Folha de S. Paulo
Ataque a jornalistas mostra como poder
público ainda é incapaz de lidar com a liberdade de imprensa
O jornalismo teve uma semana difícil.
Agressão e intimidação de profissionais pelo poder público expõem como ainda
somos incapazes de lidar com a liberdade de imprensa.
Na terça (30), jornalistas foram agredidos por seguranças do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, quando se preparavam para uma entrevista coletiva no Itamaraty. Na confusão, um agente a serviço do GSI desferiu um soco no peito da jornalista Delis Ortis. Trata-se de um barbarismo autoritário comum na ditadura venezuelana, mas inaceitável em qualquer regime democrático.
No dia seguinte, o presidente da Petrobras,
Jean Paul Prates, intimidou publicamente a jornalista Malu Gaspar. Em postagem
no Twitter, acusou Gaspar de inventar informações e atribuí-las a fontes da
empresa. De modo infantil e destemperado, riscou digitalmente, em letras
vermelhas garrafais, a palavra "fake" no print da notícia que o desagradou.
Jornalistas trabalham com fontes que, por
lei, podem ser mantidas anônimas. Além disso, Gaspar tem trabalho reconhecido e
de longa data na cobertura jornalística da Petrobras. Se informações sobre um
novo escândalo de corrupção envolvendo a empresa vazarem, profissionais de
imprensa deveriam esperar que a direção confirme o crime para poderem noticiar?
Prates demonstrou ignorância sobre a
atividade jornalística e o papel primordial que ela exerce na fiscalização do
poder público. Ademais, e mais preocupante, escancarou autoritarismo ao
intimidar a profissional. Se um órgão público discorda de uma informação, há
meios mais elegantes e republicanos para divulgar descontentamento —através das
assessorias de imprensa que mantêm contato com jornais, por exemplo.
Curiosamente, duas mulheres. Um dos motes
do feminismo é "Mexeu com uma, mexeu com todas". Na última semana,
mexeram com duas. Mas, ao contrário do que aconteceria se estivéssemos sob Jair
Bolsonaro (PL), nem todas se afetaram.
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