quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Lu Aiko Otta - No Senado, reforma tributária mudou para atender preocupações dos Estados

Valor Econômico

Relator Eduardo Braga tentou acatar demandas e reduzir resistência de governadores

Na casa da Federação, o Senado Federal, a reforma tributária ganhou ajustes para problemas que vinham incomodando os governadores. Primeiro, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR) foi reforçado, passando de R$ 40 bilhões para R$ 60 bilhões, como antecipado pelo Valor.

Segundo, o Conselho Federativo foi redesenhado, perdendo os pontos que o faziam ser percebido como uma ameaça ao pacto federativo. Mudou de nome, passando a chamar Comitê Gestor, o que reforça seu caráter meramente técnico.

Incomodava os governadores o fato de o Conselho Federativo poder apresentar propostas ao Legislativo para regular os novos tributos. Agora, essa possibilidade foi eliminada. Além disso, o presidente do Comitê Gestor será submetido a sabatina no Senado — como ocorre, por exemplo, com dirigentes do Banco Central e de agências reguladoras.

Terceiro, foi estabelecido um critério para repartição dos recursos do FNDR, o que não havia sido feito quando a reforma foi votada na Câmara dos Deputados. Na repartição, os critérios do Fundo de Participação dos Estados (FPE) terão peso de 70% e a população, peso de 30%.

O Nordeste e o Centro-Oeste ainda foram beneficiados pela prorrogação, até 2032, dos benefícios fiscais para o regime automotivo. Esse alongamento havia sido rejeitado na Câmara dos Deputados por um voto.

Os cofres de Estados e municípios ganharão ainda um reforço financeiro, cujo tamanho não foi divulgado. O relatório do senador Eduardo Braga (MDB-AM) para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45, apresentado nessa quarta-feira (25), estabelece que o Imposto Seletivo poderá ser cobrado sobre atividades de extração, com alíquota máxima de 1% do valor de mercado do produto extraído. Da arrecadação, 60% serão distribuídos a Estados e municípios.

Por fim, a Zona Franca de Manaus terá sua competitividade perante o restante do país garantida com base na cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Na versão da PEC 45 aprovada na Câmara dos Deputados, a competitividade seria assegurada por meio do Imposto Seletivo.

 

Além de tentar aparar arestas no campo federativo, o senador Eduardo Braga colocou como sua marca pessoal na proposta o estabelecimento de um limite para a carga tributária sobre o consumo. Haverá um teto de referência, dado pela média de 2012 a 2021 da proporção do Produto Interno Bruto (PIB) representada pelas receitas com as contribuições PIS e Cofins e pelo Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Segundo fonte do governo, esse teto seria de 12,5% do PIB. O governo preferia que não houvesse teto.

Ao mesmo tempo em que aprovou novas exceções à alíquota-padrão, como é o caso das profissões regulamentadas, o relator também atuou para “limar” alguns pontos. Por exemplo, procurou limitar a isenção da cesta básica, ao limitá-la a um grupo de produtos e estabelecendo um segundo grupo de alimentos que contarão com alíquota reduzida. Além disso, transferiu parte do setor de transportes, que contava com alíquota favorecida, para um regime específico.

Se o saldo geral vai exigir uma alíquota maior ou menor do que a que havia sido estimada com base na versão da Câmara (25,45% a 27%), é algo que o governo ainda avalia.

Uma inovação importante foi estabelecer que as tributações favorecidas serão avaliadas a cada cinco anos. E que poderão ser suprimidas com o tempo.

Todas essas questões, porém, não afetam o cerne da proposta, que foi preservado. O alinhamento do sistema tributário brasileiro ao padrão internacional deve melhorar o ambiente de negócios no Brasil. Se tudo correr como o planejado, a reforma tributária aguardada há mais de três décadas será votada no plenário do Senado no início de novembro e passará por uma nova análise na Câmara dos Deputados, a ser concluída ainda este ano.

Falta, porém, a elaboração da legislação complementar, que será um trabalho complexo. É importante que mereça igual atenção.

 

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