O Estado de S. Paulo
Está na hora de parar de insistir na
afirmação de que aumentaram as incertezas sobre a política econômica do governo
Lula 3 e sobre a administração das estatais. É o contrário: aumentaram as
certezas.
O novo governo vai administrar a economia
de acordo com as diretrizes do PT, e não com “objetivos pluralistas”, como
alguns entenderam.
A política social será a que tem de ser, não importando aí o que cabe ou não na política fiscal. A PEC da Transição, por exemplo, autoriza um estouro de R$ 145 bilhões no teto de gastos para o Bolsa Família, que pagará um adicional a cada criança de até seis anos, sem que se tenha clareza sobre o tamanho dessas despesas. Os juros elevados puxarão a dívida para cima, mas o que vale aqui é que “depois a gente vê como ficam as contas públicas e a nova âncora fiscal”, que tem seis meses para ser negociada com os políticos.
O projeto de lei que afrouxa a Lei das
Estatais, em aprovação no Congresso, define que nomes envolvidos em campanha
eleitoral podem ser nomeados para a direção dessas empresas, bastando que
cumpram quarentena de 30 dias.
O Plano Estratégico da Petrobras será
revisto. “Não haverá mais privatizações”, avisou o presidente Lula. A venda das
refinarias determinada pelo Cade deve ser bloqueada. A Petrobras terá de
investir na ampliação de refinarias, não levando em conta os desastres
produzidos ao longo do governo Dilma com as refinarias de Pasadena (Estados
Unidos), Abreu e Lima (Pernambuco) e Comperj (Rio de Janeiro). Também por isso,
a distribuição de dividendos deverá ser reduzida ao mínimo, ainda que venha contribuindo
para o aumento das receitas do Tesouro.
A única incerteza na Petrobras se concentra
na política de preços a ser adotada. O “abrasileiramento” anunciado pelo
presidente eleito talvez não possa ser adotado imediatamente porque seria
impossível obrigar os importadores a revender internamente óleo diesel a preços
mais baixos do que os pagos no mercado internacional – situação que levaria ao
desabastecimento de 30% do consumo.
O BNDES, a ser dirigido pelo político
Aloizio Mercadante, também deixaria de ser o que foi nos últimos quatro anos.
Mesmo sem se conhecer o que será a política industrial do novo governo, o BNDES
deverá conceder empréstimos de longo prazo a juros favorecidos para execução de
projetos de prioridade do governo, ainda que não se saiba de onde obterá os
recursos de fonte privada para isso, como explicado por Mercadante. Falta saber
se o BNDES voltará a financiar projetos de outros países. A caloteira Argentina
já pleiteia créditos de longo prazo para construção de gasodutos.
Outra certeza: o Centrão muda de lado conforme o tamanho da cenoura oferecida. E, assim, podem-se mudar leis, regulamentações e até a Constituição (por meio das PECS) que se apresentarem como obstáculo ao governo.
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