Jair Bolsonaro virou Presidente da República depois de muito enaltecer a honestidade dos militares, como se militar fosse infenso ao vil metal. Segundo ele, nenhum ditador militar de 64 enriqueceu no exercício do cargo, coisa que Bolsonaro não pode dizer de si próprio e de seus filhos. Pretendo comparar aqui a honestidade de Lula com a do general Figueiredo, focalizando um caso específico em que ambos se comportaram da mesma maneira.
Lula foi e ainda é um líder político como poucos na história recente do mundo. Foi saudado como "o cara" por Barack Obama, foi hóspede da Rainha da Inglaterra e pode, quiçá, ganhar até um Prêmio Nobel. Lula ficou dois mandatos na presidência e ganhou muitos presentes de empresários e de chefes de governo e estado, bem como de representantes de outros países. Todo mundo sabe que dando presentes é possível se "comprar" uma pessoa. Por isso o Código de Conduta da Alta Administração Federal é claro quanto ao recebimento de presentes e brindes. Se o presente tiver valor histórico, cultural ou artístico este presente não pode ser recebido. O presidente só pode receber itens personalíssimos como medalhas personalizadas ou bens de consumo direto como bonés, camisetas e chinelos. E mesmo um simples "brinde" não pode ter valor superior a R$ 100,00 (cem reais). Dura lex sed lex.
O próprio Lula já disse que ele foi o
presidente que mais presentes ganhou em toda a história. E ainda chamou o
conjunto desses presentes de "tralha". Essa história foi tema da Lava
Jato e todos ficamos sabendo que a empreiteira OAS pagou o frete, e o
armazenamento desse acervo por vários anos ao custo de R$ 1,3 milhão de reais e
que parte dele foi parar no famoso sítio de Atibaia. O acervo de Lula com
certeza possui muitas peças valiosas, mas poucas vieram à tona como um trono de
verdade dado por um ex-presidente de país africano. Falou-se também que a
polícia federal descobriu num cofre com pertences de Lula um faqueiro de ouro.
Presente que fora dado pela Rainha da Inglaterra ao ditador militar Costa e
Silva. Vi um site que mostrava peças da tralha, mas tudo coisa pequena
fotografadas estrategicamente ao lado de uma caneta Bic para o internauta ter
ideia do tamanho das peças. Procurei por uma tela de pintor famoso, mas não
achei.
O general Figueiredo apesar de não ter sido tão popular quanto Lula também ganhou muitos presentes. E vários desses presentes vieram ao conhecimento público. Dona Dulce Figueiredo, já na condição de viúva, vendeu centenas de peças do espólio do marido. Entre elas duas telas de Di Cavalcanti. Uma bandeja presenteada pelo colega chileno, o gorila Pinochet, alcançou no leilão no qual foi vendida o preço de R$ 6.200. Mas a peça mais famosa do acervo de Figueiredo foi um cavalo em tamanho natural esculpido em pinho de riga que ele ganhou não se sabe de quem, provavelmente um potentado árabe.
Reagan quando visitou Figueiredo no sítio em que morava, ficou encantado com o cavalo de madeira. Figueiredo ao saber disso chegou a oferecer ao presidente americano um cavalo de verdade. Mas Reagan recusou o presente porque pelas leis americanas qualquer presente oferecido ao chefe de governo de lá não pode ultrapassar o valor de US$ 150 (cento e cinquenta dólares). Por outro lado Figueiredo aceitou um cavalinho de bronze, oferecido por Reagan, do escultor americano Harry Jackson. Essa pequena escultura de um cowboy, montado num cavalo a galope, dando tiros de revólver em quem vinha atrás dele (provavelmente índios) foi vendida no mesmo leilão por 300 mil reais.
Quem comprou? O bilionário gaúcho Lirio Parisotto, ele mesmo, o que deu um soco no olho de Luiza Brunet. Já o famoso cavalo de pau foi vendido pela bagatela de 14 mil reais para o lojista de antiquários, Manuel Machado. O cavalo para quem quiser ver, está na vitrine da loja de Machado no Shopping de antiguidades na rua Siqueira Campos, em Copacabana. Diz o lojista que já ofereceram pela peça a fábula de um milhão e meio de reais. Mas ele diz que quanto mais oferecem pela peça, menos ele tem vontade de vender.
Para concluir, Bolsonaro escalou um
caminhão da Aeronáutica para ir a Porto Alegre buscar os presentinhos que Dilma
levou para casa. Tem que ver se Collor, Itamar, Sarney e FHC também não
levaram. Bolsonaro fecha essa história, levando para casa a escultura em
madeira de uma moto Harley Davidson em tamanho real denominada de "Harley
Mito". Todos eles furtaram, na mão grande, objetos que pertencem ao povo
brasileiro. E agora essa notícia sobre joias que o governo da Arábia Saudita
teria dado de presente à Micheque no valor de milhões de euros. Só pode ser
tentativa do boçal de roubar o país se aproveitando da condição de presidente.
*Fernando Carvalho é historiador, formado
pela Universidade Federal Fluminense (UFF), autor de “Livro Negro do Açúcar
5 comentários:
Muito interessante o assunto levantado pelo autor! Parabéns a ele e ao blog que o divulga!
A elite política brasileira é corrupta, a despeito das diferentes versões ideológicas. E Lula é o pior de todos, pois foi capturado por interesses hegemônicos que se valem de seu trânsito entre o povo pobre e miserável para perpetuar atávica exação da riqueza que deveria ser de todos. Como diria Mário Covas, falta ao Brasil um choque de capitalismo.
Fernando Carvalho.
Choque de capitalismo o Brasil conhece desde que o capitalismo explorava o trabalho dos negros africanos durante 350 anos. O que precisamos ė de choque de socialismo.
Ademar Amancio
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