Folha de S. Paulo
Fim da saidinha é motivo de festa para
facções recrutarem novos membros
Congresso, as facções criminosas agradecem o fim da saída temporária. Toda vez que vossas excelências diminuem a progressão de pena no país, as mais de 70 facções que dominam o já abarrotado sistema carcerário fazem festa com a prospecção de recrutar novos membros. O Parlamento age como o departamento de recursos humanos do crime, capaz de transformar ladrão de galinha ou usuário condenado como traficante no novo integrante do Comando Vermelho e do PCC, facções presentes em 25 das 27 unidades da Federação.
Em vez de sair da prisão e retornar 95% das
vezes, agora presos perdem um indutor de bom comportamento. O argumento
contrário à saída pressupõe que as prisões estão cheias de homicidas contumazes
que ali deveriam permanecer (não estão; homicídio nem sequer é investigado no
Brasil). Com a superlotação, a única coisa que o Legislativo fez foi manter na
prisão quem não deveria ali estar, aumentando o alunato da escola do crime.
Não foi apenas o governo Lula que
perdeu no Congresso nesta semana, embora sua incompetência em articulação
política e, em parte, a conivência com os retrocessos precisem ser estudadas. O
Executivo deu aval para
que o projeto de decreto legislativo que permite escolas próximas de clubes de
tiro fosse direto para o plenário; mesmo contra, o projeto passou. E não se
empenhou em criminalizar a "comunicação enganosa em massa";
bolsonaristas se aliaram ao centrão e o veto permaneceu.
No Congresso, quem perdeu foi o país. O
cenário pós-Presidência bolsonarista congrega um Executivo menor, sem os mesmos
meios do presidencialismo de coalizão de outrora, e um Legislativo sem partidos
de centro-direita sólidos o suficiente para servirem de poder moderador frente
aos bolsonaristas e alucinados da bala. O que resta é um Parlamento que livra
da cadeia quem pensa que o sexo da Madonna causou as chuvas no Rio Grande do
Sul, quem quer criança estudando do lado de clube de tiro e quem quer fortalecer
o PCC com mais gente presa no país.
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