O Globo
Portugal acordou ontem com um escândalo no
coração do governo. A polícia prendeu o chefe de gabinete do primeiro-ministro
António Costa, do Partido Socialista. Ele entrou na mira de uma investigação
que apura ilegalidades na exploração de lítio e na produção de hidrogênio
verde.
Os agentes fizeram buscas em dois ministérios
e no Palácio de São Bento, residência oficial do premiê. No início da tarde,
Costa convocou a imprensa para um pronunciamento. Disse ser inocente, mas
renunciou ao cargo que ocupava desde 2015.
“A dignidade das funções de primeiro-ministro não é compatível com qualquer suspeita sobre a sua integridade, a sua boa conduta e muito menos com a suspeita da prática de qualquer ato criminoso. Por isso, obviamente, apresentei a minha demissão”, afirmou.
Entre a primeira notícia sobre a operação e a
queda do premiê, passaram-se seis horas. O episódio ilustra uma das vantagens
do parlamentarismo: a possibilidade de resolver crises políticas de forma
rápida e quase indolor.
No presidencialismo, uma acusação grave
contra o chefe de governo paralisa o país. O Congresso leva alguns meses para
decidir se instaura um processo de impeachment. Em caso positivo, inicia-se
outro longo calvário até a votação final. É um rito traumático, mesmo que a
maioria da população concorde com o veredicto.
Além disso, há o risco de o impeachment
produzir uma espécie de estelionato eleitoral. Para se viabilizar, o
vice-presidente precisa negociar com as forças que estavam na oposição. No
Brasil de 2016, isso significou a adoção de um programa que havia sido
derrotado nas urnas.
No Portugal de 2023, a saída para a crise
deve passar pelo voto. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa deu sinais de que
vai dissolver a Assembleia da República e convocar novas eleições. Se isso se
confirmar, o partido de Costa ainda terá direito a indicar um primeiro-ministro
interino.
O processo também embute riscos, como a
possibilidade de ascensão da extrema direita. Mas os portugueses têm
demonstrado mais juízo para lidar com os aventureiros de plantão.
Um comentário:
Pois é.
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