segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Humberto Saccomandi - Ataque acaba com sensação de relativa segurança em Israel

Valor Econômico

Maior ação palestina em décadas tira de Israel a crença de que poderia evitar ou conter ataques palestinos sem sofrer muito danos nem muitas vítimas

Quais são os possíveis objetivos da maior ação palestina contra Israel em décadas? Há dois bastante evidentes.

O primeiro diz respeito ao Irã, que é o patrocinador do Hamas, o grupo extremista palestino que controla a Faixa de Gaza.

Conflitos com Israel costumam atrair a simpatia da população dos países islâmicos para com os palestinos. Ainda que a solidariedade desses países com a causa palestina tenha diminuído muito nas últimas décadas (ninguém cogita hoje uma disparada do petróleo por conta de um apoio árabe aos palestinos), ações contra Israel continuam sendo motivo de jubilo na maioria dos países da região.

O ataque deste sábado (07) acontece num momento em que a Arábia Saudita, o principal país do islamismo sunita, ensaia uma aproximação com Israel. Isso provavelmente não é uma coincidência.

A ação palestina possivelmente visa sabotar essa aproximação de Israel com a Aábia Saudita e alguns outros países árabes. Hoje mesmo, o Irã congratulou os palestinos pelo ataque. O Catar atribuiu a Israel a responsabilidade pela escalada de violência. Já a Arábia Saudita, sob a liderança do príncipe-regente Mohammed bin Salman, pediu a interrupção imediata da violência, sem apoiar os palestinos nem condenar Israel.

Essa será uma posição incômoda para os sauditas, especialmente se o conflito se prolongar. E há o risco de isso ocorrer, já que os palestinos capturaram e levaram para Gaza dezenas de militares e civis israelenses, que deverão ser usados como escudo para tentar dissuadir Israel de ataques maciços a Gaza.

Um outro objetivo evidente é mostrar a Israel que o país nunca terá segurança enquanto o conflito com os palestinos persistir.

O Hamas conseguiu lançar um ataque inédito, tanto pela dimensão como pelo fator surpresa. Com isso, o grupo alerta Israel de que terá sempre armas e capacidades cada vez mais sofisticadas e de que tem a disposição de usá-las, conseguindo eventualmente burlar tanto a inteligência como as defesas israelenses.

Desta vez podem ser algumas centenas de vítimas israelenses, entre civis e militares. Mas e daqui a três, cinco ou dez anos? E se o Hamas obtiver alguma arma de destruição em massa?

O ataque de hoje tira Israel de uma espécie de zona de conforto em que o país esteve por um bom tempo, na crença de que poderia evitar ou conter ataques palestinos sem sofrer muito danos nem muitas vítimas. Essa crença estimulou, inclusive, a disposição israelense de ampliar os assentamentos judeus em territórios palestinos ocupados, já que a capacidade de reação palestina parecia ser limitada e controlada.

Com poderio muito superior, Israel deverá prevalecer militarmente nesta nova guerra, ainda que a questão dos reféns seja um complicador sério. Mas a sensação de relativa segurança em que a sociedade israelense vivia até o ataque de hoje não voltará tão cedo. Isso terá repercussões importantes no país e no restante do Oriente Médio.

 

 

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