Correio Braziliense
A opção pela emenda
constitucional é defendida tanto pelo Centrão como por parlamentares ligados ao
presidente Lula, mas há vozes críticas ao encaminhamento no próprio PT e
aliados
O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin
iniciou ontem as conversas sobre o Orçamento de 2023 com o relator geral do
Orçamento, Marcelo Castro (MDB-PI), o nome mais cotado para assumir a relatoria
da PEC da Transição, cujo objetivo seria abrir espaço para o cumprimento das
promessas de campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão
final sobre a relatoria cabe ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG),
com quem Lula deve se encontrar para tratar do assunto hoje. A opção pela PEC é
polêmica e envolve questões jurídicas que estão sendo analisadas também no
Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
“Essa PEC não tem nenhum sentido, a não ser encobrir o rombo fiscal de 2022 e institucionalizar o Orçamento Secreto (RP9). Tudo pode ser resolvido por Medida Provisória (MP) no dia 2 de janeiro, sem necessidade de mexer-se na Constituição”, avalia o ex-presidente do Senado Eunício de Oliveira (MDB-CE), que está de volta ao Congresso como deputado federal eleito. Segundo Eunício, durante a campanha eleitoral, houve uma avalanche de recursos federais por meio de emendas do Orçamento, que desequilibrou a disputa em razão do abuso do poder econômico em favor dos que foram beneficiados pelas emendas. “Consegui me eleger sozinho, mas a disputa foi muito desigual, porque as emendas foram usadas para comprar apoios e até esvaziar campanhas alheias”, declarou.
As negociações para aprovação da PEC
corroboram as reclamações de Eunício, porque envolvem parlamentares da base do
governo e também setores da oposição que se beneficiaram da PEC. Marcelo Castro
está sendo escolhido relator a dedo, porque é um dos poucos que conhecem a
destinação dos recursos do chamado orçamento secreto e, em tese, poderia
compatibilizar os interesses do Centrão com os do novo governo que está se
formando. Entretanto, mesmo o PT está dividido em relação ao assunto. O
deputado Paulo Teixeira (PT-SP), por exemplo, avalia que a PEC deve ser mais
estudada e pode até se tornar matéria vencida, se a presidente do STF, ministra
Rosa Weber, decidir pôr em votação a constitucionalidade do orçamento secreto.
“Orçamento secreto é inconstitucional, isso
não existe; as emendas ao orçamento precisam ser transparentes. Além disso,
juridicamente, o ajuste a ser feito no Orçamento de 2023 pode vir por medida
provisória”, avalia Teixeira. Entretanto, há um problema político, que precisa
ser levado em consideração: um confronto com o Centrão nessa matéria seria
desastroso para o governo Lula já na largada do mandato. “Precisamos levar em
consideração o Congresso, é possível negociar uma PEC que regulamente as
emendas e atenda aos parlamentares, com o governo estabelecendo prioridades que
seriam observadas nas emendas de bancada, por exemplo”, sugere o deputado
Carlos Zarattini (PT-SP).
Suprema decisão
Quem terá de descascar o abacaxi é o
vice-presidente Geraldo Alckmin, que coordena a equipe de transição e ontem
nomeou os economistas que vão discutir o Orçamento: André Lara Resende, um dos
idealizadores do Plano Real, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) no governo Fernanda Henrique Cardoso; Persio Arida,
outro dos pais do Plano Real, que presidiu o BNDES entre 1993 e 1994 e o Banco
Central, em 1995; Guilherme Mello, professor de economia e coordenador do
programa de pós graduação em desenvolvimento econômico da Unicamp, que foi
assessor econômico da campanha de Lula; e Nelson Barbosa: ex-ministro do
Planejamento e ex-ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff. A opinião da
equipe econômica da transição é crucial para compatibilizar o que for aprovado
com a política econômica do novo governo.
A opção pela PEC é defendida tanto pelo
Centrão quanto por parlamentares ligados ao presidente Lula, mas há vozes
críticas ao encaminhamento no próprio PT. “Estamos fazendo muitas concessões ao
Centrão, não vejo necessidade de tratar desse assunto com tanta pressa, pois
ele pode ser resolvido em janeiro”, questiona o ex-senador Lindhberg Farias,
que também está voltando à Câmara como deputado federal eleito. Segundo ele, o economista
José Roberto Afonso, com quem conversou, uma dos autores da Lei de
Responsabilidade Fiscal, sugeriu que o governo utilize a legislação vigente
para gastar um duodécimo do Orçamento em janeiro e remanejar o Orçamento por
medida provisória. Apesar da polêmica, a expectativa é de que a PEC comece a
tramitar no Senado, assinada pelo líder do PT na Casa, senador Paulo Rocha
(PT-PA), além de outros parlamentares de diferentes partidos. A bancada de
senadores do PT votou a favor do orçamento secreto e da PEC das bondades.
Dentre as ações sobre a RP9, a mais
importante é a ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 854,
apresentada pelo PSol. Ao analisar o caso em novembro de 2021, a ministra Rosa
Weber suspendeu o pagamento das emendas. Depois, flexibilizou a decisão,
permitindo o pagamento, desde que houvesse mais transparência. A derrubada das
emendas RP9 pelo Supremo era considerada um confronto como o Congresso e o
Centrão, mas a derrota do presidente Jair Bolsonaro, que perdeu a eleição, abre
espaço para uma decisão que pode facilitar a vida do presidente Lula, sem
impedir a negociação de um acordo com Congresso, que contemple o Centrão.
2 comentários:
Por outro lado, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado acaba de aprovar a LOA 2023 liberando R$1,7 bilhão para o investimento habitacional cujos mais pobres foram retirados do programa "minha casa minha vida" a medida já está recebendo emendas e a articulação na Câmara dos Deputados gira em torno da inclusão automática dos beneficiários do BPC nas inscrições do novo"casa verde e amarela"...
A casa da minha irmã é parte do programa ''minha casa,minha vida''.
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