O Estado de S. Paulo
As forças políticas no governo têm
dificuldades em aprender com o passado
O Palácio do Planalto virou hoje o principal
pavilhão de exposições do parque jurássico de ideias. São aquelas que foram
testadas e derrotadas pelos fatos, e nas quais se insiste acreditando que o
problema com as ideias (estatismo, por exemplo) não era de mérito, mas de dose
(pouca).
Por esse motivo tem sido tão frequentemente
aplicada aos inquilinos do Planalto a frase “Nada aprenderam e nada
esqueceram”. Ela capta o fato de que, mesmo diante de grandes acontecimentos de
resultados evidentes (como o desastre econômico ao fim da era petista), alguns
indivíduos e regimes não conseguem aprender com erros passados.
O presidente Lula é a figura-símbolo hoje do
que a Economist chamou recentemente de “ancien régime”: um conjunto de forças
políticas e instituições lutando para se manter donas do poder. Esse “velho”
sistema está se recuperando, resistindo e vencendo, assinala a revista.
Por isso não se pode atribuir apenas ao presidente os impulsos intervencionistas em relação a estatais ou empresas já privatizadas. É muito mais amplo do que o PT o conjunto de forças políticas empenhadas em transformar nacos da máquina do Estado e empresas estatais em ferramentas na defesa de seus interesses privados setoriais ou regionais. Sempre foi assim com a Petrobras.
No caso dos ataques à governança de Vale e
Eletrobras, porém, o motivo não está apenas no “dirigismo estatista do PT” ou
no rancor pessoal de Lula com privatizações. O poder público perdeu qualquer
capacidade significativa de realizar investimentos vultosos (ferrovias ou
“utilities”, por exemplo). De onde vão sair recursos para tocar obras que geram
mais negócios e têm grande impacto em regiões e bases eleitorais, senão das
privatizadas?
O curioso é que as ideias retrógradas na ala
ideológica no Planalto e seu conluio com o mosaico de forças políticas e seus
interesses particulares produziram situações nas quais se cancelam mutuamente,
como demonstrado nos detalhes da luta intestina pelo controle da Petrobras –
colocando em campos opostos ministérios “fortes”, conselho e diretoria da
empresa, criando notável confusão e péssimo ruído para investidores de todo
tipo.
Terremotos geopolíticos recentes expuseram
mais uma vez mundo afora a falsa dicotomia entre “mercados” e “Estado indutor”,
um dos destaques no pavilhão de ideias jurássicas no Planalto. O que esses
mesmos acontecimentos ressaltam é a importância de estratégias políticas que
aprenderam com erros do passado e se adaptam constantemente às condições
presentes.
É coisa bem diferente da atual politicagem.
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