O Globo
O secretário-geral da Opep calcula que o
Brasil vai ser um dos únicos países em que a produção de petróleo vai continuar
crescendo até 2030
O secretário-geral da Opep, Haitham Al Ghais, acha que o preço do petróleo tem sido afetado principalmente por fatores psicológicos, já que a região do conflito Israel–Hamas não é produtora de petróleo. Perguntei o que aconteceria se alguma coisa saísse do controle como, por exemplo, a comprovação do envolvimento do Irã. “Na Opep, não vemos cenários hipotéticos”. Ontem circulou a informação, inicialmente publicada pelo “Wall Street Journal”, de que 500 integrantes do Hamas teriam feito treinamento no Irã, nas semanas anteriores. Mesmo com todo o cuidado de Al Ghais em não admitir o cenário “hipotético”, o fato é que ele existe, e o mercado de petróleo ficará pressionado enquanto durar essa guerra.
Haitham Al Ghais ficou uma semana no Brasil e
eu o entrevistei para o meu programa na GloboNews. Ele é filho de um diplomata
que foi embaixador do Kuwait no Brasil, de 1986 a 1992. Morou no Brasil na
juventude e fala um bom português, o que impressionou o presidente Lula, quando
os dois se encontraram. Ele acha que a organização e o Brasil têm que ter mais
contato.
—Na minha posição agora, achei muito estranho
que um país que produz tanto quanto o Brasil, até produz mais do que vários
membros da nossa organização, não tenha mais diálogo com a Opep.
A Opep acabou de lançar um panorama do que
vai acontecer com o mercado de energia até 2045 ( World Oil Outlook) em que
sustenta que o único consumo de combustível fóssil a cair será o carvão. O
petróleo continuaria, segundo essa visão, com a mesma parcela do mercado, que
hoje é de 30% da matriz energética mundial e aumentaria a produção de 100
milhões de barris/dia para 116 milhões. O gás e as fontes renováveis é que
crescerão nesse período para atender à demanda de energia crescente.
—Nós acreditamos que o mundo vai crescer. A
população mundial vai chegar a 9.5 bilhões de pessoas em 2045, o tamanho da
economia mundial vai dobrar. Até 2030, 500 milhões de pessoas vão se mudar para
as cidades novas no mundo inteiro. Significa que 50 ‘rios de janeiro’ vão ser
criados daqui até 2030. Tudo isso precisa de energia.
Evidentemente, ele defende a produção de
petróleo no mar da Amazônia, e explica suas razões.
—Como especialista, posso falar o seguinte: a
produção no mar não é coisa nova, nem para o Brasil, nem para a indústria do
petróleo. A tecnologia está melhorando e se desenvolvendo sempre. O Brasil é o
único país que tem pré-sal há vinte anos, que pode produzir petróleo que está
abaixo do mar a sete quilômetros. Todo mundo tem sistema de segurança para
evitar que qualquer coisa afete a natureza. A Petrobras tem tecnologia
mundialmente conhecida e recorde de segurança. Não gosto de comentar coisas
internas, mas eu acho que pode se extrair essa riqueza com segurança ambiental.
Segundo a nossa pesquisa, o Brasil vai ser um dos únicos países em que a
produção de petróleo vai continuar crescendo a quase 5.3 milhões de barris por
dia em 2030. Outros que vão crescer são Estados Unidos e Guiana.
Na visão de Haitham Al Ghais, não há conflito
entre o combate aos gases de efeito estufa e a produção crescente de petróleo e
chega a dizer “na Opep, somos todos ambientalistas”. Para sustentar o que diz
ele desfilou várias informações sobre o crescimento da produção de renováveis
em países produtores de petróleo. O Kuwait está convertendo toda a eletricidade
usada no setor petroleiro para a energia solar. A Arábia Saudita está
investindo em hidrogênio, solar e eólica. Desta forma eles conseguem descarbonizar
o processo de produção da indústria do petróleo, mas o uso dos combustíveis
sempre será o maior emissor. Ele acha que não necessariamente porque essas
emissões podem ser neutralizadas com o desenvolvimento da tecnologia de
sequestro e captura de carbono, e economia circular de carbono.
Al Ghais já foi presidente da empresa de
petróleo do Kuwait. Quem entra no site se depara com palavras como
“sustentabilidade”, “energia limpa”. Ele nega que isso indique que as empresas
de petróleo têm vergonha do que são: produtoras de energia fóssil.
— Não temos vergonha. Temos orgulho de
produzir energia para o mundo, petróleo é uma parte importante da matriz e
estamos descarbonizando nossa produção. Nossos 13 países-membros assinaram o
Acordo de Paris.
2 comentários:
Me engana que eu gosto ...
Muito bom.
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