terça-feira, 26 de março de 2024

Hélio Schwartsman - Boas e más notícias

Folha de S. Paulo

Elucidação do caso Marielle deve ser celebrada, mas revela que deterioração da segurança pública é maior do que se temia

aparente elucidação do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes é uma excelente notícia. Espero que os investigadores tenham coletado provas robustas o bastante para que o julgamento dos suspeitos de ter encomendado a morte da vereadora se dê de forma técnica, rápida e certeira. O momento é de satisfação e deve ser celebrado. Não há como esconder, porém, que a boa nova chega embrulhada numa série de circunstâncias que pintam um quadro de deterioração da segurança pública muito pior do que se acreditava.

Se é verdade que o próprio chefe da Polícia Civil fluminense participou do planejamento do assassinato, então estamos diante de nada menos do que a falência do Estado. Se aqueles que deveriam zelar pela ordem pública são membros ativos do crime organizado, não há mais distinção entre polícia e bandido, entre lei e barbárie.

Habitantes de outros estados que não o Rio de Janeiro podemos tentar nos tranquilizar imaginando que nossa situação não é tão ruim. É verdade que o processo de milicianização das polícias avançou mais no Rio do que em outros lugares, mas a diferença é mais de grau do que de natureza. Em São Paulo, por exemplo, o governador e seu secretário da Segurança Pública parecem estar se esforçando para eliminar todos os vestígios de profissionalismo e respeito à lei.

O caso Marielle revela também que o braço político do crime organizado é mais longo do que se supunha. É muito preocupante que um dos suspeitos, que é deputado federal, tenha exercido posto de secretário municipal do Rio e outro seja conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Se a população normaliza através do voto candidatos ligados a milícias, é obrigação dos políticos que ainda não se deixaram contaminar erguer um cordão sanitário em torno dessas figuras, impedindo-as de exercer cargos de maior relevo. Deixar de fazê-lo é pregar mais uma tábua no caixão do Estado brasileiro.

 

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