O Globo
É fundamental que existam sindicatos fortes
para a defesa dos interesses dos trabalhadores num governo democrático
As mudanças no mundo do trabalho mostram um
futuro cheio de desafios inéditos. Eles surgem no bojo da inteligência
artificial e das tecnologias que emergem a todo instante, além das estratégias
de negócios que comportam a terceirização sem limites. Tudo isso ampliado pela
crise ambiental devastadora. A velocidade crescente das transformações exige
que o movimento sindical promova estudos e estratégias para encará-las.
Vencer esses desafios é essencial para garantir a representatividade da classe trabalhadora. É fundamental que existam sindicatos fortes para a defesa dos interesses dos trabalhadores dentro de um governo democrático. Os sindicatos, historicamente, estão no nascedouro da democracia moderna. Vale lembrar que as democracias têm sido duramente atacadas pela ultradireita, pelo fascismo e pelo neoliberalismo, que difundem o ódio e o individualismo exacerbado.
A palavra “sindicato” está desgastada,
obviamente, mas ainda é a que define melhor a representatividade dos
trabalhadores. O sindicalismo forma o maior movimento democrático do mundo,
presente desde o local de trabalho, nas negociações coletivas, na participação
institucional e na vida pública dos países.
No Brasil, a reforma sindical feita em 2017 —
no governo Temer, sem ouvir os trabalhadores — levou à desfiguração profunda da
CLT, com grande intenção de sufocar o movimento sindical. A CLT tinha de ser
mudada, mas não da forma como foi.
Defendemos que a reestruturação aconteça
baseada em três pilares. O primeiro pilar é uma repactuação da desfiguração de
2017. Não queremos a revogação dessa lei, mas repactuar alguns tópicos, como as
regras para o trabalho intermitente. O segundo é a autorregulamentação dos
sindicatos. É preciso ter eleições transparentes, democráticas e prestação de
contas para que todos saibam o que o sindicato faz com o dinheiro. E o terceiro
pilar é definir a forma de custeio do movimento sindical para que as entidades mantenham
suas atividades em defesa do trabalhador. Afinal, as convenções coletivas
negociadas pelos sindicatos conquistam benefícios que valem para todos os
trabalhadores. Se todo mundo recebe, todo mundo tem de contribuir.
Temos a necessidade de um movimento sindical
fortalecido para combater uma série de adversidades, como informalidade,
trabalho análogo à escravidão, desigualdade, para transição para uma economia
verde e qualificação profissional para atender às necessidades trazidas pela
tecnologia.
Esses desafios que se apresentam ao movimento
sindical brasileiro exigem participação ativa dos trabalhadores na nova
estrutura que se desenha. Os sindicatos precisam se dedicar a essa
reorganização, buscando alternativas efetivas para o crescimento da participação
de todos. O mundo mudou, e precisamos estar preparados, construindo um novo
modelo sindical a várias mãos. Com esse engajamento, nos tornaremos um país
grande não só em território, mas também em cidadania.
*Ricardo Patah, formado em administração e
Direito, é presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores
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