Valor Econômico
“Vocês, jovens, gostam de ler livros?”,
questionou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma plateia de estudantes
do Instituto de Matemática Pura Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro. “É bom ler,
sabe por quê? Porque se vocês ficarem só no português do Twitter [atual X], vai
diminuir o vocabulário de vocês”, alertou em discurso no dia 6 de dezembro.
O IMPA organiza a Olimpíada Brasileira de
Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Lula defendeu que o Brasil forme mais
profissionais nas áreas de matemática, engenharia e física. Mas reclamou que
“até hoje se fala que a meninada do Brasil não é boa de redação, não consegue
interpretar um texto”.
Desde a primeira edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), em 2000, o Brasil patina com notas bem abaixo da média da OCDE nas três áreas examinadas: Matemática, Português e Ciências.
Um dado alarmante é de que o texto mais
extenso lido por 66,3% dos alunos brasileiros de 15 e 16 anos em um ano não
passou de 10 páginas. A informação surgiu de uma análise dos microdados do
Pisa/2018, divulgada em novembro pelo Centro de Pesquisas em Educação,
Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).
Igualmente preocupante é que, se os
brasileiros leem pouco, nem sempre compreendem o que leram. Dados do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostram que 16,6% dos
brasileiros são analfabetos funcionais. Ou seja, cerca de 34 milhões de
brasileiros são incapazes de interpretar textos simples.
Criticado pelos adversários por não ter um
diploma de curso superior, Lula começou a se tornar um leitor de livros em
2011, nas sessões de quimioterapia para combater um câncer de laringe. Na
campanha de 2022, um dos slogans do petista contra o ex-presidente Jair
Bolsonaro era “mais livros, menos armas”.
Em balanço de sua gestão na quinta-feira
(21), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, mostrou que o
governo avançou na direção de “menos armas”. Houve queda de 6% nas taxas de
homicídio após medidas para reduzir a circulação de armas de fogo. Foram
registrados 79% menos armamentos neste ano em relação a 2022, e a apreensão de
armas irregulares cresceu 16%.
Porém, Lula ficou devendo ações por “mais
livros” no primeiro ano de mandato. Houve algumas iniciativas. O Ministério da
Cultura (Minc) lançou o Prêmio Maria Carolina de Jesus para publicação de obras
literárias inéditas produzidas por mulheres.
Em paralelo, Lula anunciou ao lado do
ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), que os novos condomínios do Minha
Casa, Minha Vida (MCMV) ganharão uma biblioteca. Em solenidade no palácio, Lula
agradeceu ao presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Merval Pereira,
a parceria para a doação de livros para o acervo das futuras bibliotecas.
“Temos que ensinar o povo brasileiro a gostar
de ler, mas as pessoas não têm muitas vezes dinheiro para comprar livro. E se a
gente fizer em cada conjunto [do MCMV] uma pequena biblioteca, e as pessoas
adquirirem o hábito de ler, quantos Guimarães Rosas a gente não vai conseguir
produzir neste país, quantos Jorge Amados”, exaltou.
De fato, 84% da população brasileira adulta
não comprou nenhum livro nos últimos 12 meses, segundo pesquisa “Panorama do
Consumo de Livros”, divulgada neste mês.
Ficou para o primeiro o trimestre de 2024 o
lançamento da Política Nacional de Leitura e Escrita, que envolverá um conjunto
de ações em várias frentes do governo para estimular a leitura no Brasil.
“A cultura brasileira é rica na oralidade, na
diversidade, mas é pobre na dimensão escrita”, reconheceu o diretor de Livro,
Leitura, Literatura e Bibliotecas do Minc, Jéferson Assumção.
Ele advertiu que não basta um programa ou uma
política de um ministério para formar leitores, mas, sim, esforços integrados e
transversais, voltados para populações distintas. Citou exemplos de ações já em
vigor que fomentam a leitura junto às populações da área rural, carcerária, e o
estímulo à proliferação de bibliotecas comunitárias, em especial em áreas
vulneráveis.
Mas numa sociedade impulsionada por Tik
Tokers, gamers e influencers, por que o Brasil deveria se tornar uma sociedade
de leitores?
“Porque o livro é o lugar dos grandes
encadeamentos lógicos”, analisa Assumção, que é autor de “Tropeçália” (Ed.
Taverna). “Sem esse encadeamento, tudo é fragmentação, e não se pode
compreender uma sociedade complexa com simplificações, argumentou. “Desprezar o
livro e a leitura gera reflexos na democracia, porque democracia é diálogo e
compreensão”, completou.
Para o diretor do Minc, a política para a
leitura deve ser concebida como uma “grande campanha de vacinação contra a
desinformação, porque o livro é vacina contra a fake news”, destacou.
Com isso, a coluna encerra com uma citação do
argentino Alberto Manguel, durante uma conferência em 2014 no Brasil: “Ler
sempre é um ato de poder, e essa é uma das razões pelas quais o leitor é temido
em quase todas as sociedades”. Meus votos de um 2024 próspero e literário aos
leitores!
Um comentário:
Passei minha juventude lendo romances e não aprendi nada,o Lula sabe muito mais do que eu.
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