Folha de S. Paulo
Governo mostrou que renovou agenda
regional, mas apoio a Maduro é inaceitável
Promovida pelo presidente Lula, a reunião
dos governantes
sul-americanos, na terça-feira (30), marca o reingresso do país à esfera
política regional, depois do isolamento imposto por Jair Bolsonaro. Eis uma boa
oportunidade para rever as experiências anteriores que não convém repetir.
No passado, a linha adotada pelos governos do PT assentou-se em três pilares: a integração comercial por meio do Mercosul; a integração física com a Iirsa (Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana) e a concertação política com a Unasul (União de Nações Sul-americanas). Seus objetivos, fomentar o comércio inter-regional, adensar as conexões das redes de transporte e energia e manter a paz, o diálogo e certa autonomia frente aos Estados Unidos.
Os resultados, porém, decepcionaram: além
de crescer pouco, os fluxos intrarregionais perderam importância para as trocas
de cada país com a China; faltaram recursos para projetos de infraestrutura
plurinacionais; e, para mal dos pecados, a entrada de empresas brasileiras de
construção pesada na vizinhança produziu grandes escândalos de corrupção.
O diálogo ficou ao sabor dos alinhamentos
políticos entre governos, para naufragar de vez quando presidentes de esquerda
foram substituídos por direitistas.
A Unasul, fundada em 2008, foi o único dos
três pilares fincado no período petista. A proposta de Lula para reanimá-la
agora encontrou resistência de países que criticaram sua estreita politização.
Reconstruir um fórum de diálogo dependerá
assim de evitar o que a inviabilizou e de buscar o que pode tornar relevante
uma nova iniciativa de concertação. Fazer dela um espaço onde caibam todos os
Estados, sejam quais forem as orientações políticas dos respectivos governantes
de turno, é a primeira providência. Transformá-la em arena de discussão de
temas regionais importantes e unificadores deve-se lhe seguir de perto.
Finalmente, numa zona de periódicas turbulências políticas, será crucial criar
incentivos para que seus membros respeitem as regras democráticas.
Do Brasil, o desafio demanda uma política
exterior pragmática, que inclua todos os países da região; contida, para
prevenir a exibição de simpatias políticas por tal ou qual governo que amanhã
poderá ser substituído por seu adversário; inequívoca na defesa da economia
sustentável e do regime de liberdades.
A fala de Lula na abertura do encontro de
Brasília mostrou a adesão de seu governo a uma agenda regional renovada. Fora
de hora e de lugar —de fato, inaceitáveis— foram porém as suas derramadas
boas-vindas ao ditador venezuelano Nicolás Maduro.
*Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.
Um comentário:
É isto aí.
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