Folha de S. Paulo
Ex-presidente usa eleições municipais para
salvar a própria pele
Bolsonaro preferiu engolir a pílula, e a seco. Para não
destruir sua própria invenção como candidato a prefeito do Rio, dobrou a aposta
em Alexandre Ramagem. No entanto, não conseguiu desfazer o clima
de desconfiança e traição.
Bolsonaro sabia ou não do áudio em que trama a blindagem do filho 01 no caso das
"rachadinhas"? Ramagem o gravou às escondidas? E por que guardou a
gravação em seu computador particular? Há outras, como suspeita a PF? Depois
que a reunião secreta se tornou pública, o ex-chefe da Abin afirmou que não agiu de forma clandestina e teve o
aval do ex-presidente. Por que então, no primeiro momento, aliados do capitão
disseram que ele ficou "furioso", cogitando uma troca de seis por
meia dúzia, com o general Pazuello no lugar de Ramagem na disputa à
prefeitura?
Para evitar um estrago maior, a campanha de Ramagem, que patina nas intenções de voto, ganhou
uma sobrevida, com a utilização de velha tática. Como fez em outras situações
de crise por causa de investigações que o atingem, Bolsonaro partiu para
demonstrar força nas ruas —uma força imaginária, pois os atos não têm atraído
grandes plateias.
Ao lado do delegado, numa imagem que lembra o abraço de urso, o capitão garante
que, assim como ele, seu escolhido é alvo de perseguição —palavra que entrou e
não mais saiu do dicionário bolsonarista. A candidatura de Ramagem, ou de qualquer outro, é só mais uma
peça no jogo. Bolsonaro está pouco ligando para o Rio. Quer salvar a pele e, se
faturar um lance por baixo dos panos, candidatar-se em 2026.
No canto oposto está Eduardo Paes,
com desenvoltura para "derrotar" até o PT. O indicado a vice na chapa
da reeleição deverá ser o deputado Pedro Paulo. O partido de Lula terá de
contentar-se com cargos, em caso de vitória, e apoio na eleição ao Senado.
Deixando a prefeitura para tentar o governo do estado, Paes contará com a
máquina pública.
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