Folha de S. Paulo
Movimento para minar o poder do STF é aliado
do ex-presidente
O "passar a borracha em tudo" —lema
do golpista cujo golpe de Estado fracassou, apesar da conspiração e das
tentativas de execução— é menos um pedido de arrego que a certeza de que parte
singular do Congresso navega nas mesmas águas turvas.
Em outubro do ano passado, o general Hamilton Mourão apresentou no Senado projeto de lei propondo anistia para acusados e condenados pela insurreição fascista que depredou as sedes dos Três Poderes. Mesmo afastado do círculo íntimo do ex-presidente, Mourão jamais escondeu suas simpatias autocráticas. O projeto está em consulta popular, e direita e esquerda digladiam-se nas redes para ter a maioria.
O movimento para minar o poder do Supremo
trabalha a favor de Bolsonaro e de seus ministros e militares golpistas.
Articuladas pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, circulam duas propostas: o
fim do foro especial e a determinação de que medidas judiciais contra
parlamentares só possam ocorrer após aval da Mesa Diretora das duas Casas. O
obstáculo é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que é contra a PEC da
Blindagem.
O capitão está atacando a carne ainda crua,
hábito nada recomendável para quem se submeteu a quatro cirurgias —e poderá
fazer uma quinta— na região intestinal. Primeiro, ele terá de esperar o fim das
apurações da Polícia Federal. Depois, a acusação da Procuradoria-Geral da
República. E, só então, o julgamento do STF. Até o Lula
percebeu tal açodamento.
No ato da avenida Paulista —que reuniu um
público digno de clássico no Maracanã dos anos 1960 ou cerca de 20% dos foliões
que o Cordão da Bola Preta arrasta no Carnaval—, Bolsonaro pediu anistia para
si próprio. Ou seja, assumiu sua culpa diante da multidão que no fundo tinha a
certeza de que ele não era inocente. Causou menos efeito que o discurso com
lágrimas da ex-primeira-dama Michelle conclamando a instalação de uma teocracia
no país.
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