Folha de S. Paulo
Não há mágica para tratar dependentes
químicos
O fim de semana passado prometia ter a cara
do Rio com que Eduardo Paes sonha:
diversão, alegria, ruas e praias cheias de gente, a confirmar a vocação da
cidade como destino de megaeventos. Paes ainda andava radiante com a compra de
um super-radar finlandês por R$ 6,8 milhões, capaz de detectar a formação de
chuvas a 150 quilômetros de distância, e a ampliação da parceria com a Nasa
para acesso a 25 satélites que informam sobre a possibilidade de alagamentos e
enchentes.
Veio a onda de altas temperaturas, combinada com o efeito Taylor Swift —um pesadelo de desrespeito, angústia e tristeza, que motivou uma decisão tomada no calor da hora. O prefeito usou suas redes sociais para determinar a elaboração de uma "proposta para que possamos implantar no Rio a internação compulsória de usuários de drogas". Hoje, governa-se com afobação e muitas vezes de forma leviana. Como quem tuíta.
Paes vai querer ficar um bom tempo sem ouvir
falar em Taylor Swift. A sequência trágica começou com a morte de dois jovens
sul-mato-grossenses que vieram assistir ao show da diva pop no
Engenhão, durante o qual não foi permitida a entrada de fãs com garrafinhas de
água. Em meio a desmaios, Ana Clara passou mal diante do palco. Gabriel foi
esfaqueado em Copacabana; os suspeitos, já presos, são velhos conhecidos da
polícia que circulam entre moradores de rua assaltando e consumindo drogas.
No dia do último show, outro jovem foi
encontrado perto do estádio caído no chão com quadro de parada
cardiorrespiratória; levado ao hospital, não resistiu. Segundo o secretário
Daniel Soranz, ele tinha passagem por várias unidades de saúde e havia a recomendação
para interná-lo.
O debate sobre a intervenção
compulsória de dependentes químicos é recorrente no país. Todo mundo
tem um palpite, em geral mágico. A ver se o prefeito apresenta um programa que
vá além da indignação nas redes.
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