Limitar trabalho aos feriados é um contrassenso
O Globo
Ministério do Trabalho deveria cuidar de
temas mais importantes, em vez de impor amarras ao que funciona bem
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho,
anunciou que editará nova portaria para regulamentar o trabalho aos feriados.
Espera-se que o governo desfaça a confusão criada em novembro do ano passado,
quando, sem ouvir a sociedade, o ministério decidiu impor novas regras que
dificultam a abertura do comércio nos feriados, desagradando a empregadores,
empregados e consumidores. Melhor seria não fazer nada. Na melhor das
hipóteses, a portaria será mais uma regulação inútil. Na pior, um empecilho
para quem mantém negócios que geram empregos.
A portaria de novembro revogava outra, editada pelo governo Jair Bolsonaro em 2021, reduzindo a burocracia para estabelecimentos comerciais funcionarem aos domingos e feriados. Diante da grita do comércio, Marinho adiou a iniciativa e prometeu discuti-la com os afetados. Fez depois o que deveria ter feito antes. De acordo com ele, a portaria de Bolsonaro afrontava a lei, que permite trabalho aos fins de semana, mas exige negociação com sindicatos para os feriados (algumas cidades brasileiras como Rio de Janeiro e São Paulo já estão adaptadas a essa norma).
A decisão açodada do ano passado foi tomada a
pedido de sindicatos. Não há problema se eles quiserem levar suas pautas ao
governo, especialmente tendo em conta os laços históricos do PT com o movimento
sindical. O problema começa quando o Planalto atende às reivindicações sem
considerar as consequências.
Mudanças no funcionamento do comércio nos
feriados afetam a rotina de milhões de brasileiros, habituados a lojas abertas
todos os dias. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) argumentou que
as novas regras prejudicariam a atividade econômica e, consequentemente, a
criação e manutenção de empregos. A Confederação Nacional do Comércio alertou
sobre a insegurança jurídica em curso, tamanha a quantidade de contratos e
compromissos assumidos supondo o funcionamento comercial aos domingos e
feriados.
A medida foi tão desastrada que, logo depois
do anúncio no ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou urgência na
tramitação de um Projeto de Decreto Legislativo suspendendo os efeitos da
portaria e garantindo o funcionamento de 12 setores do mercado varejista
durante todos os dias da semana.
O novo texto, que deverá ser publicado depois
do carnaval, definirá os setores considerados essenciais, liberados de firmar
acordos com os sindicatos para poder funcionar durante os feriados. A lista de
exceções, ainda em discussão, deverá incluir cerca de 200 atividades, como
farmácias e postos de gasolina. Marinho afirmou que as novas regras são fruto
de negociações com sindicatos de trabalhadores e empresários.
O governo tem sido pródigo em apresentar
projetos cujo objetivo declarado é acelerar o crescimento do país. É um
contrassenso que, apenas para agradar a sindicatos, se imponham amarras a um
setor que tem funcionado livremente sem problemas. Certo seria o Ministério do
Trabalho se ocupar com questões mais relevantes para os brasileiros. Quanto
menos o governo intervir no que está dando certo, melhor.
Milei deveria ceder para preservar seu plano
de equilibrar economia argentina
O Globo
Ele já demonstrou disposição em negociar e, a
esta altura, seu fracasso é o pior que poderia acontecer ao país
Javier Milei venceu
a eleição argentina em
novembro com vantagem de 11,4 pontos percentuais sobre o peronista Sergio
Massa. Ficou em primeiro lugar em 20 das 23 províncias. Nesta semana, os
perdedores — peronistas, em especial da variante kirchnerista, sindicalistas e
movimentos sociais — promoveram a primeira greve geral contra os planos do novo
presidente. Seria uma lástima se a pressão das ruas resultasse em paralisia nas
mudanças necessárias para resgatar o país do fundo do poço. A esta altura, o
fracasso de Milei é o pior que poderia acontecer à Argentina.
