sábado, 4 de março de 2023

Alvaro Gribel - A Petrobras e o caminho do meio

O Globo

Existe uma enorme diferença entre repassar menos lucro aos acionistas e absorver prejuízos com subsídios a mando do governo federal. Achar esse ponto de equilíbrio será o grande desafio do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. A entrevista coletiva do ex-senador, na quinta-feira, no Rio, prezou pela transparência. Prates abriu diálogo com jornalistas, muitos especializados no setor de energia, e não deixou de responder a nenhuma pergunta. Ao mesmo tempo em que criticou a política de Paridade de Preços de Importação (PPI), a qual chamou de “abstração”, também negou que venderá combustíveis a um preço menor do que produz.

— Não vou canibalizar ou aniquilar a minha margem (da Petrobras). Tem um momento em que vou parar (de reduzir o preço). Mas, até um determinado ponto, eu posso disputar o mercado com o importador, por que não? — disse.

A dificuldade da estratégia é que o Brasil não é autossuficiente na produção de derivados. Cerca de 20% da oferta vem de fora. O país depende, portanto, da importação de combustíveis, e se os importadores entenderem que não conseguem competir com uma gigante como a Petrobras, haverá, em um caso extremo, o risco de faltar produto. Nesse cenário, caberá à estatal fazer a importação e arcar com o prejuízo.

O resultado disso o país já viu na prática. Em 2014, a ex-presidente Dilma, buscando a reeleição, levou essa política ao limite, e a Petrobras fechou o ano com prejuízo de R$ 34 bilhões, segundo a Trademap. Em 2015, rombo de R$ 50 bi, seguido de perdas de R$ 20 bilhões, em 2016, e mais R$ 457 milhões no negativo em 2017. No total, R$ 104,4 bilhões no vermelho, o que tornou a Petrobras a empresa do setor mais endividada do mundo. Por mais que o PT critique a PPI, foi ela que reverteu o quadro.

O que Prates está tentando dizer é que existe um caminho do meio:

— Talvez a gente tenha transitado em uma solução exagerada para um lado, e depois fomos para o exagero do outro, que é a imposição do preço de importação — afirmou na coletiva.

Ele defendeu mudanças na política de dividendos, que estaria tirando recursos de investimentos, mas disse que a sua função também é manter a empresa atrativa para os minoritários.

— Ser sócio do governo não é um ônus, mas um bônus — disse ele.

Bolsonaro trocou a presidência da companhia quatro vezes por discordar da política de preços. Nunca foi exemplo de gestão, e os altos lucros da Petrobras têm relação com as cotações internacionais. No mercado, a avaliação é de que haverá alguma intervenção do governo petista, mas isso já “está no preço” do papel, e por isso as ações caíram num dia e subiram no outro.

Há espaço para mudanças, mas, se Prates repetir os erros do governo Dilma, estará certamente contratando uma nova crise.

Longa estagnação

Mesmo com o crescimento de 2,9% do PIB em 2022, a economia brasileira está só levemente acima do patamar do primeiro trimestre de 2014, como mostra o gráfico abaixo. Isso significa que o país não saiu do lugar nove anos depois. O cenário para o governo Lula está longe de ser confortável, e o risco para o presidente é tropeçar nas próprias promessas de crescimento fácil. Ele não virá da forma como Lula espera.

Pressão no Banco Central

A pressão sobre o Banco Central por parte do governo deve aumentar consideravelmente nos próximos meses se as projeções do banco UBS BB se concretizarem. Ao contrário da mediana do mercado financeiro, o banco de investimentos espera que a inflação deste ano fique em 4,9%, muito abaixo do que diz o Boletim Focus, que está com 5,9%. Segundo os economistas Rodrigo Martins, Fábio Ramos e Alexandre de Ázara, a inflação acumulada em 12 meses cairá para próximo de 3,5% em junho, o que deve estimular a artilharia governista contra Roberto Campos Neto. Para 2024, o UBS BB estima alta de 3,5%, contra 4% projetado pelo mercado.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa aposta