sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Celso Ming - IA e destruição de empregos

O Estado de S. Paulo

À medida que avança a utilização da tecnologia da inteligência artificial (IA), cresce o temor de destruição de empregos e complicam-se os desafios das autoridades de lidar com a novidade.

A substituição de atividades profissionais em consequência do avanço da tecnologia é coisa antiga. A criação da lâmpada elétrica, por exemplo, matou o emprego dos acendedores de lampiões. E, muito antes disso, as máquinas automáticas tomaram o lugar das ocupações repetitivas nas fábricas – o que levou, no início da Revolução Industrial, ao ludismo, o movimento dos trabalhadores que se puseram a quebrar as máquinas.

No entanto, ao mesmo tempo em que novas tecnologias extinguiram profissões, outras oportunidades foram criadas. Sempre que isso aconteceu, a sociedade conseguiu se adaptar às mudanças e gerou mais empregos e com melhor remuneração.

Estudo recente do Fundo Monetário Internacional concluiu que, em todo o mundo, cerca de 40% das ocupações sofrerão o impacto produzido pelo inevitável crescimento da utilização da IA. Esse impacto não será uniforme. Em países industrialmente desenvolvidos, o porcentual de ocupações expostas aos efeitos da IA deverá ser ainda maior, de alguma coisa em torno de 60%.

Mas este não será o único efeito a ser criado pela nova tecnologia. Aumentará também a produtividade tanto do trabalho quanto da produção.

A grande questão com a adoção da IA generativa (que trabalham com vários tipos de linguagem como visual, escrita e audiovisual), como é o caso do ChatGPT e de tantas outras que estão sendo lançadas, é que elas exigem respostas mais rápidas, uma vez que essas tecnologias seguem sendo desenvolvidas para imitar, ou até mesmo para substituir com vantagem as atividades humanas.

Na avaliação do coordenador de humanidades do Centro de Inteligência Artificial da USP, Glauco Arbix, os principais sinais de que revolução tecnológica pode ser um pouco diferente do passado são os impactos nos empregos de maior qualificação, como os dos advogados, jornalistas, professores, contadores e tradutores. Também leva ao risco de aumentar as desigualdades, tanto de gênero, quanto de raça e de qualificação no mercado de trabalho global: “É quase consenso de que esse avanço aumentará as atuais desigualdades. Isso significa que o mercado de trabalho ficará mais segmentado. Oferecerá menos empregos bem remunerados e tende a rebaixar ou a desempregar trabalhadores”, adverte Arbix.

A chave para superar esse possível cenário, imagina Arbix, é o aumento do investimento em formação e requalificação profissional.

Embora experimente fortes recuos nos índices de desemprego, o Brasil ainda enfrenta a baixa qualidade dos seus profissionais. O futuro do trabalho passa pela melhora da educação já que os empregos que exigem mais análises tendem a ser poupados.

 

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