O Estado de S. Paulo
Presidente pediu para Tebet avalizar empréstimo de US$ 1 bi do CAF para a Argentina
Era uma sexta-feira do fim de agosto quando o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que tinha urgência em falar com
Simone Tebet. A ministra do Planejamento não estava em Brasília, mas foi logo
contatada por telefone. A pressa de Lula não era à toa: o Brasil precisava
autorizar, ainda naquele mês, uma operação para que o Banco de Desenvolvimento
da América Latina (CAF) concedesse empréstimo de US$ 1 bilhão à Argentina.
Com participação de 37,3% no capital do CAF, batizado em seu nascimento como Comunidade Andina de Fomento, o Brasil tem o maior peso nas decisões do banco. Em situação econômica dramática, com inflação de mais de 100% ao ano e sem dólares na praça, a Argentina necessitava do empréstimo ponte para o FMI liberar um desembolso de US$ 7,5 bilhões.
Tebet é a governadora do Brasil no CAF e por
isso a operação de socorro precisava do seu aval. A rigor, o país vizinho não
poderia mais ter acesso aos recursos porque já havia esgotado o limite de
crédito.
Lula, porém, entrou em cena e os
países-membros do CAF aprovaram a transferência de US$ 1 bilhão diretamente
para o FMI, em nome da Argentina.
Dos 21 países que compõem o CAF, somente o
Peru votou contra. De lá para cá se passou um mês e hoje faltam menos de três
semanas para a eleição que vai definir o sucessor de Alberto Fernández na Casa
Rosada.
A possibilidade de vitória de Javier Milei,
político visto como a versão piorada de Jair Bolsonaro, provoca cada vez mais
pânico no Planalto.
Líder populista com um discurso
antiestablishment, Milei prega a dolarização do país, a saída do Mercosul e a
extinção do Banco Central. Auxiliares de Lula classificam a eventual ascensão
do deputado argentino como um desastre. Tanto que o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, chegou a dizer que “o Mercosul está em risco”.
Defensor do libertarianismo, Milei já
insultou os dois principais parceiros comerciais da Argentina: chamou Lula de
“socialista com vocação totalitária” e descreveu a China como “governo de
assassino”.
O Planalto tem feito tudo para dar uma força
ao ministro da
Economia, Sergio Massa, que disputa a cadeira
de Fernández. Mas a briga está cada vez mais difícil para o peronista.
A eleição na Argentina é no próximo dia 22 e
tudo indica que haverá segundo turno. Diante do cenário de incertezas, Lula
decidiu partir para o “tudo ou nada”. A estratégia é ancorada por um
diagnóstico pragmático: o possível triunfo de Milei ressuscita um polo de
extrema direita na América Latina. Perto dessa hecatombe, a partilha de mais
cargos com o Centrão virou apenas uma pimentinha nos olhos de Lula.
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