Valor Econômico
Assim como resultado pífio do PT nas eleições de 2020 não serviu como
indicador da vitória de Lula dois anos depois, pleito deste ano não servirá
para 2026
A cada ciclo eleitoral, um exército de analistas e algumas lideranças
políticas tentam auferir o significado nacional dos resultados das eleições
municipais. O mesmo deve ocorrer este ano, quando a disputa na capital paulista
será vista como a mais importante no embate entre petismo e bolsonarismo.
De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva articulou ativamente a volta da ex-prefeita Marta Suplicy ao PT para pleitear, ao lado de Guilherme Boulos (Psol), a prefeitura paulistana, que o Palácio do Planalto vê como estratégica. De outro, o ex-presidente Jair Bolsonaro colocou seu peso político a serviço do prefeito Ricardo Nunes (MDB), após descartar apoio a candidaturas avulsas.
Embora as pesquisas mostrem um empate técnico entre os dois
pré-candidatos, há motivos sólidos para acreditar na vitória de Nunes, e não
será surpreendente se ele se eleger com certa folga. Essa perspectiva é uma má
notícia para o Planalto - mas tem quase nenhuma relação com a disputa nacional.
De modo geral, eleições municipais são predominantemente influenciadas por
fatores locais e péssimos indicadores para resultados nacionais.
Duas razões simples explicam o favoritismo do atual prefeito - nenhuma
delas ligada a questões nacionais ou à atual polarização política nacional: o
eleitorado da capital não parece desejar mudança, e ele pode se beneficiar do
bem-fornido caixa da Prefeitura para fazer investimentos e vender seu peixe
durante a campanha.
A aprovação popular do governo é o melhor ponto de partida para qualquer
diagnóstico sobre as chances dos candidatos. Dados coletados pela Ipsos Public
Affairs em mais de 400 eleições nos últimos 30 anos mostram que governantes
cuja aprovação supera os 40% (mensurada como aprova/desaprova, não na escala
ótimo/bom/regular péssimo) geralmente se reelegem. Mandatários com aprovação em
40% seis meses antes do pleito saem vitoriosos 58% das vezes. Essa proporção
sobe para 78% para aqueles com 45% de aprovação, e chega a 90% quando a
aprovação do governante é de 50%. Mas, quando a aprovação popular é de 35%, as
chances de reeleição caem para 36%.
Por essa ótica, Nunes parece estar bem posicionado. A Paraná Pesquisas
mostrou que, em março, 58% dos eleitores aprovavam o governo de Nunes, enquanto
38% desaprovavam. Em dezembro, a taxa positiva era de 55%. Os dados da
AtlasIntel, por sua vez, davam 34% de aprovação ao prefeito em dezembro, e 45%
de reprovação. A média das duas sugere uma aprovação de 46%, dando ao prefeito
mais de 70% de chances de reeleição.
A discrepância entre os dados provavelmente resulta do pouco
conhecimento que a população tem de Nunes, que assumiu o cargo em maio de 2021,
após a morte de Bruno Covas. Quando institutos mensuram sua aprovação em uma
escala de cinco pontos (ótimo/bom/regular/ruim/péssimo), o prefeito geralmente
goza de baixas taxa de “ótimo/bom”, e de “ruim/péssimo”. A última pesquisa
Datafolha, por exemplo, apontou que ele é considerado “ótimo/bom” por 29% dos
eleitores, e “ruim/péssimo” por 24%. A avaliação “regular” ficou em 43%.
A baixa taxa de “ruim/péssimo” é um bom sinal para o prefeito, pois
sugere que não há clima de insatisfação. Esse diagnóstico é reforçado por uma
pesquisa feito pelo Ipec que mostrou que, em dezembro, 30% dos moradores da
capital consideravam que a qualidade de vida melhorou nos últimos anos,
enquanto 22% acreditavam que piorou e 43% viam a situação como estável -
sugerindo que não há grande insatisfação ou desejo de mudança entre os que
respondem “regular” na pesquisa da Datafolha.
Isso sugere que a campanha será importante para o prefeito, e a boa
situação fiscal da prefeitura paulistana também o favorece. O governo local
começou 2023 com um orçamento de R$ 34 bilhões - mais que o triplo dos R$ 11
bilhões de quatro anos antes. Um volume de recursos que se traduziu em
investimentos de quase R$ 10 bilhões no ano que antecede a disputa eleitoral.
Essa disponibilidade de recursos resulta de algumas iniciativas da
prefeitura, incluindo o acordo com o governo federal envolvendo a cessão do
Campo de Marte, que extinguiu a dívida de quase R$ 24 bilhões do município com
a União, e a reforma previdenciária. Mas o fenômeno tem raízes mais amplas. Um
estudo feito pelo Centro de Estudos da Metrópole da USP com 600 cidades com
mais de 50 mil habitantes mostra que, entre 2018 e 2022, a receita dessas
prefeituras cresceu 24% acima da inflação. O congelamento de salários durante a
pandemia, no entanto, fez com que as despesas com pessoal e encargos sociais,
por sua vez, subisse menos da metade disso. Em consequência, as prefeituras
estão com dinheiro em caixa para investir.
Para um prefeito pouco conhecido, com eleitores pouco insatisfeitos, o
quadro é bastante favorável. Nunes terá um amplo leque de feitos e obras de
infraestrutura para mostrar durante a campanha, que inclui investimentos em
educação (56 Centros Educacionais Unificados reformados e a construção de 45
novas escolas), além de benefícios como a gratuidade nos ônibus aos domingos.
Isso sugere que sua aprovação tende a crescer mais durante a campanha.
Esse favoritismo de Nunes - se confirmado - terá pouco ou nada a ver com
o ambiente nacional de polarização. Estará muito mais relacionado a um ambiente
favorável à reeleição de governantes. Em 2020, o índice de reeleição de
prefeituras se encontrou em 65% - o maior percentual desde 2008. O pleito
daquele ano foi marcado por transferências feitas a prefeituras durante a
pandemia, que favoreceram os mandatários que buscavam renovar seus mandatos. No
ciclo atual, as prefeituras terão ainda mais dinheiro em caixa, o que deve
fazer esse índice subir mais. De forma que, assim como o resultado pífio obtido
pelo PT nas eleições de 2020 não serviu como um indicador da vitória de Lula
dois anos depois, o pleito deste ano não servirá como indicador para 2026.
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