O Estado de S. Paulo
O volume cada vez mais imenso de moeda que
circula pelo mundo provoca convulsões como a matéria escura no universo: invade
tudo e repuxa tudo – a qualquer tossida da economia dos Estados Unidos.
São movimentos aparentemente sutis da
inflação em dólares que, no entanto, têm forte impacto sobre os mercados e
embaralham as previsões dos analistas e dos administradores de patrimônio.
Na terça-feira, foi a surpresa negativa da evolução do custo de vida (CPI, na sigla em inglês) de janeiro nos Estados Unidos, que veio acima da esperada e mostrou avanço dos chamados núcleos de inflação. Foi o suficiente para acender as luzes amarelas do Fed (o banco central dos Estados Unidos), indicando que terá de adiar pelo menos até junho o início do ciclo de baixa dos juros básicos, hoje entre 5,0% e 5,5% ao ano.
E bastou isso para que o mau humor tomasse os
mercados e administradores de volumes incomensuráveis de capitais adiassem
investimentos e novas aplicações de risco.
Na quinta-feira, nova pancada, mas em sentido
ligeiramente inverso, veio com o recuo mais acentuado nas vendas ao varejo,
também nos Estados Unidos: queda de 0,8% em janeiro, sensivelmente acima do
0,1% esperado. Poderia sugerir desaceleração da atividade econômica da
principal locomotiva do mundo. Mas, para completar, os preços no atacado (PPI,
na sigla em inglês) de janeiro também vieram acima do esperado – o que aumentou
as pressões para que o Fed adie o início da baixa dos juros. Lá, a meta de
inflação é de 2% em 12 meses.
A principal consequência para o mercado
brasileiro recai sobre a política interna de juros. Como o Copom seguirá
cortando os juros básicos (Selic) em 0,5 ponto porcentual em março e em maio, o
diferencial entre os juros daqui e de lá continuará caindo. Já foi de mais de
oito pontos porcentuais ao ano, hoje está a seis e deverá cair para cinco em
maio. Essa diferença tende a ser suficiente para reduzir aplicações de risco no
Brasil de capitais estrangeiros, especialmente de prazos mais curtos.
Se esse redesenho do jogo monetário deixar de
inibir a atividade econômica global, as exportações brasileiras deverão
continuar a ser beneficiadas.
Há alguns meses, o maior risco para o sistema
produtivo do Brasil era o de que a crise climática derrubasse substancialmente
a produção de grãos. No entanto, embora apontem certa quebra das safras, as
últimas estimativas da Conab e do IBGE mostram que os estragos serão limitados
e poderão ser compensados pelos bons preços dos grãos. Ou seja, apesar de tudo,
dá para continuar esperando uma alta do PIB em 2024 da ordem de 2%.
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