Antes do fim do ano, Milei anunciou um pacote
com mais de 300 medidas para desregulamentar a economia, conhecido como
“decretaço”, e enviou ao Congresso a Lei de Bases e Pontos de Partida para a
Liberdade dos Argentinos, com 664 artigos e 351 páginas, apelidada “Lei
Ônibus”. Mesmo antes da greve, ele dava sinais de estar disposto a recuar em
pontos controversos para aprovar as medidas no Congresso.
Ao todo, Milei excluiu 141 artigos da Lei
Ônibus, que está na Câmara e precisará passar pelo Senado. Retirou da lista de
estatais a ser privatizadas a petrolífera YPF. Anunciou o fim do congelamento
de aposentadorias, que voltarão a ser corrigidas trimestralmente. E reduziu de
quatro para até dois anos o período em que pretende governar por decreto. É
verdade que a amplitude da lei ainda permanece exagerada e que o recurso ao
governo por decreto deve ser medida excepcionalíssima em toda democracia. Mesmo
assim, ele demonstrou disposição em negociar.
É o preço que ele paga por ter sido eleito
sem base parlamentar sólida. Seu partido, A Liberdade Avança, elegeu 37 dos 257
deputados e sete dos 72 senadores. Firmou alianças com forças de centro-direita
e conta com apoio de alguns peronistas e parlamentares de outras legendas. Mas
precisará ainda negociar muito — e deveria ceder ainda mais na ambição do que
pretende alcançar. Além de desistir de governar por decreto, é preciso recuar
no autoritário “protocolo contra protestos”, medidas contra manifestações de
rua que incluem proibição de piquetes, cobrança aos organizadores dos protestos
do custo de mobilização das forças policiais e até a cassação de benefícios
sociais de manifestantes presos.
Milei foi catapultado à Casa Rosada por
votação maciça contra o peronismo. Sua vitória foi uma resposta desesperada dos
argentinos à inépcia de sucessivos governos em debelar a crise econômica
endêmica e reverter o empobrecimento crescente. Apesar de seu estilo
histriônico, seu pacote se baseia no diagnóstico correto de que o Estado
argentino precisa rever gastos e adequá-los à capacidade da sociedade de pagar
impostos. Do contrário, a inflação continuará a ajustar as contas da pior
maneira. Em vez de enfrentar suas limitações com vigor, a Argentina procura há
décadas fugir da realidade. Milei dá a entender ter noção do caminho a
percorrer num ajuste necessariamente impopular. Quanto mais o país adiar
medidas que o levem a viver dentro de suas possibilidades, mais doloroso será o
acerto de contas.
País gasta muito com TJs e bem pouco com
proteção ambiental
Valor Econômico
Há gastos em demasia, mal alocados, a um
custo financeiro exorbitante
O Estado brasileiro é o que mais gasta com
ordem pública e segurança em relação a 53 países avançados e emergentes,
selecionados pelo Tesouro para pesquisa. Nem por isso o país está hoje mais
seguro - as despesas maiores são feitas nos Tribunais de Justiça (também
maiores que as dos demais países). Tanto neles como nos serviços de polícia, a
maior fatia dos recursos é consumida em salários e benefícios. O preço a pagar
por regalias da elite do serviço público, e pela maior conta de juros da
amostra, é que, apesar da urgência, o Brasil é o que menos gasta com proteção
ambiental entre todos (dados de 2021). Há gastos em demasia, mal alocados, a um
custo financeiro exorbitante.
Os gastos com o Judiciário são uma anomalia
há um bom tempo. O teto da administração pública, de R$ 41.650, é massivamente
furado com a profusão de verbas indenizatórias e dezenas de penduricalhos. Um
projeto que limita os supersalários no setor público foi aprovado pela Câmara
em julho de 2021. Ainda assim, ele considera válidos nada menos de 32 tipos de
pagamentos como indenizações, direitos adquiridos ou ressarcimentos. O projeto
empacou no Senado, onde o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) defende a volta
do quinquênio para juízes, procuradores e Defensoria Pública - um aumento de
salário de 5% a cada cinco anos.
Os Tribunais de Justiça têm despesas
equivalentes a 1,61% do PIB (dado de 2021). Os países ricos dispendem 0,3% do
PIB com eles e os emergentes, 0,5%. A média é de 0,4% do PIB. Os dados do
Tesouro permitem comparações que dão ideia da dimensão das despesas dos TJs. O
Estado gasta mais com eles do que tudo que gasta com habitação e serviços
comunitários (1,23% do PIB). Os gastos dos tribunais correspondem ainda a mais
de dez vezes os feitos em iluminação pública (0,11% do PIB), mais de três vezes
os direcionados à proteção ambiental (0,43%) e são maiores que as despesas
totais com serviços ambulatoriais para a população em todo o país. Já os gastos
prisionais, de 0,2% do PIB, estão praticamente em linha com a média dos países
ricos e emergentes. A qualidade dos serviços prestados não foi avaliada. Mas é
fato que a Justiça brasileira é morosa e que as prisões são inumanos depósitos
de seres e escolas do crime.
Os governos federal, estaduais e municipais
gastaram em 2022 45,9% do PIB - ou R$ 4,63 trilhões - para se manter e prestar
serviços de baixa qualidade. O governo central, com R$ 3,4 trilhões, é
responsável por 73,6% das despesas. A despesa total brasileira, em 2021, de
42,7% do PIB, foi muito superior aos 35,2% dos países emergentes. Os gastos com
juros e despesas financeiras atingiram 7,92% do PIB, a maior entre os países
selecionados. Com dívida alta, juros altos e déficit primário, os recursos são
escassos. Despesas maiores em um setor serão compensadas por menores em outros,
um jogo arbitrado pelo orçamento e por interesses políticos.
A maior despesa do Estado brasileiro é com a
proteção social, de 16,7% do PIB em 2022 (R$ 1,67 trilhões), uma rubrica que
inclui aposentadorias, pensões, auxílio desemprego e programas de transferência
de renda, como o Bolsa Família. A média dos países avaliados, com dados de
2021, foi de 13,8% ante 16,27% do Brasil e 16,18% dos países ricos. Chamam a
atenção as despesas com pensões, de 2,9% do PIB, cinco vezes a média dos países
(0,6% do PIB) ou mais de três vezes a média dos países ricos (0,8%).
Educação (5,2% do PIB) e Saúde (4,9%) são as
despesas a seguir mais relevantes, excluindo juros. A evolução dessas rubricas
entre 2010 e 2022, sempre em relação ao PIB, mostra que foi equivocada a
gritaria da oposição ao teto de gastos quanto à redução das despesas - que não
houve. Ambas se mantiveram no nível em que se encontravam em 2016, com ligeiro
aumento no caso da Saúde. O Brasil gastou mais em 2021 (5,1%) do que os
emergentes, mas ficou abaixo da média dos países (6,13%) e bem abaixo dos
países ricos (7,32%).
A situação é um pouco pior na Educação.
Naquele ano, as despesas brasileiras (4,49%) eram menores que a dos países da
América Latina (Costa Rica, Guatemala, El Salvador), que a média dos países
(4,76%) e que a dos países ricos (5,03%). Não há muita diferença na comparação
com a média e os países ricos no montante de verbas para a educação infantil e
fundamental 1, que se torna maior no fundamental II e ensino médio. No entanto,
os gastos com educação superior (1,1%) são muito maiores que os dos demais países,
distorção já apontada por educadores brasileiros.
O Brasil dá baixíssima prioridade
orçamentária à preservação ambiental, o menor gasto do Estado depois de cultura
e lazer. De 0,67% do PIB em 2010, as verbas foram reduzidas ainda em governos
petistas e culminaram em 0,48% do PIB com Bolsonaro (R$ 48,7 bilhões). O Brasil
fica atrás dos países emergentes, da média dos países e dos países ricos em
gastos ambientais. Bate todos eles, no entanto, na proteção da biodiversidade.
Acabar com os privilégios do “andar de cima”, como mencionou o ministro Fernando Haddad, e rediscutir as prioridades dos gastos são a única maneira de corrigir as flagrantes distorções, entre as quais verbas irrisórias para a proteção ambiental são um exemplo gritante.
Forte e ressentido
Folha de S. Paulo
Projeção de novo governo Trump preocupa;
deterioração geopolítica teria impulso
A principal anomalia da eleição presidencial
dos Estados Unidos em 2016 não foi a vitória de Donald Trump. O triunfo de um
candidato republicano, naquele sistema bipartidário altamente competitivo, não
constitui surpresa nenhuma.
O fato incomum ocorreu alguns meses antes do
pleito, quando um empresário desaforado, sem credenciais, trajetória nem
compromissos na política partidária, atropelou nas primárias todo o
establishment da agremiação de Lincoln, Eisenhower e Bush para sagrar-se
candidato pela legenda.
O acontecimento marcou a entrada do populismo
de direita na disputa frontal pelo poder na maior potência econômica e militar
do planeta, berço da democracia moderna. Na Casa Branca, Trump praticou a
cartilha iliberal e promoveu confusão, atritos e instabilidade.
Despediu-se do governo recusando-se a admitir
a derrota nas urnas, dando azo a teorias conspiratórias e incitando uma
multidão a tentar reverter à força o resultado. O Congresso foi
depredado, e se seguiu uma dura reação judicial, que não poupou o
ex-presidente.
Dezenas de acusações e três anos depois,
Trump está prestes a tornar-se de novo o presidenciável republicano. O provável
êxito nas prévias contrariaria mais uma vez o hábito nos EUA, onde o retiro da
política costuma ser o destino de presidentes que perdem a reeleição.
Mais que filiações a ideias ou a plataformas,
uma conexão emocional quase religiosa com o líder caracteriza o populismo. A
impressão é que Donald Trump pode dizer e fazer tudo, e seu contrário,
que ainda assim
continuaria altamente popular para cerca de metade do
eleitorado norte-americano.
Vencer as primárias republicanas não confere
ao empresário exótico um bilhete garantido para retornar à Presidência. A
metade dos eleitores que não o idolatra em geral também o rejeita fortemente.
Por isso, apesar da
impopularidade de seu provável adversário, o presidente democrata
Joe Biden, a eleição de novembro tende a ser tão disputada quanto as
anteriores, que foram definidas por margens estreitas em estados-chave para o
sistema indireto de escolha.
Ainda assim, é preocupante a possibilidade,
agora mais concreta, de um segundo mandato para uma figura como Trump —que não
esconde de ninguém o seu ressentimento nem o desejo de se vingar de agências
governamentais e instituições que tolheram as suas investidas cesaristas.
A deterioração geopolítica dos últimos anos
ganharia um impulso poderoso, para citar um dos efeitos indesejáveis de um
segundo capítulo da aventura trumpista. Líderes autocratas, populistas e
extremistas de todo o planeta teriam um aliado na Casa Branca.
A arena da educação
Folha de S. Paulo
Usar o setor para disputa ideológica é
desserviço de governantes e parlamentares
Como se já não enfrentasse problemas
suficientes, a educação se
tornou nos últimos anos arena para embates ideológicos no
ambiente polarizado da política brasileira. No mais recente episódio, as
bancadas ruralista e evangélica se mobilizam contra o Plano Nacional de
Educação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O PNE é um projeto decenal que organiza
políticas para o ensino em articulação com os entes federativos. É elaborado
pelo Executivo após debates na Conferência Nacional de Educação (Conae) e,
depois, submetido ao Congresso.
Encerra-se neste ano o PNE em vigor, aprovado
sob Dilma Rousseff (PT) —e marcado, aliás, pela meta demagógica e irrealizável
de elevar o gasto público no ensino a 10% do PIB. Assim, a Conae, convocada
pelo governo, deverá ser realizada entre 28 e 30 de janeiro.
Parlamentares ligados a setores conservadores
pedem o adiamento da conferência, alegando
que o documento oficial que a apresenta tem viés político.
O motivo do alarido são referências do texto
a temas como diversidade de gênero e religião, pessoas LGBTQIA+ e meio
ambiente, além de críticas a pautas como militarização de escolas e
"homeschooling" (ensino em casa).
