Folha de S. Paulo
Celulares são o maior alvo e a desgraça dos
criminosos
O bote, o susto e já era. Só contando 2022,
o Brasil teve um milhão de roubos e furtos de celulares —média de dois por
minuto. Um aumento de 16% em relação ao ano anterior, número que deve subir em
2023. Em São Paulo foram quase 350 mil aparelhos levados na mão grande.
No início deste mês, a Polícia Civil prendeu no centro histórico da capital paulista um imigrante de Guiné-Bissau apontado como o maior receptador de celulares em atuação no país. Eles são furtados e roubados nas ruas, estações do metrô ou dentro de carros parados no trânsito (nessa hora entra em cena a gangue "quebra-vidro"). Na segunda etapa do esquema, os criminosos desbloqueiam os aparelhos e têm acesso aos dados das vítimas. Celulares também são enviados ao exterior, principalmente a países da África, para driblar o bloqueio da Anatel.
Alvo preferencial da bandidagem, o celular
é paradoxalmente a desgraça dos chefões do crime quando investigadores têm
acesso ao seu conteúdo. Em "Os Infiltrados", o filme dirigido por
Martin Scorsese sobre a máfia irlandesa de Boston, a utilização dos aparelhos é
tão importante que, sem eles, a história não poderia ser contada. Numa cena
crucial, o espião da polícia liga para o celular do espião da máfia sem saber
quem está do outro lado da linha, e tudo se esclarece.
Preso desde maio, o faz-tudo fardado Mauro Cid lamenta
até hoje não ter jogado o smartphone no fundo do mar. Ainda procurador-geral da
República, Augusto Aras,
ao aparecer numa mensagem de zap agindo para proteger o empresário bolsonarista
Meyer Nigri, destruiu sua credibilidade de vez.
E qual é o potencial explosivo dos quatro
celulares de Frederick Wassef, um dos quais reservado só para conversas com
Bolsonaro? São mais de mil gigabytes de informações. Neles, podem estar
guardados dois rascunhos: o da trama golpista e o da operação de lavagem de
dinheiro em favor do ex-presidente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário