O Estado de S. Paulo
A operação de afrouxamento da Lei das
Estatais (Lei 13.303/2016) é um desastre. É a tentativa de abrir outra vez as
portas das empresas públicas para todas as formas de patrimonialismo e
corrupção e mostrou que hoje os políticos se sentem mais à vontade para repelir
os princípios republicanos.
Alguém lembrou que a nomeação de Aloizio
Mercadante para o BNDES poderia ser barrada pela Lei das Estatais, que exige 36
meses de quarentena, além de qualificação comprovada, para que pessoas
envolvidas em campanhas eleitorais e em política partidária pudessem assumir
cargos de direção em estatais.
Assim, de uma hora para outra, sem análise e sem discussão pública, depois de um conchavo do PT com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, por 314 votos a favor e 66 contra, os deputados federais aprovaram a toque de caixa projeto de lei que reduz a quarentena exigida a apenas 30 dias. Além disso, o texto, que agora segue para exame no Senado, estendeu de 0,2% para 2,0% da receita operacional da estatal a verba destinada à publicidade. Isso significa, por exemplo, que, na Petrobras, esses recursos sobem de R$ 3,3 bilhões para R$ 13,3 bilhões por ano, considerada a receita operacional esperada para todo o ano de 2022.
A decisão atendeu imediatamente a toda
sorte de interesses. O PT já não gostava da lei aprovada no período Temer, no
rescaldo da Operação Lava Jato, que se destina a blindar as estatais e as
agências reguladoras da corrupção. Não gostava também por outra razão: porque
entendia, equivocadamente, que prejudicava o desempenho da legítima atividade
política. Agora viu que poderia nomear à vontade outras centenas de pessoas
para cargos do segundo e terceiro escalões e, assim, obter no Congresso a
aprovação para leis de seu interesse.
Os bolsonaristas, agora apeados do poder,
sentiram que ainda poderiam tirar proveito extra de algumas túrgidas tetas. E
os políticos do Centrão viram que se abriram novas oportunidades de barganha.
A sinecura não se limita às empresas do
governo federal. Estende-se a qualquer empresa pública do País, incluindo-se aí
as estaduais e municipais. É o aleluia dos cabides de empregos para acomodar a
vida dos apadrinhados e cabos eleitorais.
Depois da reversão de alguns atos da Lava
Jato, políticos de todos os calibres se sentem agora à vontade para novas
temporadas de farra fiscal.
O objetivo maior imediato do PT foi
assegurar munição política para a aprovação da PEC da Transição, que tem prazo
de validade de dois anos. Assim, para viabilizar uma proposta conjuntural, o PT
tomou a decisão de comprometer definitivamente a qualidade da governança do
patrimônio público.
Não consegue enxergar que a nova capacidade
de loteamento das empresas estatais não fortalece o governo; ao contrário, enfraquece-o
porque o deixa refém dos políticos. Ou será que o presidente Lula não entendeu
que ficou na mão de Arthur Lira e de Rodrigo Pacheco?
Um comentário:
Celso Ming é uma espécie de Boris Casoy menos dorminhoco, mais bolsonarista, e de soldo mais graúdo
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