O arrazoado oficial é extenso, com 178
páginas, e no geral sóbrio. Mas há trechos que de fato descambam para o
confronto político.
Afirma-se que diversidade e direitos humanos
"sofrem ataques violentos de forças midiáticas, parlamentares, ruralistas,
políticas, jurídicas e conservadoras" e que machismo, racismo e sexismo
são norma de projetos do Congresso. Chama-se o impeachment de Dilma Rousseff
(PT) de golpe e denunciam-se "políticas educacionais de base
ultraconservadora".
É inegável que a educação passou por gestão
desastrosa sob Jair Bolsonaro (PL), quando foi tratada à base de obsessões
ideológicas. No entanto o governo Lula partidariza tema que exige abordagem
técnica —e fornece um cavalo de batalha para ataques sensacionalistas do
bolsonarismo.
Considerando que o PNE precisa ser votado por
um Congresso onde não dispõe de maioria confortável, a administração petista
age de modo insensato ao acirrar disputas com politização rasteira.
Já os parlamentares deveriam cumprir seu papel e debater politicas púbicas com método e evidências, em vez de fazerem birra por ideologia ou oportunismo.
O PT tem horror aos fatos
O Estado de S. Paulo
Ao lançar suspeitas infundadas sobre a idoneidade do jornalismo profissional, o chefe da Secom, Paulo Pimenta, deixa claro que só está onde está para servir de arauto da mitologia petista
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação
(Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta (PT-RS), foi às redes
sociais há poucos dias para lançar suspeitas infundadas sobre a idoneidade do
jornalismo profissional. O sr. Pimenta não gostou da cobertura da imprensa
sobre os novos investimentos anunciados pelo presidente Lula da Silva na
Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, um dos epítomes da incúria e da
corrupção desbragada que marcaram indelevelmente os governos lulopetistas.
Segundo o chefe da Secom, empresas da “grande mídia corporativa” estariam
agindo em “sincronia e articulação” – eufemismo nada sutil para conluio – com o
objetivo de “blindar o fracasso das privatizações”, seja lá o que isso
signifique, e sabotar a “tentativa soberana do Brasil de retomar o controle de
sua política energética, em especial na área de petróleo e gás”.
A mitologia petista, deve-se reconhecer, faz
um tremendo sucesso nas redes sociais, um ambiente no qual as afinidades
tribais valem muito mais do que a verdade factual. Porém, por mais tentador que
seja pregar para convertidos, o ministro Paulo Pimenta poderia ao menos fingir
que se comporta com algum grau de espírito público e respeito à
institucionalidade no exercício do cargo. Afinal, convém recordar, a
comunicação governamental deve se dirigir a todos os cidadãos, e não apenas aos
que se ajoelham sob o altar da seita lulopetista. Ademais, no rol de
competências da Secom, bem delimitado no art. 1.º do Anexo I do Decreto n.º
11.362/2023, não está servir de dublê de analista político nem tampouco atuar
como ombudsman do jornalismo profissional.
Contudo, se o chefe da Secom deseja ensinar
como a imprensa deve realizar o seu trabalho e especular sobre quais seriam
seus objetivos ao publicar informações de interesse público, que então peça
exoneração do cargo, reassuma seu mandato de deputado federal e ocupe a tribuna
da Câmara para vocalizar suas aleivosias num local mais apropriado.
Naturalmente, nada disso vai acontecer. O ministro Paulo Pimenta, e não só ele,
conta com a benevolência de seu chefe diante dessa extrapolação de atribuições.
O País atravessa uma preocupante fase em que noções como republicanismo,
impessoalidade na administração pública e papéis e responsabilidades de
servidores parecem ter se tornado obsoletas.
Só uma mente muito fértil ou malintencionada,
daquelas suscetíveis às teorias da conspiração, é capaz de conceber a ideia de
que, de tempos em tempos, haveria uma grande articulação a portas fechadas
entre veículos jornalísticos com o único propósito de desestabilizar um
governo, seja qual for. Ora, se a imprensa independente age em “sincronia e
articulação” nas críticas pontuais à retomada dos investimentos na Refinaria
Abreu e Lima, isso não é outra coisa senão um sinal inequívoco de que
jornalistas dignos da profissão têm memória e essa imprensa está cumprindo sua
função primordial de ser guardiã da verdade factual, levando à sociedade
informações de seu interesse a tempo certo.
