O Estado de S. Paulo
Regime de Maduro quer anexar metade da Guiana e vira dor de cabeça para os EUA e para Lula
São cinco perguntas. Elas serão respondidas
no dia 3 de dezembro pelos venezuelanos no referendo convocado pelo regime de
Maduro para saber se o país deve anexar pouco mais da metade da vizinha Guiana.
No momento em que o mundo vive as guerras da Ucrânia e de Gaza e assiste à
ameaça chinesa a Taiwan, a Venezuela leva adiante o plano de tomar o território
de Essequibo, uma área de 159 mil km² rica em petróleo e minérios.
Trata-se de uma disputa territorial que tem origem no século 19, quando a Inglaterra reclamou a região como parte de sua Guiana. Uma arbitragem internacional patrocinada pelos EUA lhe deu razão. O resultado foi contestado pela Venezuela e nova discussão ocorreu em 1966, quando a Guiana se tornou independente. Tudo foi retomado agora por Maduro.
Como resposta ao referendo do vizinho, a
Guiana apelou à Corte Internacional de Justiça de Haia, a fim de que a ação
venezuelana seja declarada ilegal. A Corte se reunirá para examinar o caso no
dia 14. O problema é que a disputa deixou de ser entre uma potência colonial e
uma nação sul-americana para envolver dois países da América do Sul.
Enquanto isso, o ministro da Defesa da
Venezuela, general
Vladimir Padrino, manifesta-se diariamente
pela anexação do território entre os rios Cuyuni e Essequibo. O general, um dos
homens fortes do regime, disse no dia 25 de outubro: “Nós nos somamos ao poder
eleitoral nessa consulta popular para a defesa da Guiana Essequiba, um dever
das e dos venezuelanos. Nos vemos no dia 3 de dezembro!”
O general Domingo Hernández Lárez, comandante
estratégico-operacional das Forças Armadas da Venezuela, também apoiou o
referendo: “Essequibo é da Venezuela!”. Vídeos com deslocamento de tropas para
a “frente de Essequibo”, próximo a Roraima, foram publicados, como o do
vice-almirante Ashraf Abdel Hadi Suleimán Gutiérrez, que disse à tropa formada:
“Esse território, pela história, pela lei e pela tradição, é da Venezuela”. Em
seguida, são ouvidos “urras” dos soldados. O próprio Maduro publicou imagens de
desfiles militares com palavras de ordens sobre Essequibo.
Diante da escalada, pode-se perguntar: além
do direito internacional, de quais meios de dissuasão a Guiana dispõe? O maior
é o Comando Sul, dos EUA, país cujos recursos já estão ocupados em se opor ao
Irã, à Rússia e à China. Os marines se exercitaram em Georgetown em julho. A um
ano do voto, Biden vê surgir nova ameaça. E o que o Itamaraty tem a dizer sobre
a crise que se avizinha? Pode ser só mais uma bravata de Maduro. Mas, se há
dúvida, quem vai garantir a integridade da Guiana até Haia se manifestar? Ou
Lula vai pedir a paz só depois de um novo fato consumado?
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