quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Elio Gaspari - O déficit zero era rudimentar

O Globo

Lula diz que é uma metamorfose ambulante e é mais que isso. É também, desde sempre, um urso que come seus donos. Na galeria desse urso há várias cabeças, e as de Antonio Palocci, seu ministro da Fazenda, e José Dirceu, o “capitão” de seu time, são as mais conhecidas. Em algum momento, por boas razões, eles acreditaram na imagem que projetavam. Palocci expeliu-se, e Dirceu sofreu em silêncio.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não cabe nesses dois figurinos, mas só o tempo dirá o que Lula pretendeu ao se afastar da meta do déficit zero para 2024. Ela estava bichada desde o primeiro momento, desde a hora em que Haddad prometeu um crescimento inviável da arrecadação. Deu-se um caso de perigosa manipulação de expectativas. Lula, Haddad, o mercado e a torcida do Flamengo sabiam que a meta estava bichada, mas confiavam numa expectativa.

O risco embutido no episódio do café da manhã com os jornalistas é a possibilidade de repetição da joelhada que o ministro Antonio Palocci levou da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em 2005. Na ocasião, o Ministério do Planejamento anunciou um plano de ajuste fiscal de longo prazo, e Dilma fulminou-o com duas palavras:

— É rudimentar.

Haddad prometia déficit zero graças ao aumento da arrecadação. Era sonho, mas, como a arrecadação patinou, o controle do déficit deveria vir pelo controle de gastos. Qualquer semelhança com o dilema de 2005 não é coincidência.

A joelhada de Dilma marcou o início do ocaso de Palocci. Ela falava por Lula.

Quando Lula se dissociou da quimera, nada disse de novo. A questão está em saber quanto ele quer de déficit. A defesa dos gastos de Dilma/Lula daria no que se viu, uma amarga recessão.

O Lula de 2023 tem um Congresso mais voraz e uma oposição mais intransigente. Quando Haddad diz que precisa de apoio político, a vaca olha para o brejo. Se ele não tem apoio em casa, do outro lado da rua é que ele não virá.

Se Lula e Haddad pensam que podem administrar a economia com os truques que aplicam à questão da segurança pública, vem coisa ruim por aí. Na segurança, o governo anuncia reuniões e mudanças burocráticas inócuas. Isso não funciona para a economia. Falar em “ralos tributários” equivale a incensar operações policiais espetaculares contra bandidos. Aliviam a pressão e satisfazem os ministros, mas têm pouca serventia.

Qualquer família sabe como lidar com déficit: se a arrecadação é insuficiente, devem-se cortar despesas. Lula e o comissariado petista não gostam dessa ideia.

A sensibilidade que acompanha o debate econômico é compreensível, mas está exacerbada pela falta de ideias e iniciativas do governo. O Lula 1 teve o Prouni, o Luz para Todos e a defesa das cotas em universidades públicas. Isso para não falar nos programas tucanos reciclados com criatividade no Bolsa Família. A reforma tributária tem muitas virtudes e tantas exceções que ainda é prematuro avaliá-la. Não faz sentido que, em quase um ano de governo, o Planalto reine num deserto de ideias novas.

Governo sem ideias novas vê-se obrigado a discutir as ideias dos outros.

 

3 comentários:

EdsonLuiz disse...

■Claro que a proposta de Lula e do PT é uma proposta sem pé nem cabeça e por isso é uma proposta que não faz nenhum sentido::
▪Se um país já tem déficit e por causa de ter déficit não tem dinheiro, se este país quiser autorização para gastar o dinheiro que já não tem e autorizarem o gasto a dívida vai aumentar e piorar o problema.

Isso é óbvio!

O déficit resurgiu em 2012 porque entre 2007e2011o país gastou o que não tinha. A partir de quando o país passou a ter déficit, a dívida começou a aumentar, os juros aumentaram junto e o país passou a gastar mais com o pagamento de juros que com a população em geral e com a população pobre em particular.

Então, volta um presidente que em mandatos anteriores gastou muito o dinheiro que o país não já tinha e por causa do gasto vieram déficit, inflação, desemprego e veio a MAIOR recessão da história de nossa economia.

Depois dele, apesar de terem dado uma arrumadinha na avacalhaçãoeconômica que ele fez, veio outro presidente que fez a mesma coisa, ampliou gasto sem o Brasil ter dinheiro para gastar e a soma do 1° desastre com o 2° desastre (Lula/PT+Jair Bolsonaro) até a fome no país aumentou.

E o mesmo presidente que recomeçou em 2007 os desequilíbrios na economia mostra que não aprendeu nada e que está de volta para gastar mais.

