domingo, 16 de outubro de 2022

Bruno Boghossian - Terrorismo eleitoral nas fábricas

Folha de S. Paulo

Bolsonarismo nunca escondeu que encara as relações de trabalho como uma arma política

Na campanha de 2018, Jair Bolsonaro fez um giro por associações empresariais e prometeu que os patrões teriam um governo amigável. Nesses eventos, ele disse que os trabalhadores deveriam fazer uma escolha: preservar seus direitos e enfrentar o desemprego ou aceitar menos direitos para manter o emprego.

O bolsonarismo nunca escondeu que encara as relações de trabalho como uma arma política. Segundo essa filosofia, a ameaça de fechamento de vagas (de forma velada ou explícita) pode ser usada tanto para reduzir os mecanismos de proteção aos empregados como para conseguir votos na eleição.

O empresário Luciano Hang puxou a fila ainda na disputa passada, sem muito pudor. Antes do primeiro turno, ele divulgou um vídeo em que insinuava a possibilidade de demissões caso a esquerda vencesse. "Se não abrir mais lojas e nós voltarmos para trás, você está preparado para sair da Havan?", perguntou aos funcionários. Depois, ele sofreu uma condenação na Justiça do Trabalho.

O terrorismo eleitoral se espalhou por lojas e fábricas na disputa de 2022. O presidente de uma empresa do setor têxtil em Santa Catarina chamou trabalhadores para dizer que poderia cortar vagas se Bolsonaro não fosse reeleito. No Pará, o dono de uma indústria de cerâmica disse aos empregados que empresas corriam o risco de fechar e ofereceu R$ 200 a cada um deles em caso de vitória do atual presidente.

Em maio, o próprio Bolsonaro chegou a pedir que empresários trabalhassem para virar votos entre seus funcionários. Não falou em dinheiro, mas pediu a pelo menos dois grupos de patrões que reunissem trabalhadores para falar dos perigos da Venezuela e de uma vitória da esquerda.

Tudo indica que a turma que apoia Bolsonaro no empresariado encontrou alguma dificuldade para convencer os trabalhadores de que os quatro anos de governo do capitão o credenciam para mais um mandato. As ameaças e a tentativa de compra de votos só costumam entrar em cena quando acaba a saliva.

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