O Globo
Nada de relevante foi anunciado em áreas
essenciais como educação, saúde, meio ambiente, ciência e tecnologia
No momento em que Luiz Inácio Lula da
Silva completa o primeiro ano de mandato, torna-se oportuno destacar a escassez
de políticas públicas entusiasmantes anunciadas ao longo desse período. Embora
seja inegável o nível satisfatório de inflação e compreensível o modesto
crescimento da economia, falta ímpeto empreendedor ao governo.
Até agora, o único objetivo explicitado
claramente por um ministro foi o déficit zero, mesmo assim sob contestação
dentro do próprio PT. Apesar de ser cedo para avaliar o resultado desse
objetivo, Fernando Haddad tem o mérito de haver proposto algo concreto.
No âmbito dos demais ministros, paira um marasmo enfadonho. Duas alternativas podem explicar esse fato: a) o governo vem trabalhando sem divulgar suas atividades; ou b) o governo encontra-se emaranhado numa rotina infrutífera. Se a primeira alternativa é verdadeira, então as autoridades federais vêm se omitindo em manter a população informada sobre o que realizam.
É espantoso que o combate à pobreza e à
iniquidade social, tão enfatizado durante a campanha eleitoral, ainda não tenha
sido alvo de políticas públicas de caráter estrutural. O repertório do
presidente sobre esses temas esgotou-se em seu primeiro mandato.
Na realidade, não obstante ser classificado
como de esquerda, Lula comportou-se como um conservador em seus nove anos de
poder, promovendo insuficiente avanço favorável às classes de menor renda.
Bolsa Família e elevação do salário mínimo não bastam como instrumentos para
perseverante melhora da equidade social.
Nada de relevante foi anunciado em áreas
essenciais como educação, saúde, meio ambiente, ciência e tecnologia, energia,
transporte coletivo e Previdência Social. O BNDES prossegue em sua longa
abstenção como inspirador de caminhos desenvolvimentistas. Ademais, a
existência de 38 ministérios constitui um atentado aos princípios de boa
gestão.
Em termos de política externa, a péssima
imagem internacional decorrente da presença de Bolsonaro no Palácio da Alvorada
foi substituída pela expectativa positiva resultante da eleição de Lula. No
entanto, embora perdure o prestígio mundial do presidente, constatam-se sinais
de desapontamento ante posições por ele adotadas. O Brasil ainda não encontrou
o tom adequado para dialogar com o mundo.
Outro fator que vem danificando o desempenho
do presidente é a abundância de declarações inconvenientes, equivocadas e
prejudiciais a seu próprio governo.
Essa prolixidade lembra o fato ocorrido na
Cúpula Ibero-Americana de 2007, de que participaram o rei Juan Carlos I da
Espanha e presidentes de países da América Espanhola. Em vista das inoportunas
interrupções do venezuelano Hugo Chávez aos discursos dos demais presidentes,
Juan Carlos I perdeu a paciência e exclamou: ¿Por qué no te callas?
Há ocasiões em que o mesmo deveria ser dito
ao presidente Lula.
*Marcello Averbug, consultor econômico, foi professor da UFF
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