▪Enquanto gastam, as coisas ficam parecendo que estão melhorando. Mas o dinheiro, que já estava faltando, acaba de uma vez e até o pagamento do programa contra a fome, aquele que o governo Fernando Henrique criou e que Lula e Bolsonaro mudaram de nome para dizerem que era deles, apesar de terem votado contra o programa quando foi criado, com o déficit até o dinheiro para o pagamento deste programa contra a fome acaba.

Isto já aconteceu em 2014 e o dinheiro para o pagamento teve que ser sacado a descoberto na CAIXA ECONÔMICA, o que configura crime de responsabilidade e resultou no impeachment de Dilma.

É a repetição desta tragédia que Lula e o PT estão preparando e que Haddad, apesar de ser um pouquinho diferente de Lula e do PT, acaba participando, deveras pela vaidade de ocupar um bom cargo no poder.

Fernando Haddad deveria ter recusado o cargo de Ministro da Economia no momento da indicação, por não ser economista.
▪Se bem que, mesmo não sendo economista, se Haddad contasse com a compreensão e apoio de Lula e do seu partido e se ele deixasse que economistas preparassem uma âncora de verdade e, sem enganar, chamasse de âncora, as coisas podiam ir melhorando aos poucos.

Com uma âncora fiscal verdadeira e uma política feita de modo correto a economia poderia não garantir Lula e o PT no poder, por demorar mais tempo para os resultados bons aparecerem, mas feitas do modo tecnicamente correto a economia melhoraria com o tempo e isso seria bom para o Brasil e para seu povo pobre.

Só que um monte de imbecís chegaria a escrever livros para xingar a técnica como "neoliberal".

EdsonLuiz disse...

■Falam que Haddad está certo e que Lula está errado nesta questão de zerar ou não o déficit fiscal em 2024.

Nesta questão do Déficit Fiscal, errou Lula e errou Haddad !
▪E erraram aqueles comentadores que fizeram de conta que era possível zerar o déficit com a Âncora Fiscal que o PT estava propondo e que de âncora não tinha nada e não tem nada.

A Âncora Fiscal preparada por Haddad não é uma âncora! Tanto não é uma âncora que Haddad, o PT e Lula não chamam e nunca chamaram de âncora a estrutura de política fiscal que estavam preparando e que adotaram.

Simples:: se uma economia está desancorada, ela precisa de âncora ; se eu preparo um mecanismo que não ancora esta economia, então o problema vai aumentar ao invés de diminuir e o mecanismo fiscal que eu preparei serve mais como uma arapuca que como uma âncora.

O mecanismo que Haddad e Lula prepararam autoriza aumento de gasto até nos anos em que o país apresentar déficit! Isto não é âncora ; isto é arapuca!

■Lula, Haddad e o PT chamavam a arapuca que estavam armando na economia de..." Arcabouço Fiscal ".

Haddad, por vaidade, queria ser Ministro da Fazenda e aceitou o jogo de Lula, de tergiversar sobre economia para evitar declarar que não tem compromisso com responsabilidade fiscal.

Lula e o PT nunca enganaram sobre como veem o exercício do poder com o objetivo de mantê-lo após conquistar:: gastar!

A visão de Lula e do PT para se manter no poder pelo tempo que puderem é gastar.

Sim:: GASTAR !

▪Para Lula e para o PT, se você gasta você fica bem com as pessoas porque faz com que a economia percebida seja de melhora.
▪Mas a conomia percebida não é a economia real, assim como a realidade percebida não é a realidade de fato.

O que você percebe hoje como bom sem conhecer o que está percebendo vai desabar em cima de você amanhã e pode até matá-lo. Quantas pessoas não morreram nos hospitais depois da recessão econômica gigante que aflorou em 2014 e que levou o PT a retirar do orçamento para a saúde de 2015 R$15Bilhões de reais?

E quantas pessoas não morreram com o aumento da fome por causa da soma sobreposta da crise criada na economia pelo PT com o agravamento da mesma crise por Bolsonaro? (abstraindo do problema Covid, que está é crise de outra natureza).

Esse modo de Lula e do PT verem a economia é um modo que chega a ser cruel, de tão obsceno::

Veja::
▪As pessoas querem que a economia melhore ;
▪Lula e o PT, sabendo que sempre ficam bem aqueles que falam o que as pessoas querem ouvir, ficam repetindo que a economia vai melhorar com o que eles vão fazer.
▪Lula e o PT levam as pessoas a acreditar que é perfeitamente possível gastar o dinheiro que o Brasil já não tem e, ao mesmo tempo, manter a dívida controlada, porque eles têm uma proposta e esta proposta permite gastar, ter crescimento e, ao mesmo tempo, não aumentar a dívida.

As pessoas adoram uma proposta milagrosa assim e pensam:: "Lula vai melhorar as dificuldades sem que ninguém precise fazer sacrifícios".

Populistas sabem como induzir o povo a este tipo de crença.

Que bom se fosse verdade, não é?

ADEMAR AMANCIO disse...

Criticar é fácil,difícil é fazer.