domingo, 18 de dezembro de 2022

Bernardo Mello Franco – É preciso saber viver

O Globo

Alvo do MP, Cláudio Castro rebateu acusações cantando música de Roberto e Erasmo Carlos

O Rio de Janeiro teve cinco governadores presos e pode ter um sexto cassado por crime eleitoral. Se a ameaça se confirmar, não será por falta de aviso. Na quarta-feira, o Ministério Público Eleitoral pediu a revogação do diploma de Cláudio Castro. Ele é acusado de abuso de poder político e econômico no escândalo dos cargos secretos.

O esquema foi revelado pelo UOL, que noticiou a contratação de 18 mil pessoas sem registro no Diário Oficial e com pagamentos feitos na boca do caixa. Mais tarde, funcionários contaram à TV Globo que eram obrigados a devolver parte dos salários a quem os nomeou.

Em sabatina no GLOBO, Castro reclamou da imprensa e se irritou ao ser questionado sobre as irregularidades. “Não falemos de cargos secretos, porque não é verdade. Está informando a população de forma errada”, disse. A ação da Procuradoria conta outra história.

Os investigadores afirmam que o governador se utilizou “dos cofres públicos para fomentar sua campanha à reeleição”, atendendo “interesses pessoais escusos” e comprometendo “a legitimidade e a lisura do processo eleitoral”.

O esquema se concentrou no Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro, o Ceperj. O órgão foi criado para recrutar e capacitar servidores públicos. A partir de um decreto de Castro, virou cabide de empregos e passou a financiar programas usados na campanha.

Para os procuradores, o Ceperj foi “desviado drasticamente da sua função institucional”, num “alargamento desmedido”. Milhares de contratados se tornaram “cabos eleitorais disfarçados de servidores públicos temporários”, afirma a ação.

Testemunhas ouvidas pelo MP confirmaram o uso eleitoreiro das contratações. “A gente era obrigado a participar de todos os eventos políticos do governador”, contou o ex-funcionário Rodrigo Gaviorno. “A gente tinha que estar lá para fazer número, para bater palma”, acrescentou Marcos Pimentel. Ele disse que os nomeados eram tratados como “prostitutos eleitorais”. Quem se recusasse a ir aos comícios era afastado do cargo. “Ou você está presente ou você é demitido”, resumiu.

Apesar do volume de provas, Castro não parece preocupado com o futuro. No dia em que a Procuradoria pediu sua cassação, ele voltou a negar as acusações e exibiu seus dotes de cantor de sacristia. Em encontro com jornalistas, o governador recitou os versos de “É preciso saber viver”, de Roberto e Erasmo. É a música preferida de seu antecessor Sérgio Cabral, que saqueou o estado e está prestes a deixar a cadeia.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

O evangelismo já é maioria no Rio de Janeiro,é claro que há crentes que sabem votar,mas parece que a maioria escolhe sempre o pior.