Como a fênix, Lula pode ter renascido das
cinzas para voltar à Presidência da República depois de todos os reveses
políticos e jurídicos pelos quais passou nos últimos anos. Mas isso não muda os
fatos nem reescreve a história do País. Seu triunfo eleitoral não tem o condão
de criar uma nova “realidade”. Os erros e os crimes cometidos durante os
governos de Lula e Dilma Rousseff no setor de óleo e gás, que arruinaram a
Petrobras em nome de delirantes projetos desenvolvimentistas e de imperativos
eleitorais e corruptos, não se apagam pela força da vontade ou do discurso do
chefe da Secom.
As diatribes do ministro Paulo Pimenta,
reverberadas pela presidente de seu partido, a deputada Gleisi Hoffmann
(PT-PR), são típicas de quem não se conforma em ver decisões de governo serem
escrutinadas pela imprensa profissional e independente. Ou seja, de quem não
nutre simpatia por um pilar fundamental da democracia.
Alertas de desequilíbrio fiscal
O Estado de S. Paulo
Cerca de 90% das prefeituras paulistas foram
advertidas pelo Tribunal de Contas do Estado, sinal preocupante dos maiores
PIBs para o País e seus mais de 5 mil municípios
Algo está muito errado quando quase 90% dos
644 municípios paulistas recebem do Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP)
alertas de desenquadramento fiscal e indícios de irregularidades na gestão
orçamentária, como foi relatado em recente reportagem do Estadão sobre as
contas de 2023. O quadro parece ainda pior quando se constata que, das oito
cidades onde foram identificados os maiores níveis de comprometimento da
receita com despesas correntes, seis estão na lista das dez maiores economias
de São Paulo, o Estado mais rico do País.
E como nada é tão ruim que não possa piorar,
o portal do TCE-SP mostra que essa é uma situação recorrente. Das 567
prefeituras que apresentavam indícios de irregularidades em relação ao
cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de acordo com o relatório
bimestral divulgado em dezembro do ano passado, 556 eram reincidentes. Somente
11 municípios, ou seja, menos de 2% do total, estavam em situação regular, sem
necessidade de publicação de nenhum alerta.
Ora, mesmo considerando que obrigações
constitucionais, como as despesas obrigatórias com Saúde e Educação, muitas
vezes engessam os já escassos orçamentos municipais, é inequívoco o sinal
emitido pelo TCE-SP de que há uma dificuldade grave e generalizada de
administração nas prefeituras paulistas. Não são poucas as cidades que
receberam, ao longo de 2023, mais de 20 avisos e encontram-se em alerta
vermelho.
Com 99,33% de suas receitas comprometidas com
despesas correntes, São José dos Campos, que figura em primeiro lugar na lista
de cidades em situação irregular, é uma dessas cidades. O município tem o nono
maior PIB entre as cidades paulistas e, no entanto, recebeu 20 avisos, ao longo
do ano passado, de que o comprometimento da receita com despesas correntes
havia passado de 85%.
O caso é apenas um exemplo a ilustrar a
situação preocupante dos entes subnacionais. Poderia ser citado Guarulhos, o
terceiro maior PIB paulistano (atrás somente da capital e de Osasco), que
também foi advertido sobre irregularidades. Por isso é plausível deduzir que,
se a conjuntura atual é essa em cidades relativamente abastadas, a situação
deve estar bem pior na maioria dos municípios brasileiros, boa parte dos quais
incapaz de andar com as próprias pernas.
O bom senso não permite imaginar que a quase
totalidade das cidades paulistas esteja a ponto de ter suas contas reprovadas e
de ver seus prefeitos acusados de improbidade administrativa e crime de
responsabilidade, como prevê a Lei de Responsabilidade Fiscal. Mas o quadro não
permite condescendência, especialmente quando se recorda que um dos fatores que
mais pesaram na alta inflacionária dos anos 80 foi justamente a precariedade
das contas estaduais.
