sábado, 2 de março de 2024

Marcus Pestana* - Os municípios, a democracia e o bem-estar da população

Faltam apenas sete meses para as eleições municipais. Pelo impacto na qualidade de vida da população, pelo tipo de organização federativa no Brasil e pela maior proximidade com o dia a dia da comunidade, o poder local é um espaço essencial na execução das políticas públicas e um elo central no funcionamento de nossa democracia.

Escolher bem prefeitos e vereadores é garantir um alicerce sólido para a entrega de qualidade e eficiência à população, nos diversos campos de intervenção do setor público. Em um país continental como o Brasil, a descentralização das políticas públicas é essencial para seu sucesso. Foi esse o caminho consagrado pela Constituição Federal de 1988 e pioneiramente adotado com sucesso pelo SUS, que tem no município seu centro de gravidade. Posteriormente, a assistência social e a segurança pública, perseguiram a mesma estratégia de descentralização das ações e integração federativa.

Com a experiência de quem já foi vereador, secretário municipal e estadual, alto dirigente em dois ministérios, deputado estadual e federal, compartilho minha esperança e expectativa de que as eleições municipais sejam um momento privilegiado de democraticamente discutirmos a vida em comunidade no espaço urbano e os principais desafios das políticas públicas que têm no poder local seu lócus de formulação e execução nas áreas de educação, saúde, assistência social, mobilidade urbana, transporte coletivo, saneamento, habitação popular, limpeza urbana, infraestrutura e planejamento urbanos. 

Mesmo em segmentos que recaem mais sobre as órbitas estadual e federal (segurança pública, comunicações, energia), prefeitos e vereadores, como líderes políticos das comunidades locais, têm um papel importante na mobilização e coordenação das ações. 

Dois temores tenho em relação a vetores que podem desfocar a discussão sobre o futuro das cidades, jogando fora uma excelente oportunidade de debater os nossos problemas sociais. 

Primeiro, a nacionalização da campanha, num país radicalmente polarizado. Alerto sem medo de errar: o eleitor é sábio e não vota em “padrinhos”. A transferência de votos é mínima. Quem tentar pendurar sua campanha em grandes líderes nacionais, não colherá êxito. As eleições e o exercício do poder no município têm baixa carga ideológica. Estaremos elegendo prefeitos que devem ser líderes catalizadores das energias dispersas na sociedade e gestores do cotidiano, gerentes para melhorar, no dia a dia, a qualidade de vida da população, desde a inovação nas políticas públicas até a eficaz atuação nisso que hoje se apelida zeladoria. Direita, esquerda, centro, são conceitos ideológicos que fazem sentido quando se discute o modelo de Estado, a organização da economia, política externa, etc. A proximidade com os usuários dos serviços públicos dá uma concretude muito maior às ações do poder público municipal e isso traz a discussão para um terreno mais concreto e objetivo.

Outro temor, é a eleição ser contaminada pelas moderníssimas ferramentas tecnológicas como a inteligência artificial e nos perdermos numa baixaria sem fim de fakenews, longe dos reais interesses da sociedade.

Oxalá, as eleições cumpram sua verdadeira função de poderosa alavanca a produzir o aprimoramento das ações das prefeituras e a construção de cidades melhores para os que nelas habitam.   

*Economista e Professor. Ex-Deputado Federal pelo PSDB-MG. Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais (2003-2010). Diretor-Executivo do IFI – Instituição Fiscal Independente do Senado. 

Um comentário:

Daniel disse...

Neste texto, o autor desconsiderou a AGRICULTURA, que, como a saúde e a educação, deve integrar ações dos 3 níveis de governo.