Valor Econômico
Governador de São Paulo precisa ganhar
tempo
Uma mudança de partido do governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas, pode significar uma mudança na forma como São Paulo
vem sendo governado. Tarcísio seria recebido com festas no PL, sem dúvida, caso
decida abandonar o Republicanos assim que o partido adentrar a Esplanada dos
Ministérios, com a iminente nomeação para algum cargo do deputado federal
Silvio Costa Filho. Mas não há almoço grátis, a migração teria um preço.
O partido entende que o bolsonarismo tem muito a oferecer ao governador, mesmo com a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, decidida em junho pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Concretamente, entende serem necessárias mudanças no governo de São Paulo. O presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, tem deixado claro a interlocutores que Tarcísio não pode ter como governador a mesma liberdade que Bolsonaro teria tido como presidente para nomear a sua equipe. O diagnóstico é que ainda não se estabeleceu uma linha de corte clara entre o que é a direita no poder em São Paulo e o que foram os 28 anos de PSDB. E que para isso acontecer é preciso delegar as funções de governo que fazem a interlocução política com o interior do Estado.
Há resistências a serem vencidas caso
Tarcísio vá para o PL. No bolsonarismo mais empedernido, há quem considere o
governador de “centro-esquerda”. Uma conclusão apressada, embasada no fato de o
governador ter mantido a extrema-direita em postos marginais dentro da
administração.
Mas o PL não é só a extrema-direita, como
prova a opção do partido pelo apoio à reeleição de Ricardo Nunes (MDB) na
corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo, em detrimento do deputado
Ricardo Salles (SP) e o empenho de Valdemar para garantir o deputado federal
Marco Aurélio Bertaiolli (PSD-SP) no Tribunal de Contas do Estado.
A operação para vencer as resistências da
própria bancada do PL na Assembleia Legislativa contra Bertaiolli é um
indicativo de que uma eventual entrada do governador no PL não necessariamente
representa um conflito futuro com o PSD.
Secretário de Governo e presidente nacional
do PSD, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab é o coordenador político da
gestão Tarcísio. Curiosamente, o PSD conta com três ministros no governo Lula e
o governador não vê incômodo em desenvolver uma parceria tão intensa com a
sigla.
O grande ganho que Tarcísio teria com essa
migração é que o PL é a maior sigla que com certeza não caminhará com Lula em
2026. Além dele há o Novo e o PSDB, menores, menos capitalizados e cada um com
seu presidenciável.
O PL por enquanto conta com um grande
eleitor inelegível. E Tarcísio precisa de tempo. Se entrar no PL, Tarcísio se
mostraria alinhado ao seu mentor. Não precisaria se expor e se credenciaria
como herdeiro. “Tarcísio sabe que se assumir um projeto presidencial, vira João
Doria. Ele aguardará uma romaria. Fora dessa hipótese ele não irá. E enquanto
isso Bolsonaro fica aguardando uma decisão monocrática do Supremo”, comenta o
cientista político Murillo Aragão, da consultoria Arko Advice. A alusão a Doria
é clara: o ex-governador paulista isolou-se dentro do PSDB ao deixar manifesta
de maneira prematura seus projetos presidenciais.
Estranha serenidade
Há uma calma intrigante no mercado em
relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As expectativas em
relação ao longo prazo não justificam semelhante serenidade.
O governo federal se propôs a uma meta
fiscal de zerar o resultado primário no próximo ano. Não é o que a grande
maioria dos economistas entende que vai acontecer. De acordo com levantamento
da pesquisa Focus, feita pelo Banco Central com analistas do mercado
financeiro, o mais provável é que haja em 2024 um déficit de 0,8% do PIB. Também
não se acredita em cortes de gastos públicos. Essa não é a índole do governo
Lula, que precisa atender a muitas demandas reprimidas durante os governos
Temer e Bolsonaro. O fato de 2024 ser ano de eleições municipais não colabora
para a austeridade.
A cúpula do Congresso, especialmente o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) tem prometido que manterá a rédea
curta no governo em caso de desregramento fiscal. Garantem que não se dará a
Lula, em que pesem as circunstâncias eleitorais, o mesmo afrouxamento que eles
mesmo deram para Bolsonaro, com PEC Kamikaze, PEC dos Precatórios e quetais. O
mercado acredita. Vê na ação de Lira este ano motivo de sobra para enxergá-lo
como um contraponto a possíveis extravagâncias do PT.
O governo já garantiu que não vai rever a
meta. Está claro que o governo federal precisa de mais receita para manter
algum equilíbrio, e um aumento de impostos é inevitável. Mas o ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, sinaliza com taxação de apostas, revisão da
legislação sobre juros sobre capital próprio, tributação sobre lucros e
dividendos, mudança de regras sobre offshore e sobre o processo decisório do
Carf. Vende-se que 1) quase tudo será aprovado: 2) o que for aprovado será
suficiente; 3) a cobrança adicional ficará restrita a grupos específicos, sem
efeitos gerais sobre a economia. Uma questão que se apresenta é qual a razão
para tamanho otimismo.
Uma hipótese é a teoria da compensação.
Houve excesso de pessimismo sobre as perspectivas para 2023. Não se imaginava
um segundo semestre com Selic em queda de 0,5%, inflação em baixa e câmbio
pouco pressionado, depois da aprovação da PEC da Transição. O paradoxo das
previsões, lembra Aragão, é um fenômeno bem brasileiro.
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