quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Assis Moreira - Unctad prevê agora que Brasil crescerá 3,3% em 2023

Valor Econômico

Projeção da expansão brasileira ainda fica abaixo da média daquela dos países em desenvolvimento

Organizações internacionais continuam a ser surpreendidas pelo crescimento da economia brasileira neste ano e fazem revisões enormes, ao mesmo tempo que alertam para menor expansão no ano que vem.

Nesta quarta-feira, é a vez da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) quase triplicar a projeção de expansão da economia brasileira para 3,3% em 2023, comparado a projeção anterior de 0,9%.

Ou seja, o Brasil cresce acima da média mundial de 2,4%, mas continuará abaixo da média de crescimento de 3,9% esperada para os países em desenvolvimento em geral.

A revisão da projeção brasileira significa 2.4 pontos percentuais a mais, a segunda maior feita no conjunto dos países examinados. Só fica atrás da revisão feita para a Rússia (passou de -0,6% para +2,2%). Recentemente, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também revisou para cima sua estimativa para o Brasil para 3,2% em 2023.

Para 2024, enquanto a OCDE prevê taxa de expansão de 1,7% no Brasil, a Unctad é mais otimista e crava taxa de 2,3% - enquanto a média mundial prevista é de 2,5%. O crescimento brasileiro continuará também abaixo da média do grupo de países em desenvolvimento, esperado para ser de 4% e impulsionado por taxas mais altas na Ásia.

A agência da ONU nota que, na América do Sul, a Argentina e o Brasil, que, juntos, respondem por quase 70% da produção da região, experimentam desenvolvimentos diferentes. No Brasil, a expansão das exportações de commodities e as colheitas abundantes impulsionam um aumento no crescimento, de 2,9% em 2022 para 3,3% em 2023.

No entanto, diz a Unctad, ‘as forças negativas da demanda que pesam sobre o crescimento incluem os impactos tardios do aperto monetário, que começou no final de 2021 e que elevou a taxa de juros de curto prazo do real brasileiro para 9% no início deste ano, além do aumento da dívida privada, especialmente das famílias, durante a crise da covid-19’. Avalia que uma expansão fiscal significativa em 2023 deve compensar essas forças recessivas, mas o impulso fiscal para 2024, embora ainda sujeito a negociações políticas, deve se tornar negativo, reduzindo o crescimento do PIB para menos de 3%.

Crescimento continua a despencar na Argentina — Foto: Imagem Valor EconômicoCrescimento continua a despencar na Argentina — Foto: Imagem Valor Econômico

A Argentina, por sua vez, está passando por uma recessão e por uma inflação acelerada. Uma seca severa aumentou o preço dos alimentos e da energia, e a inflação bate recorde, com efeitos negativos significativos sobre o poder de compra das famílias, especialmente entre os segmentos mais pobres da população. Essa situação provocou uma corrida à moeda estrangeira e a desvalorização da moeda. A política fiscal tornou-se contracionista porque a inflação alta corrói os gastos reais mais rapidamente do que a receita tributária, mas o aperto fiscal induzido não foi suficiente para controlar os preços. A projeção é de contração de 2,4% da economia argentina em 2023 e de 0,6 no ano que vem.

Globalmente, a Unctad projeta crescimento econômico diminuindo de 3% em 2022 para 2,4% em 2023, com poucos sinais de recuperação no próximo ano. Isso tudo apesar da aterrissagem suave da economia americana.

A recuperação da pandemia tem sido mista. Embora algumas economias, incluindo EUA, Japão, China, Brasil, México, Índia e Rússia, tenham demonstrado resiliência em 2023, outras enfrentam desafios mais assustadores.

Em cenário de desaceleração e políticas descoordenadas, essa divergência gera preocupações sobre o caminho a seguir pela economia global.

A desigualdade econômica continua sendo um grande desafio, com os países em desenvolvimento afetados de forma desproporcional, inclusive pelos efeitos do aperto monetário nas economias avançadas, diz a Unctad. Essa crescente diferença de riqueza ameaça minar a frágil recuperação econômica e as aspirações das nações de atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em 2030.

Os salários não acompanharam o ritmo da inflação. A dívida continua a pesar sobre muitos países em desenvolvimento. O aumento das taxas de juros, o enfraquecimento das moedas e o fraco crescimento das exportações se combinaram para reduzir a margem de manobra do orçamento de vários países.

"Para salvar a economia global de futuras crises sistêmicas, devemos evitar os erros políticos do passado e adotar uma agenda de reformas positivas", disse a secretária-geral da Unctad, Rebeca Grynspan.

"Precisamos de uma combinação equilibrada de medidas fiscais, monetárias e do lado da oferta para garantir a sustentabilidade financeira, estimular o investimento produtivo e criar melhores empregos. A regulamentação deve abordar as crescentes assimetrias no comércio internacional e no sistema financeiro," acrescentou.

 

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