O Estado de S. Paulo
O governo Lula condenou, sim, a agressão a
Israel, mas condenou de maneira envergonhada, na base do breque de mão puxado.
Nem chegou a mencionar o Hamas, como o movimento terrorista agressor.
No passado, também não condenou as Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). E hoje, sem disfarces, apoia
governos ditatoriais, como os da Nicarágua, de Cuba e da Venezuela. Como também
apoiou a indicação do Irã como novo integrante do Brics.
Mas esta não é prerrogativa apenas do governo Lula. As esquerdas tradicionais se mostram incapazes de fazer opção clara pela democracia quando está ameaçada ou quando sucumbe a ditaduras supostamente de esquerda. O PSOL, por exemplo, liderado pelo deputado federal Guilherme Boulos, também foi incapaz de condenar a ação terrorista do Hamas.
As esquerdas convencionais do Brasil estão
hoje divididas em dois segmentos de difícil conciliação. As mais tradicionais,
de orientação socialista ou social-democrata, mantêm seu diagnóstico básico na
luta de classes e estão engajadas contra as desigualdades, pela proteção dos
trabalhadores e dos mais pobres. O outro segmento optou pelas pautas tidas como
identitárias, a favor da emancipação dos povos autóctones (indígenas), dos
direitos reprodutivos e das mulheres, da população negra e da população LGBT+.
Esses dois segmentos mantêm no Brasil enormes
dificuldades de diálogo com mais três setores.
O primeiro deles é o ambientalista. Essas
esquerdas continuam presas ao conceito de que a luta pela descarbonização e
pela transição energética, que tem como objetivo a substituição dos
combustíveis fósseis pelos limpos, é bandeira neocolonialista dos países ricos,
os que mais contribuíram para desflorestar, dizimar a fauna (como a dos bisões
nos Estados Unidos), poluir os rios, despejar lixo nos oceanos e lançar gases
poluentes na atmosfera, e agora condicionam o acesso a seus mercados ao
cumprimento de metas irrealistas pelos países em desenvolvimento.
Um segundo segmento com que as esquerdas do
Brasil têm grande dificuldade de lidar são os evangélicos, não só pelas pautas
conservadoras em matéria de costumes que defendem, mas, também, pela sua
pregação por uma nova ética do trabalho, baseada na atuação independente do
trabalhador, desligada dos sindicatos, em que o indivíduo deve tratar de ser
patrão de si mesmo.
O terceiro setor com que as esquerdas têm
diálogo difícil é o do agronegócio, cuja grande expansão País afora vem
produzindo uma mentalidade modernizadora em termos de acesso à tecnologia, mas
que adota valores mais próximos do conservadorismo.
Assim como não sabem que tratamento dar à
área de segurança pública, essas contradições das esquerdas acabam por criar
distorções na formulação e na execução de políticas públicas quando compõem um
governo como o do PT.
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