Os eleitores de 2022 começam a perceber a "fake" em que entraram, ao votar naquele pleito, que oferecia apenas dois candidatos com ampla visibilidade, e que, segundo avaliação do experiente jornalista e editor Carlos Brickmann, um era louco e o outro corrupto. Passadas as eleições, declarado o vencedor, os cidadãos começaram a cair na real, ao tomarem conhecimento de veladas intenções do vencedor .
O circo foi se esvaziando. Aos poucos, a população desapareceu das manifestações de rua convocadas pelo vitorioso, e passou a receber mal as visitas e exposições do casal presidencial. As redes digitais reproduziam entre si , amplamente ,as críticas severas às leviandades públicas cometidas pelo eleito contra pessoas internamente e países em conflito sem qualquer relação com a governabilidade no Brasil . Sem qualquer pejo ou ética, os governantes tentam transformar, em inimigos da população, adversários pessoais ou partidários, estratégia que repete na história alguns regimes ditatoriais longevos, e que, percebida, vem sendo rechaçada, interna e externamente.Os empresariado e as categorias médias estão assustados com as mudanças inesperadas na política brasileira, sem se enxergar nada sendo colocado no lugar. Há uma repetição sistemática do já conhecido e, de algumas coisas até fracassadas no passado. Descrentes de um futuro ainda não anunciado, as empresas convivem inseguras com os indicadores da economia divulgados por vozes oficiais: crescimento de 2,9 do PIB em 2023; redução do desemprego no primeiro trimestre de 2024 para 7,8% (8 milhões de trabalhadores), sem referência ao tão criticado emprego informal - "Todo mundo vai ter carteira de trabalho assinada" -, representado hoje por perto de 25 milhões de trabalhadores, número e condição omitido nas estatísticas de governo. Evita-se comentar ainda sobre o encerramento das atividades produtivas de centenas de empresas , confundindo -o com com a história da oneração e da desoneração fiscal das empresas. Não se fala também muito sobre os investimentos, tanto internos quanto externos. O que surge aí , vez por outra, vem, virá ou veio da China .
Ambiguamente, recolocando o desemprego no cenário da economia, o ministro Luiz Marinho, do Trabalho, alimenta-se da hipótese de um orçamento de R$ 111.9 bilhões, em 2024, para o Fundo de Apoio ao Trabalhador - FAT . Concorda, entretanto, que desse valor, quase imaginário, R$ 78.9 bilhões seriam destinados ao pagamento do seguro- desemprego e do abono salarial, esta ajuda direta às famílias sem renda própria: um crescimento contraditório.
O Ministério prenuncia a expansão do emprego, e faz de conta de que desconhece dados mais reais . Confia, sem entrar em detalhes, que as eleições municipais deste ano vão abrir muitas vagas de trabalho. É verdade. só que serão de trabalho temporário, sem carteira assinada. Provavelmente, esses empregos surgirão nos meses de agosto e setembro, que antecedem às eleições.
Poucos são os dirigentes empresariais que acreditam e manuseiam com seguranças os indicadores macroeconômicos divulgados oficialmente, em que pese a seriedade histórica das instituições que os calculam e configuram: IBGE, FGV, IPERJ, IPEA. Inseguros, questionam a sua validade para o planejamento de expansão dos negócios. Alguns chegam a projetar uma crise econômica para o período pós eleitoral. Um terceiro grupo fecha as portas, muda de atividade, e demite o pessoal. Os estrangeiros, a exceção da China, não desembarcam por aqui. O Banco Central teme, inclusive, que a redução da SELIC (taxa básica de juros), de 10,75 hoje, não vá se sustentar mesmo, e já está falando em uma retomada da dos níveis anteriores.
Estão todos receosos de avançar nas gastanças, como recomenda o governo. Os estrangeiros inclusive. Não há no horizonte nenhuma preocupação do governo com a possibilidade de um déficit fiscal avantajado. Os dados do IBGE parecem estar revestidos de uma roupagem populista, quase vazia, marquetologicamente institucionalizada. Não se deve dar um tostão para as falas de Macron, Presidente da França, que veio passar três dias no Brasil para corrigir algumas disfunções retóricas. Mas, parece ter seguido o cinismo corrente. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Lavrov, também passou rápido e sorrateiro por aqui.
A máquina do Estado revela a cada dia a carência de profissionais e técnicos habilitados para formular e administrar o conjunto das políticas públicas , todas submetidas , artificiosamente, a contingenciamentos e cortes orçamentários mesmo . Os cargos de gestão, com raras exceções, estão sendo ocupados vagarosamente por representantes partidários, nem sempre qualificados. Os concursos públicos arrastam-se retoricamente no tempo, desde a campanha eleitoral de 2022, frustrando a esperança de emprego de milhões de jovens recém saídos das universidades.
Os descrédito das iniciativas discursivas vem maculando inclusive até as decisões do Poder Judiciário, com credibilidade baixíssima. Servidores mais antigos , sobretudo no Executivo, reivindicam, sem sucesso, reajustes de salários, ameaçados de congelamentos. Percebe-se que o governo está adotando uma política de arrocho no serviço público. Nada impede que, a partir do segundo semestre, o funcionalismo publico comece a fazer paralizações de advertência e greves mesmo.
Outro problema grave são as viagens presidenciais com o propósito, propagado amplamente, de situar o Brasil como ator no cenário mundial. Opiniões pessoais, altamente contraditórias, às vezes sem sentido, são emitidas em nome da Nação. Essas tiradas inconsequentes e sem a legitimidade - que viria do Congresso - estão aparentemente desconstruindo a imagem carismática construídas pelo atual governante. "Ele mente ", já advertia, na oposição, Geraldo Alkmin - essa personalidade claudicante - há dez ou quinze anos atrás A imagem do País e dos brasileiros piorou sensivelmente depois dessas aventuras oficiais , de caráter quase nupciais. Parece que a Nação vem caindo numa "fake".
* Jornalista e professor
2 comentários:
Ailê: paralisações e não "paralizações" (com "z").
Cruzes!
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