Valor Econômico
Governo busca uma nova marca para transformar
em carro-chefe da gestão Lula 3
Em meio à queda de avaliação nas pesquisas, o
governo federal foi aconselhado a buscar uma nova marca para transformar em
carro-chefe da gestão Lula 3, num cenário em que Bolsa Família, Minha Casa,
Minha Vida e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não cumprem mais
essa função. “O passado é uma roupa que não nos serve mais”, opinaria Belchior.
As apostas voltam-se para o recém lançado
programa “Pé de Meia”, que oferece uma bolsa de R$ 9,2 mil ao estudante que
completar os três anos do ensino médio. A iniciativa do Ministério da Educação
(MEC), que mira jovens de 14 a 24 anos no ensino médio, é uma das poucas
novidades do terceiro mandato do petista.
O programa mal entrou em vigor, entretanto, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já encomendou ao Ministério da Fazenda mecanismos para ampliá-lo. Mas a vontade política esbarra na questão fiscal.
O programa vai pagar R$ 9,2 mil aos alunos
que completarem o ensino médio, dessa forma: dez parcelas de R$ 200 durante o
ano letivo, além de um bônus de R$ 1 mil na matrícula. No fim, o aluno pode
receber mais um bônus de R$ 200 se fizer a inscrição no Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem).
A política é oportuna porque o maior índice
de evasão escolar ocorre no ensino médio: cerca de 450 mil jovens abandonam a
escola, por ano, nessa etapa. Além disso, pelo menos 69 milhões de brasileiros
de 25 a 64 anos não concluíram o ensino médio. O principal motivo da debandada
é financeiro.
O “Pé de Meia” desponta como uma política
duplamente atraente para o momento de derretimento da popularidade de Lula.
Internamente, tem sido considerado uma vitrine com fôlego para elevar a
aprovação do governo, principalmente entre o público de baixa renda, e com foco
nos jovens.
A expectativa é que cumpra um papel no
passado desempenhado pelo Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e Farmácia
Popular. Estes programas ainda são necessários, mas pela longevidade, despertam
menos interesse do eleitorado.
Ao mesmo tempo, o programa emerge como canal
de diálogo com a população jovem, principalmente, na faixa de 16 a 24 anos, que
tem cobrado do governo mais acesso à educação, empregabilidade e segurança.
Este segmento apoiou, majoritariamente, Lula na eleição, mas começou a desertar
segundo as pesquisas mais recentes. Não é um público desprezível: o eleitorado
com faixa etária de 16 a 17 anos, cujo voto é facultativo, aumentou 14,2% em
comparação com o pleito municipal de 2020, enquanto o eleitorado acima de 18
anos cresceu 6,2% a partir de 2018.
O impasse é que, mal saiu do papel, o
programa gerou ruídos entre os contemplados: de início, apenas 2,5 milhões de
alunos matriculados no ensino médio da rede pública, inscritos no Bolsa Família
(com renda familiar per capita mensal igual ou inferior a R$ 218). O orçamento
reservado para esta largada foi de R$ 7 bilhões.
Nessa primeira etapa, o programa não
alcançará todos os alunos do ensino médio inscritos no Cadastro Único para
Programas Sociais (CadÚnico). Essa inclusão elevaria o número de beneficiários
para 3,6 milhões, e o custo do programa para R$ 11,6 bilhões.
Como em geral os beneficiários do Bolsa
Família compartilham os bancos escolares das escolas públicas com inscritos no
CadÚnico (mas não no Bolsa Família), estes últimos passaram a questionar sua
exclusão do programa. No fim, há o temor de que a frustração dos excluídos
contamine a satisfação dos contemplados num clima de solidariedade entre os
colegas. Porque a vulnerabilidade de uns vai parecer maior do que a pobreza dos
outros.
No dia 25 de março, em solenidade no Palácio
do Planalto, alguns alunos de escolas públicas matriculados no ensino médio,
que estavam recebendo a primeira parcela de R$ 200, perguntaram às autoridades
presentes por que nem todos os colegas teriam direito à bolsa do governo.
O impasse fiscal para expandir o “Pé de Meia”
coloca os ministros da Educação, Camilo Santana, e da Fazenda, Fernando Haddad,
um diante do outro. Camilo na cadeira já ocupada por Haddad, que, no comando da
política monetária, se vê pressionado para atender Lula, bem como a promessa de
um déficit fiscal zero.
Ambos estão bem cotados com Lula, mas este
torce o nariz para o rigor fiscal do titular da Fazenda, enquanto publiciza a
lua de mel com Camilo. O presidente já declarou que o titular do MEC tem a
missão de superar Haddad, que deixou como legado a ampliação dos alunos no
ensino superior, de 3,5 milhões para cerca de 7 milhões ao deixar a pasta em
2012.
Nos bastidores, Lula tem elogiado Camilo para
auxiliares e aliados, e intensificou as agendas com o ex-governador do Ceará.
Nesta semana, eles estarão juntos em dois compromissos. Nesta terça-feira (2),
Lula, Camilo e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), inauguram a
Universidade da Matemática, ligada ao Instituto de Matemática Pura e Aplicada
(Impa), na capital fluminense.
Na sexta-feira (5), Camilo integrará a
comitiva de Lula em visita ao Ceará, sua base eleitoral. Eles visitarão as
obras da Ferrovia Transnordestina em Iguatu, no sertão cearense, e anunciarão
novo ramal ligado à transposição das águas do Rio São Francisco. No ato de 25
de março, Lula e Camilo anunciaram, juntos, o pagamento da primeira parcela do
“Pé de Meia”.
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