O Globo
O tenente-coronel atualiza a máxima para o
destino de quem se associa a Bolsonaro e ao bolsonarismo: entrar e então
morrer
O tenente-coronel Mauro Cid atualiza a máxima
para o destino de quem se associa a Bolsonaro e ao bolsonarismo: entrar e então
morrer. Variadas as formas, as expressões, da morte. Entrar e morrer. Sina.
Sempre uma questão de tempo — já condenados também os caiados que se pensam
livres da maldição. É inescapável.
Entrar e então morrer. Morrer e continuar
morrendo. Úteis, alguns dos mortos. Mortos a serviço. Mortos para sacrifício.
Finados em ação. Os defuntos ativos, matando (matando-se) e morrendo.
Os áudios de Cid divulgados pela Veja expõem
um morto que se mata — ou se deixa matar:
— Quem mais se fodeu fui eu. Quem mais perdeu
coisa fui eu. O único que teve pai, filha, esposa envolvidos. O único que
perdeu a carreira, o único que perdeu a vida financeira fui eu.
Isso é desabafo de zumbi.
— Ninguém perdeu carreira. Ninguém perdeu
vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas. Já tinha
atingido o topo. Né? O presidente teve Pix de milhões. Ficou milionário, né?
Isso é desabafo de zumbi amargurado ante
zumbis graduados. Todos fizeram escolhas. Todos mortos, com as estrelas, como
as estrelas. Bolsonaro, sem estrelas e milionário, suga e vai. Seca e vai. De
morte em morte, vai. Dormindo o sono das embaixadas, flertando com a prisão,
quiçá cavando a preventiva — vai. Cid, morto e se matando:
— Você pode falar o que quiser. Eles [os
policiais federais] queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não
aconteceu. (...) Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam.
E discutiam que a minha versão não era verdadeira, que não podia ter sido
assim, que eu estava mentindo.
Isso já é outra modalidade de manifestação.
Os métodos do bolsonarismo pelo zumbi Cid. Entrar, consumir-se num universo em
que tudo precisa ser desacreditado, em que nada é confiável, e então morrer.
Plantar desconfiança a ser difundida entre os que confirmarão a imoralidade da
Justiça, que persegue e chantageia. Gatilho de Lava-Jato. Bolsonaro vitimizado.
Eis o texto rapidamente disparado. E então a morte.
A depender do perseguido e chantageado, a
tese da coação prospera — encontra togado que a abrace — e se torna influente.
Capaz até de reescrever a história da corrupção no Brasil; e de repente os
injustiçados (corruptores da corrupção que não houve) já tocam a obra no palco
— denunciam os injustiçados corrompidos da corrupção que não houve — da armação
estadunidense contra a soberania brasileira e nosso porvir glorioso.
Não será o caso de Cid; que não terá a
oportunidade de comandar tropas. Também morto como militar. Golpista fraudador
instrumentalizado, cumpridor do que lhe fora fadado. E morto. Morreu semeando
dúvidas sobre a República. Terá todo o rigor contra si.
Morrer e continuar se matando. Depoimentos à
PF, compromisso com a verdade, vantagens no horizonte — e então os áudios
segundo os quais suas declarações foram distorcidas, descontextualizadas as
informações que prestou, algumas mesmo omitidas. Cid é Cid é Cid é Cid é Cid. É
Bolsonaro. Era. Foi.
Falou a pessoas próximas — o Cid desesperado,
o traidor que se justifica. Falou a quem? Traidor e traído. O desabafo que, na
mão do bolsonarismo, circula para robustecer a percepção de ditadura xandônica.
Missão cumprida. Provas em xeque. A lava-jato do Xandão — é o que vai no
zap-profundo. Cid quereria uma vaza-jato para si. A vaza-jato de Cid vindo para
matá-lo ainda mais. “Vício de voluntariedade”? Isso é para quem pode. Ninguém
quer Cid.
Delator desprovido de um Dias Toffoli para
lhe pegar a bravata e transformar em “pau de arara do século XXI”, Cid não terá
a chance de, anuladas as provas que ofertou, garantir os benefícios da
colaboração. É provável que os perca. E que as provas valham. Acordo revogado
por infringir deveres de colaborador. Ninguém o quer. Preso já está.
Inexistente a possibilidade de não sustentar a acusação que fez — de oprimido
para delatar — e ainda poder negociar. Nem o advogado da J&F, também
delator, poderia ajudá-lo. O morto Cid ora morre sozinho.
Confirma o que disse nos áudios vazados? Que
foi pressionado a relatar fatos que não ocorreram; a detalhar eventos que
desconhecia; induzido a corroborar declarações de testemunhas. Confirma? Não.
Ok. Dane-se. Não importa. Poderíamos prescindir do que relatou. Temos outras
provas. A palavra dos estrelados. Descartado está, senhor Cid. O senhor mesmo.
Descartado. Não se superestime. Sua delação é peça menor no conjunto. O senhor:
morto menor no conjunto. É o que se comunica e impõe desde o Q.G. xandônico.
A morte e a morte de Mauro Cid. Vale nada.
Para a Justiça. Também para o bolsonarismo. Seu desabafo já tendo produzido o
efeito conspirativo. O morto Cid morre sozinho. Até a próxima.
Um comentário:
Sei.
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