Folha de S. Paulo
Livro defende que racismo e outras mazelas
devem ser combatidos com políticas universalistas
"The Identity Trap" (a armadilha da identidade), de Yascha Mounk, é um livro polêmico. A ala dos progressistas que
acredita na importância de valores e regras universais será só elogios para a
obra, que cairá no opróbrio dos grupos que veem ações afirmativas como o
principal, senão o único, caminho para a justiça social.
Independentemente da posição pessoal de cada um, acho que Mounk fez um livro honesto. Ele traça uma história até detalhada das ideias que embasam a militância dos grupos identitários. Começa com Foucault e Fanon e vai até Ibram Kendi e Judith Butler, passando por Crenshaw. Mounk é elegante e respeitoso, sempre destacando os muitos pontos em que, a seu ver, esses autores acertam em suas críticas.
Ele também tenta entender por que ideias
identitárias se tornaram tão populares, às vezes até hegemônicas, em
universidades, grandes empresas e na mídia, ainda que não gozem de tanto
prestígio em várias coortes populacionais. Ele fala principalmente dos EUA, mas
muitas de suas observações valem para outros países.
O principal argumento do autor contra a
ênfase em identidades vem da psicologia social. A literatura é farta em
demonstrações experimentais de como as pessoas se sentem à vontade para
dividir-se em grupos, muitas vezes artificiais, que rapidamente se antagonizam
com outros grupos percebidos como rivais. Estimular essa tendência, em vez de
combatê-la, é, na visão de Mounk, um erro. E um que custa caro em termos de
coesão social. O rastro de ressentimentos que o discurso identitário deixa é um dos
ingredientes do fortalecimento da extrema direita em vários países.
O ponto central de Mounk é que é possível, e
socialmente mais produtivo, combater o racismo e
outras mazelas que afetam minorias com discursos e políticas universalistas,
que destaquem a humanidade comum entre as pessoas e não suas diferenças
tópicas. A mim ao menos o argumento soa convincente.
Um comentário:
O ser humano adora uma encrenca.
Postar um comentário