O Estado de S. Paulo
Sob o ponto de vista da política econômica,
superar nossas mazelas implicará uma profunda mudança de rumos
A semiestagnação do crescimento econômico e
o baixo nível de investimentos no Brasil geraram um passivo social imenso: 24,3
milhões de brasileiros estão fora do mercado de trabalho (subutilizados), o que
corresponde a cerca de um quarto da população economicamente ativa; enquanto
125,2 milhões de pessoas convivem com algum grau de insegurança alimentar e
outros 33 milhões passam fome diariamente.
A elevação do custo de vida e a deterioração fiscal também são aspectos importantes. Sob o ponto de vista da política econômica, superar nossas mazelas implicará uma profunda mudança de rumos. Os desafios da pandemia de covid-19, os reflexos da guerra entre Rússia e Ucrânia, com nova configuração geopolítica e implicações para as cadeias internacionais de suprimentos, representam também oportunidades.
A par das questões de ordem conjuntural, há
também questões estruturais. Os investimentos exercem papel muito relevante
para a superação da semiestagnação. A média da formação bruta de capital fixo
em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que é o total dos investimentos
realizados na economia envolvendo, além de infraestrutura, máquinas e
equipamentos, é de apenas 17% do PIB, nível bem abaixo da média global, de 26%
do PIB, e dos países em desenvolvimento, de 33% do PIB.
É preciso superar a falsa dicotomia entre
Estado e mercado. Na verdade, as boas práticas e a literatura internacionais
mostram que o papel do Estado é fundamental, mas também o setor privado é muito
relevante para o desenvolvimento. O erro estaria em atribuir somente a um deles
essa tarefa. Claramente o que se denota é que o Estado tem papéis que são
imprescindíveis.
Outra falsa contradição é entre poupança e
investimento. A economia tradicional, a teoria ortodoxa, sempre colocou a
poupança como um pré-requisito para o investimento. Mas a experiência empírica
e a boa literatura têm demonstrado que a poupança é o resultado do processo. O
investimento pode ser financiado via crédito e financiamento e, a partir da sua
realização e seus efeitos sobre a demanda efetiva, gerar, como resultado,
formação de poupança.
As decisões de investimentos respondem à
expectativa futura de demanda e à rentabilidade marginal do capital esperada.
Um ambiente econômico favorável e uma perspectiva positiva de crescimento da
demanda e de retorno do capital estimulam as decisões de investimentos, para os
quais a poupança não é pré-requisito, mas resultado do processo.
*Professor-doutor, coordenador do Programa
de Pós-Graduação em Economia Política da PUC-SP, é presidente do Cofecon
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