessão.
O preço do cobre, que é visto como um
termômetro do crescimento da economia mundial, por ser usado desde a construção
civil até a fabricação de bens, como automóveis, caiu para US$ 8.048 por
tonelada na sexta-feira passada, o menor nível em 17 meses e quase 25% abaixo
da cotação mais alta deste ano.
Um dos focos dos investidores será nos
dados do mercado de trabalho americano, que ainda segue robusto. Uma criação
menor de empregos vai gerar tensão. E, se os gastos dos consumidores começarem
a ceder diante da inflação e juros mais altos, o humor vai azedar de vez.
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