Em vigor desde 2000, criada justamente para
ajudar a disciplinar a administração de recursos públicos e manter a
estabilidade da economia duramente conquistada, a Lei de Responsabilidade
Fiscal obriga os Tribunais de Contas a emitirem periodicamente relatórios com
alertas específicos quando verificadas situações que possam levar a
desequilíbrios, tais como descumprimento de metas fiscais, gasto excessivo com
pessoal e comprometimento financeiro inadequado.
Uma boa política fiscal é aquela que, ao
final das contas, consegue equilibrar minimamente gastos e arrecadação e que
contribui para reduzir desigualdades econômicas entre setores e entre cidadãos.
A estabilidade conduzida por uma gestão fiscal eficiente, além de controlar a
inflação, protege contra a recessão e o desemprego. O exemplo fiscal deve vir
de cima, do governo federal, e se espalhar pelos demais entes federativos.
Não é o que o País vem presenciando. União,
Estados e municípios flertam perigosamente com práticas sabidamente
reprováveis, como o aumento imprudente de despesas. Ou, de outro lado, apelando
a medidas populistas que contribuem para esvaziar os cofres públicos.
Em que pesem as questões particulares de cada
município, não há como encarar situações em que o déficit fiscal se espalha de
forma indiscriminada por administrações tão distintas sem considerar que há um
problema estrutural que pede solução duradoura.
Às favas a boa governança
O Estado de S. Paulo
Nova indicação política para a Petrobras
confirma desprezo do governo por boa gestão
A indicação do advogado Renato Galuppo para
substituir Efrain Cruz como um dos representantes da União no Conselho de
Administração da Petrobras ratifica o juízo torto do governo segundo o qual a
ideologia lulopetista está acima de qualquer critério de boa governança.
Galuppo foi um dos nomes rejeitados no início do ano passado na averiguação
interna da companhia por descumprir normas tanto do estatuto quanto da Lei das
Estatais.
Efrain Cruz, recentemente exonerado da
secretaria executiva do Ministério das Minas e Energia (MME), também havia sido
reprovado na análise curricular do comitê interno, assim como outros nomes
indicados pela União. Para manter as nomeações, o governo Lula da Silva contou
com a ajuda providencial de uma liminar do então ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Ricardo Lewandowski, suspendendo restrições da Lei das Estatais
que impedem dirigentes políticos e titulares de cargos públicos no alto comando
de empresas sob controle da União.
Lewandowski se prepara para assumir o
Ministério da Justiça, e sua decisão liminar até hoje não foi submetida à
apreciação dos demais ministros do STF, razão pela qual os indicados do governo
Lula exercem sem empecilhos os cargos para os quais foram convocados. Cruz, um
nome ligado ao Centrão, renunciou ao Conselho depois da exoneração no MME e
está sob investigação por indícios de irregularidades quando dirigiu a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
No ano passado, o estatuto da Petrobras foi
modificado para facilitar as indicações políticas na empresa. E assim o governo
segue em sua marcha para quebrar a blindagem de governança erguida em torno da
empresa depois do escândalo do “petrolão”, ocorrido nos governos de Lula e
Dilma Rousseff.
A interferência na Petrobras durante as
gestões petistas alcançou um nível tão alto que pôs em risco a própria
sobrevivência da empresa. O fortalecimento das normas de gestão foi a forma
encontrada para garantir qualidade técnica e expertise de diretores e
conselheiros e criar obstáculos ao uso político da companhia.
Galuppo, advogado com atuação jurídica na
Câmara, foi barrado no ano passado por ser filiado ao Cidadania e por não ter
nenhuma experiência em uma empresa do porte e setor de atuação da Petrobras.
Agora, não deve encontrar maiores dificuldades em se manter no Conselho,
presidido por Pietro Mendes, que também havia sido considerado inelegível na
avaliação do comitê interno da Petrobras, no ano passado, principalmente pelo
conflito de interesses que representa em razão do cargo de secretário de
Petróleo que ocupa no MME.
