sábado, 25 de novembro de 2023

Alvaro Gribel - Emprego recorde, e o PIB mais fraco

O Globo

População ocupada deve chegar a 100 milhões na Pnad de outubro, e o PIB pode vir negativo poucos dias depois

O mercado de trabalho deve bater um recorde histórico na próxima divulgação da Pnad pelo IBGE, no dia 30, referente ao mês de outubro: 100 milhões de empregados. Segundo o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o rendimento médio real também deve se aproximar de R$ 3 mil, pelo efeito da queda da inflação, e a massa real de rendimentos deve atingir o máximo da série. O curioso é que o IBGE, poucos dias depois, 5 de dezembro, deve divulgar um número fraco do PIB do terceiro trimestre, com risco de queda de 0,5%, segundo Vale. “A economia teve três anos de crescimento mais forte, puxado principalmente pela alta das commodities. Agora, já começamos a ver a desaceleração, a partir desse dado do terceiro trimestre. Como o mercado de trabalho reage sempre depois, ainda veremos esse número bom em outubro. Em 2024, no entanto, o emprego também deve começar a desacelerar”, sintetizou o economista.

Efeito na bolsa

O veto à prorrogação da desoneração da folha ajudou a derrubar o Ibovespa ontem. Embora Haddad tenha demonstrado preocupação com as contas públicas para sugerir a medida a Lula, o que agrada aos mercados, a decisão — caso não seja derrubada pelo Congresso — terá impacto sobre o caixa de muitas empresas de capital aberto, que terão aumento abrupto de custos, com risco elevado de demissões na virada do ano. Além disso, a votação para a derrubada do veto será um item a mais a congestionar a pauta no Congresso neste final de ano. A questão é por que o veto ficou para o último dia, e por que a Fazenda já não apresentou a sua contraproposta. Sérgio Vale diz que, ao não cortar gastos, o governo fica dependente do aumento de receitas: “É o preço de um arcabouço frágil”.

Alívio vem de fora

O gráfico mostra a forte queda dos juros dos títulos de 10 anos do Tesouro americano (Treasuries), o ativo financeiro mais importante do mundo, segundo investidores. Depois de bater em 4,99% no dia 19 de outubro, ele recuou para 4,45% ontem. O efeito sobre o Brasil é direto. No mesmo período, a moeda americana caiu de R$ 5,06 para R$ 4,90, e o Ibovespa engatou cinco semanas seguidas de alta (apesar da queda no dia de ontem). Segundo relatório da Genial Investimentos, entre 16 e 22 de novembro houve entrada de R$ 7,9 bilhões de capital estrangeiro na bolsa, e agora o acumulado no ano já chega a R$ 22 bilhões. Os números poderiam ser ainda melhores, não fossem os ruídos provocados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em torno da meta de déficit zero no ano que vem.

Vão-se os anéis...

A Fazenda se viu obrigada a tirar da cartola esse novo entendimento sobre os contingenciamentos do Orçamento — antecipado pelo GLOBO — para evitar a mudança da meta fiscal. Com a exceção de Haddad, Lula continua sendo mal aconselhado pelo seu entorno no campo econômico, especialmente pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann. O que chama atenção é que o vice-presidente, Geraldo Alckmin, que sempre defendeu medidas de ajustes enquanto vestiu a camiseta tucana, fala pouco sobre o tema, assim como a ministra do Planejamento, Simone Tebet. Com Haddad brigando sozinho, fica mais custoso para ele (e para o país) vencer as batalhas

...ficam os dedos

A estratégia da pasta é ganhar tempo. Mesmo sabendo que há risco de o contingenciamento ficar mesmo em R$ 53 bilhões, após posicionamento do TCU, a equipe econômica consegue evitar a mudança da meta de 2024 no curto prazo. Enquanto isso, vai tocando no Congresso as medidas de arrecadação. Se lá na frente tiver que ampliar os bloqueios, será assunto para outra hora. A propósito: Haddad e Bruno Dantas já teriam conversado sobre o tema.

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