O Globo
A regra do teto de gastos, se respeitada,
exigiria que o governo fosse mais eficiente e mais produtivo na gestão
A regra do teto de gastos, aprovada por
Emenda Constitucional em 2016, tem três virtudes básicas. Primeira, a
simplicidade: diz que o gasto do governo federal de um ano deve ser igual ao do
ano anterior mais a inflação. Transforma uma coisa complicada — o arranjo ou
arcabouço ou protocolo fiscal — em algo fácil de entender. A ideia, simples, é
manter o gasto público constante. O governo não pode aumentar as despesas, mas
não precisa diminuí-las.
Dirão: mas fica engessado, de modo que o novo governo não pode aplicar seus próprios programas. Falso: o teto está dado, mas é possível manejar despesas para esta ou aquela área.
Outra objeção: se a receita do governo
tiver um crescimento elevado, acima da inflação, o governo fica com um dinheiro
que não pode gastar no dia a dia. Verdade. Mas não é um dinheiro perdido. Vai
para o pagamento de dívida. Dívida menor significa menor risco fiscal — o risco
de calote — e, pois, leva a uma redução dos juros, o que estimula o crescimento
econômico.
A segunda virtude básica do teto de gastos
está aí mesmo: mantendo a despesa pública constante em termos reais e, assim,
abrindo espaço para o crescimento via investimento privado, isso reduz o
tamanho do Estado em proporção ao Produto Interno Bruto.
Qual a situação hoje? Com o gasto em
expansão, o Estado precisa de cada vez mais impostos, tomando dinheiro das
empresas e das famílias, reduzindo suas capacidades de investimento e consumo.
Ora, todo mundo sabe que a carga tributária
já é elevada no Brasil. É uma insegurança infernal, em consequência das
seguidas gambiarras para o governo tomar mais um dinheirinho aqui e ali. Como
essa ridícula cobrança de imposto sobre a exportação de petróleo, que só
encarece o produto nacional no mercado global.
A terceira virtude da regra do teto estava
no prazo. Vinte anos para colocar a casa em ordem, podendo ser revista em 2027.
Dirão: é muito tempo. Parece, mas considere
que o gasto público vem crescendo sistematicamente há mais de quatro décadas.
Aí fica razoável, não é mesmo?
Dizem hoje: mas o teto de gastos não
funciona, tanto que já foi furado muitas vezes. É como furar o cano e depois
dizer que não presta porque tem muitos vazamentos. Ridículo. Mas foi o que
fizeram no governo Bolsonaro — colocando várias despesas extratexto. O
governo Lula,
em vez de agir como encanador, acha que faltam mais furos.
Logo, está maquinando um “novo arcabouço
fiscal” baseado na seguinte história: primeiro, o governo toma mais dinheiro do
contribuinte, aumenta os impostos; depois toma mais dinheiro emprestado, faz
mais dívida; e aumenta o gasto.
Como isso, segue a teoria Haddad, gerará um
forte crescimento do PIB, as relações gasto/PIB
e dívida/PIB cairão lá na frente, bem na frente. Assim, lá está o ministro no
palco anunciando ao distinto público: nada nesta mão, nada nesta outra, e eis
aqui o ajuste fiscal.
Olha para público e diz: acreditem!
Olha para o Congresso e recomenda: aprovem!
(Ou perdem as verbas.)
Dá uma piscadela para o presidente do Banco
Central e cobra: reduza os juros.
E vamos ficar ricos.
A coisa só para de pé se for verdade que,
primeiro, o governo gasta melhor que o setor privado e, segundo, quanto mais
gasto público, mais crescimento econômico. Mas, se isso for verdade, não
precisa fazer mais nada: a gente não percebeu, mas o Brasil já é um país muito
rico e muito justo. Pois há décadas faz exatamente o que o governo Lula anuncia
como grande truque: mais imposto, mais dívida e mais gasto.
A sério: a regra do teto de gastos, se
respeitada, exigiria que o governo, qualquer governo, fosse mais eficiente e
mais produtivo na gestão dos gastos. Mas como isso dá trabalho e exige mais
conhecimento econômico e sabedoria política, o tal novo arcabouço fiscal
proporá a repetição em grande escala dos mesmos erros passados. E vai reclamar
do mercado, da imprensa (quer dizer, de parte dela, nós inclusive) e do BC por
não acreditarem na mágica.
Eta nóis!
4 comentários:
Sardenberg, senil e decadente, quem diria, travou no tempo do Temer, sete anos atrás.
Maldição da deusa que castiga os jornalistas mentirosos a soldo
Perfeito.
Analista incompetente, papagaio dos interesses dos "Mercados" que ele tanto idolatra!
Carácoles!
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