É dessa maneira, minando por dentro a governança da Petrobras, que Lula pretende converter a empresa em agente de sua agenda política, tal como fez seu antecessor e antípoda, Jair Bolsonaro – que também insistiu na indicação de dois conselheiros que haviam sido rejeitados pelo Comitê de Pessoas da companhia por conflito de interesse. A governança da Petrobras nunca foi relevante nem para Bolsonaro nem para Lula, desde sempre interessados somente em usá-la para seus projetos de poder.
O autocuidado e o câncer de mama
Correio Braziliense
Em 2023, foram realizados pela Fundação
Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (Fidi) quase 195 mil
exames de mamografias. Esse número corresponde a um aumento de 10,12% quando
comparado a 2022, e 43,69% se comparado a 2021
O termo autocuidado está muito em voga,
especialmente no princípio do ano. Em 2023, foram realizados pela Fundação
Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (Fidi) quase 195 mil
exames de mamografias. Esse número corresponde a um aumento de 10,12% quando
comparado a 2022, e 43,69% se comparado a 2021. O Dia Nacional da Mamografia,
neste 5 de fevereiro, pretende justamente reforçar a importância do
procedimento para a redução de casos de câncer.
Ao longo dos anos, o exame evoluiu muito, com
imagens cada vez mais nítidas e resultados precisos. No entanto, muitas
mulheres ainda se queixam de dores durante o procedimento, devido à pressão que
o equipamento produz sobre os seios. Além de detectar precocemente os sinais de
câncer de mama em mulheres assintomáticas — mamografia de rastreamento — que
não apresentam sintomas evidentes, ele também pode ser solicitado quando há
sintomas ou achados suspeitos identificados em exames anteriores — mamografia
diagnóstica.
Esses sintomas podem incluir dor mamária,
nódulos palpáveis, alterações na pele ou descarga mamilar (uma espécie de
secreção) e independem de afetar apenas mulheres acima de 40 anos. No entanto,
apenas 4,25% das mamografias realizadas foram diagnósticas, o que demonstra que
a busca pelo procedimento em quem apresenta sintomas ainda é extremamente
baixa.
Para o triênio 2023-2025, o Ministério da
Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (INCa) estimam que ocorrerão mais de 74
mil novos casos de câncer de mama, o segundo mais frequente no Brasil, o que em
números absolutos corresponde a 2,3 milhões de casos, representando 24,5% do
total de cânceres. Um fator que corrobora este alerta é um estudo realizado em
204 países e publicado pela revista científica BMJ Oncology, segundo o
qual os casos de câncer entre pessoas com menos de 50 anos aumentaram 79% nas
últimas três décadas e aqui estão incluídas mulheres acima dos 40 anos.
Outra questão que muitas mulheres desconhecem
é que, em parte dos casos, é fundamental fazer, concomitantemente, o exame de
ultrassom das mamas. Embora alguns especialistas não vejam a necessidade desse
segundo exame, há uma classe de médicos que defende que somente a
ultrassonografia dos seios é capaz de avaliar nódulos palpáveis não vistos na
mamografia, assim como o conteúdo dos nódulos e a consistência — se são
sólidos, se são cistos ou até nódulos sólidos císticos.
O ultrassom das mamas avalia nódulos em
gestantes e também é indicado para pacientes que buscam colocar próteses de
silicone ou para detecção de câncer de mama em homens. Mais importante é dizer
que, de forma alguma, um procedimento substitui o outro.
Para evitar números cada vez mais alarmantes sobre a curva do câncer de mama em mulheres no Brasil, é primordial realizar o exame precoce de mamografia. É ele que auxilia a detectar a doença ainda em estágios iniciais, evitando, assim, que a descoberta de uma lesão venha apenas em fases mais avançadas. Pesquisas indicam que, quando o câncer de mama é diagnosticado em fase inicial, as chances de cura chegam a 95%. Portanto, nada mais assertivo que o autocuidado, melhor ainda se for iniciado no começo do ano.
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