terça-feira, 29 de agosto de 2023

Alvaro Costa e Silva - Os celulares da máfia

Folha de S. Paulo

Celulares são o maior alvo e a desgraça dos criminosos

O bote, o susto e já era. Só contando 2022, o Brasil teve um milhão de roubos e furtos de celulares —média de dois por minuto. Um aumento de 16% em relação ao ano anterior, número que deve subir em 2023. Em São Paulo foram quase 350 mil aparelhos levados na mão grande.

No início deste mês, a Polícia Civil prendeu no centro histórico da capital paulista um imigrante de Guiné-Bissau apontado como o maior receptador de celulares em atuação no país. Eles são furtados e roubados nas ruas, estações do metrô ou dentro de carros parados no trânsito (nessa hora entra em cena a gangue "quebra-vidro"). Na segunda etapa do esquema, os criminosos desbloqueiam os aparelhos e têm acesso aos dados das vítimas. Celulares também são enviados ao exterior, principalmente a países da África, para driblar o bloqueio da Anatel.

Alvo preferencial da bandidagem, o celular é paradoxalmente a desgraça dos chefões do crime quando investigadores têm acesso ao seu conteúdo. Em "Os Infiltrados", o filme dirigido por Martin Scorsese sobre a máfia irlandesa de Boston, a utilização dos aparelhos é tão importante que, sem eles, a história não poderia ser contada. Numa cena crucial, o espião da polícia liga para o celular do espião da máfia sem saber quem está do outro lado da linha, e tudo se esclarece.

Preso desde maio, o faz-tudo fardado Mauro Cid lamenta até hoje não ter jogado o smartphone no fundo do mar. Ainda procurador-geral da República, Augusto Aras, ao aparecer numa mensagem de zap agindo para proteger o empresário bolsonarista Meyer Nigri, destruiu sua credibilidade de vez.

E qual é o potencial explosivo dos quatro celulares de Frederick Wassef, um dos quais reservado só para conversas com Bolsonaro? São mais de mil gigabytes de informações. Neles, podem estar guardados dois rascunhos: o da trama golpista e o da operação de lavagem de dinheiro em favor do ex-presidente.

 

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