Valor Econômico
Projeção da expansão brasileira ainda fica
abaixo da média daquela dos países em desenvolvimento
Organizações internacionais continuam a ser
surpreendidas pelo crescimento da economia brasileira neste ano e fazem
revisões enormes, ao mesmo tempo que alertam para menor expansão no ano que
vem.
Nesta quarta-feira, é a vez da Agência das
Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) quase triplicar a
projeção de expansão da economia brasileira para 3,3% em 2023, comparado a projeção
anterior de 0,9%.
Ou seja, o Brasil cresce acima da média mundial de 2,4%, mas continuará abaixo da média de crescimento de 3,9% esperada para os países em desenvolvimento em geral.
A revisão da projeção brasileira significa
2.4 pontos percentuais a mais, a segunda maior feita no conjunto dos países
examinados. Só fica atrás da revisão feita para a Rússia (passou de -0,6% para
+2,2%). Recentemente, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) também revisou para cima sua estimativa para o Brasil para 3,2% em 2023.
Para 2024, enquanto a OCDE prevê taxa de
expansão de 1,7% no Brasil, a Unctad é mais otimista e crava taxa de 2,3% -
enquanto a média mundial prevista é de 2,5%. O crescimento brasileiro
continuará também abaixo da média do grupo de países em desenvolvimento,
esperado para ser de 4% e impulsionado por taxas mais altas na Ásia.
A agência da ONU nota que, na América do Sul,
a Argentina e o Brasil, que, juntos, respondem por quase 70% da produção da
região, experimentam desenvolvimentos diferentes. No Brasil, a expansão das
exportações de commodities e as colheitas abundantes impulsionam um aumento no
crescimento, de 2,9% em 2022 para 3,3% em 2023.
No entanto, diz a Unctad, ‘as forças
negativas da demanda que pesam sobre o crescimento incluem os impactos tardios
do aperto monetário, que começou no final de 2021 e que elevou a taxa de juros
de curto prazo do real brasileiro para 9% no início deste ano, além do aumento
da dívida privada, especialmente das famílias, durante a crise da covid-19’.
Avalia que uma expansão fiscal significativa em 2023 deve compensar essas
forças recessivas, mas o impulso fiscal para 2024, embora ainda sujeito a
negociações políticas, deve se tornar negativo, reduzindo o crescimento do PIB
para menos de 3%.
Crescimento
continua a despencar na Argentina — Foto: Imagem Valor Econômico
A Argentina, por sua vez, está passando por
uma recessão e por uma inflação acelerada. Uma seca severa aumentou o preço dos
alimentos e da energia, e a inflação bate recorde, com efeitos negativos
significativos sobre o poder de compra das famílias, especialmente entre os
segmentos mais pobres da população. Essa situação provocou uma corrida à moeda
estrangeira e a desvalorização da moeda. A política fiscal tornou-se
contracionista porque a inflação alta corrói os gastos reais mais rapidamente
do que a receita tributária, mas o aperto fiscal induzido não foi suficiente
para controlar os preços. A projeção é de contração de 2,4% da economia
argentina em 2023 e de 0,6 no ano que vem.
Globalmente, a Unctad projeta crescimento
econômico diminuindo de 3% em 2022 para 2,4% em 2023, com poucos sinais de
recuperação no próximo ano. Isso tudo apesar da aterrissagem suave da economia
americana.
A recuperação da pandemia tem sido mista.
Embora algumas economias, incluindo EUA, Japão, China, Brasil, México, Índia e
Rússia, tenham demonstrado resiliência em 2023, outras enfrentam desafios mais
assustadores.
Em cenário de desaceleração e políticas
descoordenadas, essa divergência gera preocupações sobre o caminho a seguir
pela economia global.
A desigualdade econômica continua sendo um
grande desafio, com os países em desenvolvimento afetados de forma desproporcional,
inclusive pelos efeitos do aperto monetário nas economias avançadas, diz a
Unctad. Essa crescente diferença de riqueza ameaça minar a frágil recuperação
econômica e as aspirações das nações de atingir os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) em 2030.
Os salários não acompanharam o ritmo da
inflação. A dívida continua a pesar sobre muitos países em desenvolvimento. O
aumento das taxas de juros, o enfraquecimento das moedas e o fraco crescimento
das exportações se combinaram para reduzir a margem de manobra do orçamento de
vários países.
"Para salvar a economia global de
futuras crises sistêmicas, devemos evitar os erros políticos do passado e
adotar uma agenda de reformas positivas", disse a secretária-geral da
Unctad, Rebeca Grynspan.
"Precisamos de uma combinação
equilibrada de medidas fiscais, monetárias e do lado da oferta para garantir a
sustentabilidade financeira, estimular o investimento produtivo e criar
melhores empregos. A regulamentação deve abordar as crescentes assimetrias no comércio
internacional e no sistema financeiro," acrescentou.
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