Valor Econômico
Maior ação palestina em décadas tira de
Israel a crença de que poderia evitar ou conter ataques palestinos sem sofrer
muito danos nem muitas vítimas
Quais são os possíveis objetivos da maior
ação palestina contra Israel em décadas? Há dois bastante
evidentes.
O primeiro diz respeito ao Irã, que é o
patrocinador do Hamas, o grupo extremista palestino que controla a Faixa de
Gaza.
Conflitos com Israel costumam atrair a simpatia da população dos países islâmicos para com os palestinos. Ainda que a solidariedade desses países com a causa palestina tenha diminuído muito nas últimas décadas (ninguém cogita hoje uma disparada do petróleo por conta de um apoio árabe aos palestinos), ações contra Israel continuam sendo motivo de jubilo na maioria dos países da região.
O ataque deste sábado (07) acontece num
momento em que a Arábia Saudita, o principal país do islamismo sunita, ensaia
uma aproximação com Israel. Isso provavelmente não é uma coincidência.
A ação palestina possivelmente visa sabotar
essa aproximação de Israel com a Aábia Saudita e alguns outros países árabes.
Hoje mesmo, o Irã congratulou os palestinos pelo ataque. O Catar atribuiu a
Israel a responsabilidade pela escalada de violência. Já a Arábia Saudita, sob
a liderança do príncipe-regente Mohammed bin Salman, pediu a interrupção
imediata da violência, sem apoiar os palestinos nem condenar Israel.
Essa será uma posição incômoda para os sauditas,
especialmente se o conflito se prolongar. E há o risco de isso ocorrer, já que
os palestinos capturaram e levaram para Gaza dezenas de militares e civis
israelenses, que deverão ser usados como escudo para tentar dissuadir Israel de
ataques maciços a Gaza.
Um outro objetivo evidente é mostrar a Israel
que o país nunca terá segurança enquanto o conflito com os palestinos
persistir.
O Hamas conseguiu lançar um ataque inédito, tanto pela dimensão como pelo fator surpresa. Com isso, o grupo alerta Israel de que terá sempre armas e capacidades cada vez mais sofisticadas e de que tem a disposição de usá-las, conseguindo eventualmente burlar tanto a inteligência como as defesas israelenses.
Desta vez podem ser algumas centenas de
vítimas israelenses, entre civis e militares. Mas e daqui a três, cinco ou dez
anos? E se o Hamas obtiver alguma arma de destruição em massa?
O ataque de hoje tira Israel de uma espécie
de zona de conforto em que o país esteve por um bom tempo, na crença de que
poderia evitar ou conter ataques palestinos sem sofrer muito danos nem muitas
vítimas. Essa crença estimulou, inclusive, a disposição israelense de ampliar
os assentamentos judeus em territórios palestinos ocupados, já que a capacidade
de reação palestina parecia ser limitada e controlada.
Com poderio muito superior, Israel deverá prevalecer militarmente nesta nova guerra, ainda que a questão dos reféns seja um complicador sério. Mas a sensação de relativa segurança em que a sociedade israelense vivia até o ataque de hoje não voltará tão cedo. Isso terá repercussões importantes no país e no restante do Oriente Médio.
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