sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Hélio Schwartsman - Na transição, PT vai sendo PT

Folha de S. Paulo

Há sinais de que Lula será menos magnânimo do que poderia

Lula venceu a eleição e tem direito de nomear quem bem entender para os ministérios. Mas admito que, talvez por "wishful thinking", achei que o petista apostaria numa espécie de governo de união nacional, entregando cargos relevantes a outros partidos. Pelos nomes já anunciados e pelo que leio nas colunas de bastidores, o lado fominha do PT vai prevalecendo.

Vá lá que a Fazenda tenha ido para Fernando Haddad. Era o melhor jeito de Lula manter ascendência sobre a economia. Se tivesse dado o cargo a alguém com o perfil mais liberal, como o tal de mercado teria desejado, o ministro estaria comprometido com uma agenda diferente da do presidente. A voz do mandatário sempre prepondera (vide Guedes), mas, no limite, Lula precisaria demitir o ministro para impor sua vontade. Com Haddad não há esse risco.

Só que essa escolha também teve custos, que são agravados por declarações pouco diplomáticas de Lula a respeito principalmente da questão fiscal. A somatória de ditos e feitos do presidente já provocou uma elevação dos juros, o que tende a ser ruim especialmente para o futuro governo, que gastará mais com a dívida e ainda amplia os riscos inflacionários.

O imbróglio da Fazenda, admito, cai na definição clássica de dilema: qualquer solução implicaria ônus. O meu ponto é que há sinais de que Lula será menos magnânimo do que poderia em relação a outros ministérios. De novo, são escolhas. Cercar-se de petistas aumenta sua influência nas pastas; deixar de dividir o poder com aliados de outras siglas torna futuras crises mais prováveis e mais difíceis.

Outra sinalização que me pareceu complicada foi a mudança na Lei das Estatais. Até pelo contraponto a Bolsonaro, eu esperaria da gestão petista um respeito maior à institucionalidade. Alterar uma regra no geral positiva, seja para dar um cargo a um amigo, seja para afagar o centrão, não é o melhor exemplo de apego às instituições.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

A voz do mandatário sempre prepondera - vide Guedes, mas vide especialmente o inesquecível ministro General Pazuello, que comandou o combate do nosso país contra a Covid-19 e deixou morrerem 4 vezes mais brasileiros que a média mundial, sempre seguindo os ditames do GENOCIDA ao qual ele OBEDECIA cegamente! Agraciado pelos (milicianos) cariocas com mandato de deputado federal pelos próximos 4 anos...