Blog do Noblat / Metrópoles
A elite política e intelectual portuguesa
acompanha o Brasil e sabe a diferença entre os dois anos de Temer e os quatro
do Bolsonaro
As falas do Presidente Lula em Pequim e em
Abu Dhabi provocaram descontentamento entre os países que defendem a Ucrânia
contra a invasão russa. O próprio presidente reconheceu o erro e reduziu o impacto
negativo de suas declarações ao dizer depois que a Rússia fez uma invasão.
Também repercutiu mal, embora de forma restrita apenas a Portugal, a declaração
de que o Brasil ficou pária durante seis anos, misturando Temer e Bolsonaro,
José Serra e Aloysio Nunes com Ernesto Araújo.
A elite política e intelectual portuguesa acompanha o Brasil e sabe a diferença entre os dois anos de Temer e os quatro do Bolsonaro. Temer fez uma visita de Estado a Portugal e recebeu o presidente deste país em uma grande visita oficial. Todos sabem que seus dois ministros, Serra e Aloysio, fizeram uma política externa com presença no mundo. Não foi uma declaração sintonizada com a realidade da história recente de nossa política externa.
Do ponto de vista da luta contra o
autoritarismo, não tem lógica tratar Bolsonaro e seus ministros como iguais a
Temer e seus ministros. Esta declaração não ajuda quando olhamos para 2026,
sabendo que o bolsonarismo ainda vai estar ativo e precisaremos reeleger Lula,
o que requer apoio de muitos dos que estiveram no governo Temer. Muito
provavelmente os ministros do Temer votaram no Lula desde o primeiro turno,
como Aloysio Nunes, provavelmente todos votaram no turno final.
A fala do Presidente Lula repercute mal em
Portugal, onde Temer é respeitado como acadêmico e promoveu boas relações com o
país, e não ajuda a consolidar a imagem do Lula Estadista Planetário,
preocupado com os grandes problemas do mundo. Era momento dele de dar uma
mensagem clara sobre a desumanidade como a Europa tratamento aos imigrantes. O
presidente do Brasil perdeu a chance de falar para o mundo, dar uma lição de
como a Europa deve tratar do problema da migração em massa. Sugerir formas para
enfrentar com humanismo a tragédia dos afogados no caminho, barrados na
fronteira ou excluídos dentro dos países onde penetraram.
Perdeu esta chance por falar no Exterior
mirando seus aliados internos, como se fazia nos quatro anos anteriores. Ainda
mais ajudando Bolsonaro ao identifica-lo com Temer.
Mas talvez o maior problema desta fala do
Lula não esteja nele, mas no fato de que neste seu terceiro mandato ele parece
não ter pessoas com autoridade para criticá-lo, e sugerir caminhos e falas
diferentes do que ele projeta e fala. Sem críticos que alertem, nenhum
governante é bem sucedido, e nós precisamos do sucesso de Lula, por isto
precisamos que ele tenha aliados que não fiquem no assustado silêncio
bajulador, prefiram alertar ao presidente das consequências de suas falas.
Especialmente no Itamaraty.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador.
2 comentários:
■Sinto muito, Cristóvam, mas em nenhuma situação eu voto nem em Lula, nem em Bolsonaro:::
▪Entre Lula e Bolsonaro, eu acho que quem escolhe Lula para derrotar Bolsonaro está alimentando Bolsonaro, além de alimentar Lula ; e quem escolhe Bolsonaro para derrotar Lula está alimentando Lula, além de alimentar Bolsonaro.
▪Dentro deste quadro de polarização, fortalecer um promove uma reação dos que o rejeitam que leva ao fortalecimento do outro. E assim nós vamos acabar presos em um círculo danoso sem fim e pulando de um populismo ao outro.
●Motivos para não votar nem em um, nem em outro?
■Em Bolsonaro não se vota quando se é democrata porque votar em Bolsonaro é claramente votar contra a democracia.
■Votar em Lula não é votar a favor da democracia e ainda estimula uma reação dos antipetistas que favorece Bolsonaro.
▪Você, Cristovam, foi dos primeiros a passar a narrativa nas eleições de 2022 de que votar em Lula seria um voto para derrotar Bolsonaro pela democracia. Estamos vendo que não!
▪Nem Lula assimilou este argumento da democracia contra Bolsonaro:: Lula continua se associando aos interesses de ditaduras e autocratas como sempre fez e ele e o PT quase todos os dias atacam o mundo livre e democrático. Isso para não tocar nas opções populistas na economia que Lula faz e que atingem a democracia.
■Se nas eleições de 2026 uma opção contra o Bolsonarismo antidemocrático for o PT e o PT se apresentar com um candidato que seja um exemplo de democracia e que, sem fazer curvas, se comprometa em um documento com a democracia (e com o combate à corrupção, mesmo se os atingidos forem petistas graduados), eu penso que não cabe preconceito e pode-se pensar no voto em candidato do PT. Mas voto em Lula, não!
Lula,com todos os erros,é infinitamente superior ao Bolsonaro.
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